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Igreja Ortodoxa oficial da Ucrânia desliga-se de Moscovo

15 dez, 2018 - 18:45 • Ângela Roque , com agências.

A decisão foi anunciada pelo próprio presidente ucraniano, que diz que este é “um dia histórico”, o dia da “efetiva independência da Rússia”.

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O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, anunciou este sábado a criação oficial de uma Igreja Ortodoxa Ucraniana independente da tutela russa, pondo fim a uma ligação centenária.

“Este dia sagrado ficará na história como o dia da criação oficial de uma Igreja autónoma, independente e unida na Ucrânia, o dia da nossa efetiva independência da Rússia”, afirmou Poroshenko em Kiev, onde os bispos ortodoxos se reuniram num designado ‘Concílio de Unificação’, e escolheram para líder da Igreja Ortodoxa Ucraniana o Metropolita Epifaniy, de 39 anos, do Patriarcado de Kiev.

Até agora existiam três Igrejas ortodoxas na Ucrânia: uma dependente de Moscovo, maioritária, uma segunda do Patriarcado de Kiev, e a última, minoritária, que se tornou independente da Rússia em 1920, e se autoproclamou Igreja Autocéfala Ortodoxa da Ucrânia. No sínodo deste sábado participaram essencialmente membros do Patriarcado de Kiev e da Igreja Autocéfala, que reclamavam a separação efetiva de Moscovo.

Como se organiza o mundo ortodoxo

As Igrejas ortodoxas funcionam segundo o princípio de autocefalia. Cada Igreja, que normalmente coincide com um Estado ou uma nação, governa-se a si mesma, mas os seus patriarcas, ou líderes, estão em comunhão uns com os outros. No seu conjunto, a comunhão ortodoxa é a segunda maior comunidade cristã do mundo, depois da Igreja Católica.

Quando uma comunidade local atinge uma dimensão aceitável, pode pedir ao Patriarca de Constantinopla, que detém uma primazia de honra entre os restantes patriarcas ortodoxos, que lhe conceda “autocefalia”. Era isso que os alguns fiéis ortodoxos na Ucrânia pediam há vários anos, sobretudo desde que acabou a União Soviética, e o país se tornou formalmente independente.

A tensão, que politicamente se agravou desde 2014, por causa da crise na Crimeia, foi subindo de tom até que, em outubro deste ano, o Patriarcado de Moscovo cortou oficialmente as suas relações com o Patriarcado de Constantinopla, depois deste ter dado sinais de que estaria prestes a conceder “autocefalia” a uma igreja ucraniana, que resultaria da fusão das duas autónomas que já existiam (Patriarcado de Kiev e Igreja Autocéfala Ortodoxa da Ucrânia).

A insatisfação com o que estava a acontecer tinha já sido sublinhada em entrevista à Renascença pelo metropolita Hilarion, responsável pelas relações externas do Patriarcado de Moscovo, quando visitou Portugal em Setembro. “Rompemos as nossas relações com Constantinopla e já não comemoramos o seu Patriarca nas nossas liturgias”, afirmou na altura, considerando que esta decisão, que hoje acabou por ser formalizada, “só pode piorar a crise”.

“Não trará nem reconciliação, nem unidade. Pelo contrário, trará mais cismas e, pode-se ter a certeza, o Patriarcado de Moscovo não reconhecerá esta autocefalia, a Igreja Ortodoxa da Ucrânia, canónica, também não, por isso será uma divisão no corpo da Igreja Ortodoxa, não só na Ucrânia, mas universal”, afirmou.

Comentários
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  • João MV
    17 dez, 2018 L 09:47
    Uma decisão histórica com consequências que vão influenciar, naquela região, a vida de milhões de pessoas.

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