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“Papa deve dialogar com cardeais contestatários”, diz teólogo dominicano

03 fev, 2017 - 15:50 • Filipe d'Avillez

Timothy Radcliffe defende que a verdadeira questão em "Amoris Laetitia" tem a ver com consciência e não com mudanças de doutrina, mas reconhece que as dúvidas apresentadas por alguns cardeais são honestas e representam a opinião de muitos jovens.

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O teólogo dominicano Timothy Radcliffe diz que o Papa deve promover um diálogo com os quatro cardeais que lhe endereçaram uma lista de cinco perguntas, conhecidas como “dubia”, sobre a exortação apostólica "Amoris Laetitia".

Os cardeais em questão rejeitam qualquer interpretação da exortação que abra a possibilidade de pessoas em situação irregular, como, por exemplo, católicos divorciados e recasados pelo civil ou a viver em união de facto, serem admitidas aos sacramentos e dizem que, caso Francisco não lhes responda, poderão emitir uma “correcção” ao Papa.

Os cardeais em questão – Raymond Burke, Walter Brandmüller, Carlo Caffarra e Joachim Meisner – ainda não receberam qualquer resposta oficial – do Papa ou do prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, a quem as “dubia” também foram enviadas.

Questionado sobre se Francisco deve responder aos cardeais, Timothy Radcliffe, um autor com vários livros editados em Portugal pelas Paulinas, defende que é importante abrir um diálogo: “Penso que seria bom dialogar mais de perto com os quatro cardeais. É importante reconhecer que estão a ser sinceros. Eu discordo deles, a minha opinião é a do Papa, mas devemos aceitar que estão a expressar dúvidas sinceras, dúvidas sentidas até por muitos jovens. Penso que é importante dialogar com eles, caso eles estejam abertos a esse diálogo.”

Sobre o debate em si, Radcliffe considera que a "Amoris Laetitia", ao dizer que pode haver casos em que as pessoas se encontram em situações objectivamente pecaminosas sem, no entanto, estarem necessariamente em pecado mortal e, por isso, excluídos dos sacramentos, não está a mudar doutrina, mas a aprofundar o ensinamento da Igreja sobre a importância da consciência.

“Começando em Inglaterra, com o cardeal Newman, assistimos à evolução de uma compreensão muito mais profunda da consciência. A 'Amoris Laetitia' não é uma tentativa de dispensar as pessoas da doutrina. Na verdade, nada tem a ver com doutrina. Trata-se de tentar compreender melhor como é que as pessoas se aproximam de Deus.”

“Muito do que o Papa Francisco está a dizer não é desafiar o ensinamento da Igreja, é tentar chegar a outro nível, compreendendo a vida moral como um crescimento na maturidade, alegria e liberdade”, aponta.

As discussões sobre a "Amoris Laetitia" abriram brechas visíveis na Igreja. Radcliffe diz que as divisões não são necessariamente mais graves do que foram as verificadas nos anos 60 e 70, mas há uma diferença importante: “Nesses anos, vimos divisões profundas, um colapso de comunicação. O que é novo, agora, é que as divisões centram-se no próprio Papa. Isso é novo. E o Papa, agora, é visto como uma figura que está a ser alvo da oposição de pessoas que têm cargos de responsabilidade na Igreja.”

Uma das chaves para o diálogo, considera Radcliffe, é evitar simplismos, como o catalogar das pessoas como conservadores ou progressistas. “Eu rejeito esses termos. O lema da ordem dominicana é ‘Veritas’, que significa verdade. Eu espero que juntos procuremos a verdade. E, para procurar a verdade, temos de escutar a Palavra de Deus, temos de escutar o magistério, a tradição e também a nossa consciência. A aplicação de rótulos simplistas é uma forma de travar uma conversa para a qual todos podemos contribuir.”

Timothy Radcliffe esteve em Portugal no último fim-de-semana de Janeiro para dar duas conferências, em Lisboa.

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