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Papa: nem eutanásia nem prolongamento obstinado da vida

16 nov, 2017 - 12:42 • Filipe d'Avillez

Progressos técnicos geram "tentação de insistir em tratamentos que têm efeitos potentes no corpo, mas nem sempre servem o bem integral da pessoa".

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O Papa Francisco criticou tanto a eutanásia, que considera “sempre errada”, como a distanásia, o prolongamento obstinado da vida através de terapias exageradas.

As críticas do Papa estão numa mensagem escrita dirigida ao arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, a propósito do Encontro Regional Europeu da Associação Médica Mundial, este ano dedicado às questões do fim de vida e realizado no Vaticano em conjunto com a Academia Pontifícia.

Francisco começa a sua mensagem precisamente por reconhecer que as inovações na área da medicina “tornaram possível eliminar muitas doenças, melhorar a saúde e prolongar a esperança de vida".

"Enquanto estes desenvolvimentos se têm revelado positivos", prossegue o Papa, "também se tornou possível hoje em dia prolongar a vida através de meios que no passado eram inimagináveis. As cirurgias e as outras intervenções médicas tornaram-se cada vez mais eficiente, mas nem sempre são benéficas: podem suster ou até substituir funções vitais que falham, mas isso não é o mesmo que promover a saúde.”

Nesta medida, “pede-se hoje mais sabedoria, por causa da tentação de insistir em tratamentos que têm efeitos potentes no corpo, mas nem sempre servem o bem integral da pessoa”.

O Papa recorda que a Igreja católica considera lícito interromper ou recusar tratamentos médicos em certas circunstâncias e que estas decisões reconhecem “os limites da nossa mortalidade, quando se torna evidente que é fútil opor-se a ela”, mas ressalva que, “do ponto de vista ético, é completamente diferente da eutanásia, que é sempre errada, na medida em que a intenção da eutanásia é causar a morte”.

Estas situações complexas não podem ser avaliadas apenas com base na aplicação mecânica de regras gerais, mas devem ser objecto de discernimento moral cuidadoso, sem esquecer que quem tem primazia de opinião é sempre o doente, o que tende a ficar esquecido num tempo em que “a relação entre médico e doente se tornou cada vez mais fragmentada e os cuidados médicos envolvem um sem número de aspectos tecnológicos ou organizacionais”.

Nunca abandonar os doentes

Francisco chama ainda atenção para a crescente disparidade entre países ricos e pobres no acesso aos cuidados médicos, mas sublinha que mesmo em alguns países desenvolvidos este acesso corre o risco de depender mais dos recursos económicos dos indivíduos, do que da necessidade de tratamentos.

O Papa sugere que todos os envolvidos na área da saúde, desde familiares a profissionais, tenham como imperativo categórico o princípio da “proximidade responsável” de nunca abandonar os doentes.

“A angústia associada às condições que nos colocam no limiar da mortalidade humana, e a dificuldade da decisão que temos de tomar, podem tentar-nos a recuar do doente. Mas é aqui, mais do que qualquer outra coisa, que somos chamados a mostrar amor e proximidade, reconhecendo os limites que todos partilhamos e mostrando solidariedade. Que cada um de nós ame à sua maneira – como pai, mãe, filho, filha, irmão ou irmã, médico ou enfermeira. Mas ame!”

O encontro que decorre no Vaticano começa esta quinta-feira e termina na sexta.

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