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​Papa pede aos jovens que façam crescer uma nova humanidade

31 jul, 2016 - 11:36 • Aura Miguel , enviada a Cracóvia

Na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, Francisco disse que é preciso ter coragem para amar os inimigos e ser “mais forte do que o mal”.

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Aqui há discos rígidos, aplicações e SMS. Papa encerra JMJ a pedir "uma nova humanidade"
Aqui há discos rígidos, aplicações e SMS. Papa encerra JMJ a pedir "uma nova humanidade"

Com o olhar de Jesus Cristo, com alegria e com esperança os jovens podem fazer crescer uma “nova humanidade” mais fraterna e mais justa. Esta foi, em resumo, a mensagem que o Papa Francisco deixou aos jovens reunidos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que termina este domingo na Polónia.

No Campo da Misericórdia, nos arredores de Cracóvia, mais de um milhão de jovens participaram na missa de encerramento. Na homilia, Francisco pegou na história de Zaqueu, um cobrador de impostos que mudou de vida quando conheceu Jesus, e identificou os três obstáculos a esse encontro: a baixa estatura de Zaqueu, que teve de subir a uma árvore (um sicómoro) para ver Jesus, uma “vergonha paralisante” e a “multidão murmurante”, que, primeiro, o bloqueou e depois o criticou. Ao longo do seu discurso, Francisco como que actualizou esses obstáculos para a vida dos jovens de hoje.

Primeiro, a baixa estatura que identificou como o “risco de ficar à distância de Jesus, porque não nos sentimos à altura, porque temos uma baixa opinião de nós mesmos”. Esta é uma grande tentação, disse o Papa, que não tem a ver apenas com a auto-estima, mas toca também a fé que diz que os homens são filhos de Deus.

“Jesus assumiu a nossa humanidade, e o seu coração não se afastará jamais de nós; o Espírito Santo deseja habitar em nós; somos chamados à alegria eterna com Deus. Esta é a nossa «estatura», esta é a nossa identidade espiritual: somos os filhos amados de Deus, sempre”, afirmou Francisco, acrescentando muito directamente para os jovens: “Deus ama-nos assim como somos, e nenhum pecado, defeito ou erro Lhe fará mudar de ideia. Para Jesus – assim nos mostra o Evangelho –, ninguém é inferior e distante, ninguém é insignificante, mas todos somos predilectos e importantes: tu és importante! E Deus conta contigo por aquilo que és, não pelo que tens: a seus olhos, não vale mesmo nada a roupa que vestes ou o telemóvel que usas; não lhe importa se andas na moda ou não, importas-lhe tu.”

Não responder a Jesus com SMS

O Papa garantiu que Deus é fiel “mesmo obstinado” em amar o homem, que é mesmo o seu “maior adepto” e espera por cada um mesmo quando a tristeza parece instalar-se.

“Aguarda-nos sempre com esperança, mesmo quando nos fechamos nas nossas tristezas e dores, remoendo continuamente as injustiças recebidas e o passado. Mas, afeiçoar-nos à tristeza, não é digno da nossa estatura espiritual. Antes pelo contrário; é um vírus que infecta e bloqueia tudo, que fecha todas as portas, que nos impede de reiniciar a vida, de recomeçar. Deus, por seu lado, é obstinadamente esperançoso: acredita sempre que podemos levantar-nos e não Se resigna a ver-nos apagados e sem alegria. É triste ver um jovem sem alegria”, afirmou o Papa, que aconselhou os jovens a rezar todas as manhas dizendo: “Senhor, agradeço-te porque me amas; faz-me enamorar da minha vida. Não dos meus defeitos, que hão-de ser corrigidos, mas da vida, que é um grande dom.”

O segundo obstáculo, a vergonha paralisante. “Podemos imaginar o que se passou no coração de Zaqueu antes de subir àquele sicómoro: terá havido uma grande luta; por um lado, uma curiosidade boa, a de conhecer Jesus; por outro, o risco de fazer triste figura. Zaqueu era uma figura pública; sabia que, tentando subir à árvore, se faria ridículo aos olhos de todos: ele, um líder, um homem de poder. Mas superou a vergonha, porque a atracção de Jesus era mais forte”, explicou Francisco, actualizando a situação para os dias de hoje: “Aqui está também para nós o segredo da alegria: não apagar a boa curiosidade, mas colocar-se em jogo, porque a vida não se deve fechar numa gaveta. Perante Jesus, não se pode ficar sentado à espera de braços cruzados; a Ele que nos dá a vida, não se pode responder com um pensamento ou com um simples SMS.”

O Papa disse aos jovens que não se envergonhem de entregar tudo a Deus, em especial as fraquezas e os pecados, certos que, na confissão, serão surpreendidos pelo perdão e pela paz.

Contra a “multidão murmurante”

Por fim, a “multidão murmurante”, que, na história de Zaqueu, considerava que Jesus não devia entrar na casa de um pecador. “Naquele dia, a multidão julgou Zaqueu, mediu-o de alto a baixo; mas Jesus fez o contrário: levantou o olhar para ele. O olhar de Jesus ultrapassa os defeitos e vê a pessoa; não se detém no mal do passado, mas antevê o bem no futuro; não se resigna perante os fechamentos, mas procura o caminho da unidade e da comunhão; não se detém nas aparências, mas vê o coração”, explicou.

“Como é difícil acolher verdadeiramente Jesus! Como é árduo aceitar um Deus, rico em misericórdia”, exclamou Francisco que vê hoje essa multidão em todos aqueles que procuram fazer os jovens crer num Deus rígido, distante e castigador.

“O nosso Pai faz nascer o seu Sol se levante sobre os bons e os maus» e convida-nos a uma verdadeira coragem: ser mais fortes do que o mal amando a todos, incluindo os inimigos. Podem considerar-vos sonhadores, porque acreditais numa nova humanidade, que não aceita o ódio entre os povos, não vê as fronteiras dos países como barreiras que têm de ser guardas e preserva as suas próprias tradições, sem egoísmos nem ressentimentos. Não desanimem! Com o vosso sorriso e os vossos braços … com os vossos braços abertos, pregais esperança e sois uma bênção para a única família humana, que aqui tão bem representais”, apelou o Papa, pedindo também aos jovens para que não se detenham nas aparências, nem esperem louvores, mas lutem pacificamente pela honestidade e a justiça.

A terminar, o Papa pediu à multidão que leve o que viveu nestes dias para casa. “ O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou em belas recordações, mas deseja ir a tua casa, habitar a tua vida de cada dia: o estudo e os primeiros anos de trabalho, as amizades e os afectos, os projectos e os sonhos. Como Lhe agrada que tudo isto seja levado a Ele na oração! Como espera que, entre todos os contactos e os chat de cada dia, esteja em primeiro lugar o fio de ouro da oração! Como deseja que a sua Palavra fale a cada uma das tuas jornadas, que o seu Evangelho se torne teu e seja o teu ‘navegador’ nas estradas da vida”, afirmou Francisco, pedindo também aos jovens que guardem como um tesouro a memória destes dias vividos na Polónia.

“Confiem na recordação de Deus: a sua memória não é um disco rígido que grava e armazena todos os nossos dados, mas um coração terno e rico de compaixão, que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios de mal. Tentemos, também nós agora, imitar a memória fiel de Deus e guardar o bem que recebemos nestes dias”, concluiu o Papa que, no fim da missa, na oração do Angelus, anunciou que a próxima Jornada Mundial da Juventude vai ter lugar no Panamá, em 2019.

A Renascença com o Papa Francisco na Polónia. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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