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Papa queixa-se de jornalistas que descontextualizam as suas palavras

25 mai, 2015 - 13:17 • Filipe d' Avillez

Em entrevista a um jornal argentino, Francisco fala da profunda tristeza que sente por situações como o drama dos refugiados da Birmânia e dos cristãos no Iraque. A nível pessoal assume ser temerário, que tem de dormir a sesta e se mantém a par dos resultados do seu clube, o San Lorenzo, apesar de não ver televisão devido a uma promessa. Há um guarda suíço que o informa dos resultados.

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O Papa Francisco lamenta que alguns jornalistas deturpem as coisas que ele diz, confessando que se trata de um “inimigo” contra o qual ele nada pode fazer.

Em entrevista ao jornal “La Voz del Pueblo”, de Buenos Aires, na Argentina, afirmou que os meios de comunicação, por vezes, descontextualizam as palavras. “Há problemas que nos armam, com o que disse ou não disse”.

“O outro dia na paróquia de Ostia, perto de Roma, estava a cumprimentar as pessoas e tinham posto os idosos e os doentes num ginásio. Estavam sentados e eu passava e saudava-os. Então disse: ‘Que giro, aqui onde as crianças brincavam, estão os idosos e os doentes. Eu compreendo-vos porque também sou velho e também tenho os meus achaques, sou um bocadinho doente’. No dia seguinte saiu nos jornais: ‘O Papa confessou que está doente’. Contra este inimigo nada posso”.

Neste entrevista, publicada na íntegra no site do jornal, o Papa reconhece que muitas vezes corre riscos mas brinca dizendo que reza a Deus para que, se acontecer alguma coisa, pelo menos, não sinta dor. “Geralmente não tenho medo. Sou temerário, atiro-me sem medir as consequências”, afirma. “Quanto a atentados, estou nas mãos de Deus e nas minhas orações pedi-lhe: ‘Se tiver que ser, que seja, só peço uma coisa, que não doa”, afirmou, rindo-se.

“Nisso sou muito cobarde, não é que tenha medo de uma injecção, mas prefiro não ter problemas com a dor física, sou muito intolerante”, diz.

Noutra pergunta, o jornalista do “Voz del Pueblo” recorda as palavras do Papa em Manila, no Verão passado, sobre a importância de chorar e pergunta se ele o faz. Francisco confessa que fica muito emocionado com os dramas humanos.

“Como o outro dia ao ver o que acontece com os rohingya, que andam à deriva em barcos nas águas tailandesas e quando chegam perto de terra dão-lhes água e um pouco de comida e lançam-nos outra vez ao mar. Isso comove-me profundamente, esse tipo de dramas.”

As crianças doentes são outra coisa que entristece o Papa, bem como as visitas às cadeias. “Ninguém está seguro de que não venha a cometer um crime, uma coisa digna de encarceramento. Então eu pergunto porque é que Deus permitiu que eu não estivesse aqui e sinto dor eles e agradeço a Deus por não estar”, refere.

“Tipo pobre, mas bom tipo”
Embora admita que nestas situações o Papa não chora em público, Francisco admite que já esteve próximo disso. “Ouve vezes que estive no limite, mas consegui controlar-me a tempo. Estava demasiado emocionado, houve mesmo umas lágrimas que escaparam”, diz, recordando que numa destas ocasiões tratava-se de um caso de “perseguição aos cristãos no Iraque. Estava a falar disso e comovi-me profundamente, pensar nessas crianças…”

Nesta entrevista de 30 minutos há ainda espaço para falar de futebol, com Francisco a dizer que se vai mantendo a par dos resultados do seu clube, o San Lorenzo, apesar de não ver televisão desde o dia 15 de Julho de 1990, devido a uma promessa que fez a Nossa Senhora do Carmo. Há um guarda suíço que o informa dos resultados do fim-de-semana, explica.

O Papa diz ainda que dorme por regra seis horas por noite, acordando sem despertador por volta das 4h00, mas precisa de dormir uma sesta durante o dia de pelo menos 40 minutos, caso contrário ressente-se.

Por fim, o jornalista pergunta se Francisco gosta que o chamem “o Papa pobre”, e responde com humor: “Se juntarem uma palavra a seguir, gosto. ‘Pobre tipo’, por exemplo”, mas logo volta a falar com seriedade. “A pobreza é o centro do Evangelho. Jesus veio pregar aos pobres, se tirares a pobreza do Evangelho não compreendes nada, tiras-lhe a medula”, afirma.

O Papa termina a entrevista a dizer que apenas quer ser recordado como “um bom tipo, que praticou o bem. Não tenho outra pretensão”.
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