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A família é a primeira escola e não pode delegar a educação, diz o Papa

08 abr, 2016 - 10:39 • Filipe d'Avillez

No capítulo da exortação apostólica que tem um cunho mais pessoal, Francisco defende a liberdade de ensino das escolas católicas e critica a rigidez dos estereótipos masculinos e femininos.

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A família é a primeira escola das crianças. É nela que os mais novos aprendem a liberdade, a socialização e até a catequese, diz Francisco, na exortação apostólica pós-sinodal “Amoris Laetitia” ("A Alegria no Amor"), divulgada esta sexta-feira

Lendo o documento todo não se pode deixar de reparar que este capítulo, dedicado à educação, é o que tem menos citações e menos referências aos relatórios finais dos dois sínodos sobre a família. Torna-se por isso evidente que estamos perante o capítulo com um cunho muito mais pessoal do próprio Papa, o que traduz a importância que Francisco atribui ao tema.

São muitos os aspectos da educação que o Papa aborda, mas a primeira coisa que realça é que a formação dos filhos cabe em primeiro lugar às famílias. Nem estas a devem delegar noutros, nem o Estado, por exemplo, tem o direito a assumir essa responsabilidade.

A família, escreve o Papa, “precisa de considerar a que realidade quer expor os seus filhos. Para isso não deve deixar de se interrogar sobre quem se ocupa de lhes oferecer diversão e entretenimento, quem entra nas suas casas através dos ecrãs, a quem os entrega para que os guie nos seus tempos livres”.

Esta preocupação, contudo, não deve transformar-se em obsessão que “não é educativa”.

“A grande questão não é onde está fisicamente o filho, com quem está neste momento, mas onde se encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objectivos, dos seus desejos, do seu projecto de vida”, diz Francisco.

A educação deve ser firme, mas sem exageros. “Um testemunho de que os filhos precisam da parte dos pais, é que estes não se deixem levar pela ira. O filho, que comete uma má acção, deve ser corrigido, mas nunca como um inimigo ou como alguém sobre quem se descarrega a própria agressividade”.

O Papa explica neste capítulo que “a família é a primeira escola dos valores humanos, onde se aprende o bom uso da liberdade” e também “o âmbito da socialização primária, porque é o primeiro lugar onde se aprende a relacionar-se com o outro, a escutar, a partilhar, suportar, respeitar, conviver”.

Liberdade de ensino e educação sexual

Francisco faz neste texto uma firme defesa do direito da Igreja poder operar escolas e ensinar os alunos consoante os valores que defende. “As escolas católicas deveriam ser incentivadas na sua missão de ajudar os alunos a crescer como adultos maduros que podem ver o mundo através do olhar de amor de Jesus e compreender a vida como uma chamada para servir a Deus.”

Logo de seguida, o Papa fala da necessidade de uma educação sexual que seja verdadeira. “É difícil pensar na educação sexual num tempo em que se tende a banalizar e empobrecer a sexualidade. Só se poderia entender no contexto de uma educação para o amor, para a doação mútua; assim, a linguagem da sexualidade não acabaria tristemente empobrecida, mas esclarecida”.

Esta educação sexual não deve ser apenas técnica ou higiénica, mas tender para um "pudor" que o Papa considera saudável.“Sem o pudor, podemos reduzir o afecto e a sexualidade a obsessões que nos concentram apenas nos órgãos genitais, em morbosidades que deformam a nossa capacidade de amar e em várias formas de violência sexual que nos levam a ser tratados de forma desumana ou a prejudicar os outros.”

Ainda no campo da educação, Francisco alerta para a pobreza de visões demasiado rígidas da masculinidade e feminidade. O Papa insiste que “é possível, por exemplo, que o modo de ser masculino do marido possa adaptar-se de maneira flexível à condição laboral da esposa; o facto de assumir tarefas domésticas ou alguns aspectos da criação dos filhos não o torna menos masculino nem significa um falhanço, uma capitulação ou uma vergonha”.

A exortação apostólica “A Alegria do Amor” tem mais de 250 páginas e divide-se em nove capítulos que pretendem abarcar os principais desafios que se colocam à família nos tempos modernos, incluindo a espiritualidade conjugal, a importância da educação dos filhos e dois capítulos mais profundos e catequéticos sobre o amor conjugal. A questão do acesso aos sacramentos por parte de divorciados recasados é abordada no capítulo oitavo. Embora tenha data de 19 de Março, dia de São José, o texto só foi tornado público esta sexta-feira, dia 8 de Abril.

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  • António Costa
    11 abr, 2016 Cacém 14:27
    Obrigado, Papa.

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