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“Não tenham medo do peso do dia-a-dia”, pediu o Papa aos religiosos egípcios

29 abr, 2017 - 14:48 • Aura Miguel , no Cairo

Francisco agradeceu o testemunho dado por clero e consagrados e lembrou que sem Cruz não há ressurreição.

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“Não tenham medo do peso do dia-a-dia”, pediu o Papa aos religiosos egípcios

“Não tenham medo do peso do dia-a-dia, do peso das circunstâncias difíceis que alguns de vós têm de atravessar”, pediu o Papa aos religiosos egípcios, este domingo.

Lembrando que “nós veneramos a Santa Cruz, instrumento e sinal da nossa salvação”, Francisco afirmou que “quem escapa da Cruz, escapa da Ressurreição” – um apelo feito no último discurso no Egipto, cuja visita termina esta tarde e teve uma duração de pouco mais de 24 horas.

No encontro com o clero, religiosos, religiosas e seminaristas, que decorreu no seminário Al-Maadi, no Cairo, o Papa começou por lhes agradecer o testemunho que têm dado no meio de muitos desafios e poucas consolações.

“No meio de muitos motivos de desânimo e por entre tantos profetas de destruição e condenação, no meio de numerosas vozes negativas e desesperadas, sede uma força positiva, sede luz e sal desta sociedade; sede a locomotiva que faz o comboio avançar para a meta; sede semeadores de esperança, construtores de pontes, obreiros de diálogo e de concórdia. Isto é possível se a pessoa consagrada não ceder às tentações que todos os dias encontra no seu caminho”, afirmou o Papa.

Francisco enumerou depois sete tentações. A primeira é a de “deixar-se arrastar e não guiar”. O bom pastor, disse Francisco, tem o dever de guiar o rebanho e não pode deixar-se arrastar pelo desânimo e o pessimismo.

“A nossa fidelidade ao Senhor nunca deve depender da gratidão humana”, avisou o Papa, que criticou aqueles que se lamentam continuamente, a segunda tentação.

“A pessoa consagrada é alguém que, pela unção do Espírito, transforma cada obstáculo em oportunidade, e não cada dificuldade em desculpa! Na realidade, quem se lamenta sempre é uma pessoa que não quer trabalhar”, disse Francisco perante os consagrados reunidos ao ar livre.

A terceira tentação é a crítica e a inveja. É um “perigo sério” quando os consagrados, em vez de ajudarem os outros e seguirem os bons exemplos, ferem os outros com críticas. A inveja “é um cancro que arruína qualquer corpo em pouco tempo”, avisou Francisco, lembrando que foi pela inveja que que o diabo e a morte entraram no mundo e a crítica é o sua arma.

Depois, a tentação de se comparar com os outros. “A riqueza reside na diferença e na unicidade de cada um de nós. Comparar-nos com aqueles que estão melhor, leva-nos frequentemente a cair no rancor; comparar-nos com aqueles que estão pior, leva-nos muitas vezes a cair na soberba e na preguiça. Quem tende sempre a comparar-se com os outros, acaba por se paralisar”, afirmou o Papa.

E na terra dos faraós, a quinta tentação elencada pelo líder dos católicos foi o “faraonismo”, que Francisco definiu como um endurecimento de coração, a tentação de se sentir acima de outros, um veneno que tem na humildade o seu antídoto.

A sexta é a tentação do individualismo. E, também aqui, Francisco quis dar um toque local, lembrando o provérbio egípcio: “Eu e, depois de mim, o dilúvio”. Esta é, disse, a “tentação dos egoístas que, ao caminhar, perdem a noção do objectivo e, em vez de pensar nos outros, pensam em si mesmos, sem sentir qualquer vergonha; antes, justificando-se”.

Mas, contrapôs o Papa, “a Igreja é a comunidade dos fiéis, o corpo de Cristo, onde a salvação de um membro está ligada à santidade de todos”.

Por fim, a sétima tentação apresentada por Francisco aos consagrados é o perigo de caminhar sem bússola nem objectivo. “A pessoa consagrada perde a sua identidade e começa a ‘não ser carne nem peixe’. Vive com o coração dividido entre Deus e a mundanidade. Esquece o seu primeiro amor. Na realidade, sem uma identidade clara e sólida, a pessoa consagrada caminha sem direcção e, em vez de guiar os outros, dispersa-os”, descreveu Francisco, pedido aos consagrados que mantenham a sua identidade de filhos da Igreja, radicados nas raízes nobres e antigas.

“Queridos consagrados, não é fácil resistir a estas tentações, mas é possível se estivermos enxertados em Jesus. Quanto mais enraizados estivermos em Cristo, tanto mais vivos e fecundos seremos. Só assim pode a pessoa consagrada conservar a capacidade de maravilhar-se, a paixão do primeiro encontro, o fascínio e a gratidão na sua vida com Deus e na sua missão. Da qualidade da nossa vida espiritual depende a da nossa consagração”, concluiu o Papa.

Francisco lembrou ainda o grande contributo do Egipto para esse “tesouro inestimável” da Igreja que é “a vida monástica”.

O encontro com os consagrados foi o último ponto da agenda da visita do Papa Francisco ao Cairo. Este sábado à tarde regressa a Roma.


A Renascença com o Papa Francisco no Egipto. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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