25 mar, 2017 - 10:03 • Ana Carrilho
A cerca de mês e meio da vinda do Papa Francisco a Fátima para as celebrações do Centenário das Aparições, o vice-presidente da Associação Empresarial de Ourém (ACISO) afirma que o impacto para a cidade não será imediato. Mas destaca o regresso das elites nacionais ao santuário e ao turismo religioso. Um grupo que exige qualidade na oferta.
Em entrevista à Renascença, Alexandre Marto argumenta que Fátima tem uma capacidade hoteleira limitada, na ordem das 7500 camas. “Venham 50, 100 ou 500 mil peregrinos, o alojamento não cresce. Os restaurantes vão servir mais refeições mas há um limite”, assegura.
O impacto económico do 13 de Maio, ao nível da hotelaria, sentir-se-á mais na região envolvente já que muitos hotéis da Batalha, de Alcobaça, de Leiria, de Coimbra ou até de Lisboa e do Porto vão receber peregrinos.
O vice-presidente da ACISO, que também coordenou a organização do V Workshop Internacional de Turismo Religioso, que decorreu recentemente em Fátima, defende que é sobretudo uma oportunidade para se re-apresentar Fátima.
Alexandre Marto sublinha que a 12 e 13 de Maio os olhos do Mundo vão estar em Portugal e em Fátima. “Os jornalistas vão escrutinar tudo, da qualidade hoteleira à segurança, às infra-estruturas, à forma como é feito o acolhimento do Papa Francisco. E isso é uma grande responsabilidade para todos no país: governo, região, município, população, todos.”
Hotéis mais caros mas não como se diz
A vinda de Francisco às celebrações do Centenário das Aparições fez disparar a procura e o preço dos hotéis, pelo menos de alguns, gerando polémica.
Alexandre Marto frisa que esta já é uma época alta e os alojamentos turísticos estão sempre esgotados. Mas sublinha que essa data é negociada com os operadores internacionais com mais de um ano de antecedência.
“Por exemplo, agora estamos a negociar Maio de 2018”. O vice-presidente da ACISO e presidente do Grupo Fátima Hotéis (que agrega dez unidades) explica que os preços são negociados com base numa relação que existe com os clientes e que exigem esta data como contrapartida para a compra de outros dias ao longo do ano.
“Um operador de turismo religioso americano diz que compra o 12-13 de Maio. Mas imagine-se que calha a uma 2ª feira e ele compra todas as outras 2ªs feiras do ano, entre 25 e 30 quartos. Claro que exige a noite de 12-13 de maio”. O que existe é um conceito de circuito, com preços banais, em que o preço de Maio é diluído no resto.
No entanto, quando a data se aproxima, alguns hotéis têm sobras ou não negociaram com os operadores. E vendem os quartos ao preço que querem.
“Tínhamos há dias dois hotéis com preços que não fazem sentido mas diria que é uma oferta marginal”, afirma o empresário.
Alexandre Marto desabafa que se “o mesmo quarto fosse vendido em Lisboa ou no Algarve por 1500 euros, não seria alvo de uma leitura moral penalizadora. O que acontece é que estes quartos estão a ser vendidos em Fátima.”
Peregrinos que procuram “spa espiritual”
Alexandre Marto diz que Fátima não tem mais hotéis mas nos últimos anos assistiu-se a uma requalificação de várias unidades, nalguns casos profunda, o que aumentou ligeiramente o número de camas disponíveis.
“As elites portuguesas estão a voltara Fátima, já sem a leitura ideológica que foi feita nos anos 70-80. Isso é muito saudável. E também há uma procura de espiritualidade em resposta ao mundo de hoje, muito carregado de tecnologias, de tarefas, em que e extingue a possibilidade das pessoas pensarem”, diz Alexandre Marto.
O mesmo responsável diz que este grupo procura Fátima pela força que tem, mas igualmente porque o conceito de santuário permite uma vivência mais anónima. No entanto, desejam qualidade, quase um “spa espiritual”, já não querem ficar em unidades hoteleiras de baixa qualidade.
Por outro lado, há cada vez mais peregrinos que chegam de espaços extra -europeus e que para vir a Fátima pagam pequenas fortunas, às vezes, é “a viagem de uma vida”.
Alexandre Marto explica que uma pessoa que venha da Índia tem que pagar 1500 euros pela viagem e provavelmente quer um pacote de turismo religioso para toda a Europa. O vice-presidente da ACISO explica que quem na Índia pode comprar um circuito na ordem dos cinco mil euros não é a classe média. Trata-se uma elite católica, claro, mas que pode pagar uma viagem de peregrinação/turismo cultural à Europa.
O ano passado Fátima, cidade do concelho de Ourém, recebeu sete milhões de visitantes, número que este ano deverá ser largamente ultrapassado.