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Dez momentos (mais um) que ligam o Papa Francisco a Portugal e aos portugueses

11 set, 2015 - 20:16 • Maria João Cunha com Aura Miguel

Uma pintora, uma criança, um doente e um português, que é um espanhol “mal falado”. No seu pontificado, o Papa já se “cruzou” com Portugal várias vezes. Francisco deu uma entrevista à Renascença, que será divulgada no dia 14.

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Disse que o português é uma espécie de “espanhol mal falado” e até julgou ser portuguesa a origem de uma marcha de carnaval brasileira. Francisco, o argentino, pode não saber tudo sobre o país que pretende visitar em 2017, mas em pouco mais de três anos de pontificado já protagonizou vários momentos de afecto que o deixaram mais próximo de Portugal e dos portugueses. 

Renascença seleccionou alguns dos momentos que ligam o Papa a Portugal e aos portugueses.


1. A pintora portuguesa baptizada pelo Papa 
Em Fevereiro de 2015 a Renascença contou a história de Helena Lobato, uma pintora de Almada que pensava não ter fé e que acabou por ser baptizada pelo Papa Francisco na basílica de São Pedro, no Vaticano. 

Helena conta à Renascença que, inspirada por uma reportagem sobre Francisco, escreveu uma carta ao Papa num momento mais difícil da sua vida. Foi surpreendida por uma resposta com um desafio. A 4 de Abril, sábado santo, a pintora recebeu o sacramento do baptismo pelas mãos do próprio Francisco, a quem ofereceu um quadro pintado por si.

Helena pensava que não tinha fé. Papa vai baptizar pintora portuguesa
Helena pensava que não tinha fé. Papa vai baptizar pintora portuguesa

2. José Maria, a primeira criança que Francisco pegou ao colo em público
Gestos como este haviam de se tornar recorrentes e fazer parte de todo o percurso do Papa. Mas numa altura em que o mundo começava ainda a descobrir Francisco, a fotografia foi tomada como icónica – e correu mundo. 

Na missa de inauguração do pontificado, a 19 de Março de 2013, o papamóvel dá a primeira volta à Praça de São Pedro com o seu novo ocupante. Pela primeira vez no pontificado, Francisco pega numa criança para a beijar. A honra coube a José Maria, um menino de um ano, filho de pai português e mãe argentina, que a Renascença entrevistou, e que é também o descendente mais novo daquela que pode vir a tornar-se a primeira santa da Argentina. 

José Maria, o menino que encantou Francisco
José Maria, o menino que encantou Francisco

3. O dia em que ligou para uma doente num hospital português
Francisco demonstra grande agilidade para os contactos telefónicos e faz questão de continuar a falar de viv voz com quem lhe pede ajuda ou com quem quer interpelar – um hábito que adquiriu enquato padre em Buenos Aires e que não quis perder.

Foi assim logo depois da eleição, momento em que fez vários telefonemas (a Bento XVI, para a recepção da casa onde estava hospedado), e foi assim quando a chamada exigiu a marcação do indicativo “+351”. 


Em Janeiro de 2015, Francisco telefonou para o Hospital de Santo André, em Leiria, para confortar uma paciente argentina aí internada com cancro em fase avançada. Curiosamente, teve de fazer a marcação duas vezes até ser atendido pela mulher, massagista terapeuta que vivia em Portugal há 17 anos, e de cuja situação teve conhecimento através de amigas da doente e de um jornalista em Roma. 

Stella Maris Kriger havia de morrer nove dias depois de receber a bênção e o conforto do Papa. 

4. Quando lembrou que o português é um espanhol mal falado
Ao cabo de três anos de pontificado, já não restam dúvidas quanto ao sentido de humor do Papa Francisco. Aliás, o factor surpresa de ter um Papa a fazer piadas já praticamente se terá convertido em hábito. 

Porventura vindos de outras paragens, alguns gracejos podiam até dar azo a polémicas ou interpretações pior calibradas. Mas falamos de Francisco. Assim, não provocou grande celeuma por cá, nem tampouco deu muito nas vistas, uma certa observação sobre a velhinha (de 800 anos) Língua Portuguesa. 

Num encontro no Vaticano, três meses depois da eleição, o Papa terá dito a Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia: "Na minha terra diz-se que o português é um espanhol mal falado". Entenda-se: para os argentinos, o português (o mesmo que os brasileiros falam) é, na raiz, uma corruptela do castelhano. 

Mas ter-se-ão entendido bem os dois, porque conversaram 15 minutos sem recurso a tradutores, sobre crise ecómica, direitos humanos, integração europeia ou protecção das minorias religiosas.

5. Quando pediu para rezar a Avé Maria em português
Foi numa das semanais audiências gerais, na praça de São Pedro. Era um 13 de Maio. Francisco saudou os peregrinos de Língua Portuguesa, como é comum quando o Papa é informado da presença de grupos de peregrinos de várias nacionalidades. 

Perante a imagem de Nossa Senhora de Fátima, o Papa convidou os fiéis a “multiplicar os gestos de veneração e imitação da Mãe” e pediu “ao irmão português” que recitasse uma Avé Maria. Algo que depois fez também em silêncio. 

Ainda antes do último aniversário das aparições de Fátima, o Papa terá confirmado que é sua intenção visitar Portugal no centenário de 2017.

