26 fev, 2018 - 17:53
As três principais confissões cristãs na Terra Santa denunciam a perseguição de que dizem ser alvo por parte do Estado de Israel e vão manter fechada a Igreja do Santo Sepulcro por tempo indeterminado.
Numa declaração conjunta o Patriarca Nourhan Manougian, da Igreja Arménia, o Patriarca Teófilo III da Igreja Ortodoxa Grega e o padre Francesco Patton, dos franciscanos, que gerem os lugares de culto da Terra Santa em nome da Igreja Católica, chegam mesmo ao ponto de comparar os ataques de Israel à perseguição aos judeus na Alemanha nazi.
Em causa está a exigência por parte da Câmara de Jerusalém de que as igrejas paguem impostos municipais e uma proposta de lei, em discussão no Conselho de Ministros, que permitiria a nacionalização de terrenos que pertencem à igreja.
As discussões entre o Estado de Israel e as Igrejas arrastam-se há muitos anos e obedecem a um ritmo de altos e baixos, embora exista sempre tensão no ar. As relações entre as igrejas na Terra Santa e as autoridades são reguladas por um acordo conhecido como o Status Quo que data do tempo em que o território era controlado pelo Império Otomano. O acordo manteve-se intacto quando Israel nasceu e alargou o seu território ao longo das últimas décadas.
Ocasionalmente o Estado volta à carga, congelando contas das igrejas por alegadas dívidas fiscais, ou negando vistos de entrada a sacerdotes que procuram entrar em Israel.
Agora está a acontecer o mesmo, mas num nível sem precedentes, segundo os líderes cristãos, que lamentam “a escandalosa coleção de notificações e penhoras de propriedades, recursos e contas bancárias de Igrejas, por alegadas dívidas de impostos municipais punitivos”, que consideram ser “uma tentativa de enfraquecer a presença cristã em Jerusalém”. A continuação desta política terá como maiores vítimas “as famílias pobres que terão de passar sem comida e sem abrigo, e cujos filhos não poderão ir à escola”.
A Igreja reivindica a isenção de impostos, ao abrigo do Status Quo, e dando como exemplo o trabalho que faz pelos pobres e ao nível da educação, no valor de “milhares de milhões”.
Mas a maior crítica dos cristãos vai para a proposta de lei que permitiria ao Estado expropriar as terras que pertencem às igrejas. Apesar de os cristãos serem uma minoria em Israel, as igrejas cristãs, incluindo a católica e as ortodoxas, detêm uma quantidade desproporcional de território na Terra Santa. A proposta de lei, cuja discussão acabou por ser adiada no domingo, “faz lembrar leis semelhantes que foram aplicadas contra os judeus durante períodos negros na Europa”, dizem.
Internamente, as relações entre as diferentes igrejas são muito complexas, sobretudo no Santo Sepulcro, onde a custódia é partilhada entre as diferentes confissões. Esse facto torna ainda mais surpreendente e grave a decisão conjunta de fechar as portas daquele que é considerado por muitos o local mais sagrado do Cristianismo, pois foi lá que o corpo de Jesus foi colocado depois de ter morrido e onde ressuscitou.
As relações têm melhorado nos últimos anos, mas a oposição a estas investidas do Estado de Israel permite agora às igrejas poder dizer que “estamos unidos, firmes e resolutos na defesa dos nossos direitos e da nossa propriedade”.