6. Quando cantou uma música brasileira a pensar que era portuguesa
A história conta-se nos corredores e é daquelas que ficaram depois da eleição. Na altura, quando o cardeal Bergoglio passou a ser o Papa Francisco e começou a trocar as voltas ao protocolo do Vaticano, sobraram os pequenos episódios, caricatos, que quem vive na casa de Santa Marta ainda conta. 

Para ilustrar o sentido de humor de Francisco, depois de uma entrevista no estúdio da Renascença na Aula Paulo VI, no Vaticano, um monsenhor brasileiro que trabalha na secção de Língua Portuguesa conta o episódio à vaticanista da Renascença, Aura Miguel. 

Quando se cruza pela primeira vez com o monsenhor Ferreira da Costa, o português que trabalha na mesma secção da secretaria de Estado do Vaticano (normalmente o que lê as mensagens em português nas audiências gerais), o Papa interpela-o: “Ah! Você é português? Então com certeza conhece aquela canção ‘Você pensa que cachaça é água…’” E cantarolou. 

O português terá ficado sem resposta (e sem jeito) e o brasileiro viu-se impelido a intervir. Em auxílio do colega esclareceu o Papa que a música é brasileira, o que provocou uma gargalhada geral. A música é uma marchinha de Carnaval composta no estado do Paraná nos anos 50. E o Papa Francisco havia de voltar a fazer uma graça com a bebida de que fala a música no mesmo Brasil, na viagem de 2013.

7. O telegrama “aéreo” a Cavaco Silva e aos portugueses
É protocolar e acontece de cada vez que um voo papal sobrevoa outros territórios. Na última viagem pastoral, que levou Francisco à América Latina, o Papa enviou um telegrama ao rei de Espanha e aos presidentes de Itália, Venezuela e Colômbia. Uma missiva chegou igualmente a Belém, por estar Portugal também na rota deste voo. 

O Vaticano divulgou o conteúdo do telegrama que tinha Aníbal Cavaco Silva como destinatário e que continha votos que se estendem a todos os portugueses. 

 “Ao sobrevoar Portugal numa visita pastoral que me leva ao Equador, Bolívia e Paraguai, tenho o prazer de saudar Vossa Excelência formulando cordiais votos para sua pessoa e inteira Nação sobre a qual invoco benevolência divina para que seja consolidada nela a esperança e alegria de viver na harmonia e bem-estar de todos seus filhos. Francisco PP”

8. O dia em que fez o primeiro cardeal português
A 14 de Fevereiro de 2015, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco cria o cardeal D. Manuel Clemente e Lisboa volta a ter um patriarca menos de um ano depois do falecimento de D. José Policarpo, que ainda participa na eleição de Bergoglio. 

O bispo de Lisboa é o segundo entre 20 novos cardeais a receber os símbolos do cardinalato das mãos do Papa Francisco. D. Manuel, que a Renascença acompanhouantes e depois da cerimónia,  há-de voltar o foco para Francisco. 

“Temos no rosto, na figura, nas palavras do Papa Francisco, um sinal muito belo, muito convincente de como Cristo-pastor continua presente na sua Igreja", disse Clemente, na altura

D. Manuel Clemente recebe símbolos do cardinalato
D. Manuel Clemente recebe símbolos do cardinalato

9. O dia em que pediu ao novo bispo para ser missionário em Setúbal
A notícia chegou no Verão: Há um novo bispo português e vai para a diocese de Setúbal

A nomeação de D. José Ornelas surgia depois de D. Gilberto Reis, anterior bispo da diocese, ter renunciado por motivos de idade. Ora, o novo bispo acabaria por revelar em carta pública que tudo aconteceu com um encontro pessoal e perante um “pedido” de Francisco que impressionaram o prelado português. 

"O Papa Francisco, que tive ocasião de encontrar pessoalmente, mudou estes planos [ir em missão para África]. Quando me deu a alegria de encontrá-lo, disse-me: 'Não te imponho, mas peço-te que vás como bispo para Setúbal… mas irás como missionário… a Europa tem necessidade de redescobrir a sua dimensão missionária'. E aqui estou". 

10. Quando confirmou que queria vir a Fátima para o centenário das aparições
D. António Marto levava o convite como principal ponto da agenda do encontro entre ambos, no Vaticano, em Abril. O Papa terá respondido de imediato: “tenho a vontade de ir à celebração do centenário, assim Deus me dê saúde e vida. Depende disso”. 

Foi a primeira vez que Francisco confirmou a intenção explícita de visitar Fátima e também a primeira vez que recebeu um bispo português em audiência privada. 

Para o bispo de Leiria-Fátima foi “um momento de particular alegria”, em que os olhos Francisco “brilharam”, com “um sorriso largo”, perante “uma oferta monetária do Santuário de Fátima destinada às ações de ajuda aos pobres do Santo Padre”.O encontro terminou com o envio de “uma bênção particular para Portugal”.

+1. O dia em que confirmou a primeira entrevista em exclusivo para Portugal
A história é contada pela vaticanista Aura Miguel. E tem muito de Papa Francisco.

Como a Renascença conseguiu entrevistar o Papa. Aura Miguel explica
Como a Renascença conseguiu entrevistar o Papa. Aura Miguel explica

Não é a primeira vez que um jornalista português entrevista o Papa – Henrique Cymerman, da SIC, já o tinha feito em 2014 – mas, na altura, a entrevista serviu vários órgãos de comunicação social de outros países. A entrevista à Renascença, a publicar na íntegra a 14 de Setembro, é a primeira que o Papa dá em exclusivo a Portugal e a uma rádio

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