O director do gabinete de imprensa da Opus Dei considera que a Igreja devia formar mais mulheres para melhorar a sua comunicação.
Pedro Gil refere que a Igreja portuguesa tem mostrado optimismo em relação à comunicação e as redes sociais, e que “a realidade vai-se aproximando desse optimismo, mas ainda não chegou lá.”
Em entrevista, o responsável pela comunicação exterior do movimento católico deixa ainda algumas pistas sobre como melhorar a relação das instituições católicas com os média e o público em geral.
É mais difícil comunicar a Igreja do que outra instituição?
Comunicar a Igreja é mais desafiante, porque importa não apenas comunicar coisas superficiais, mas, no fundo, a verdade sobre o homem. Isto não se faz com teorias, faz-se sobretudo mostrando histórias e isso tem uma dificuldade própria.
Contudo, creio que não há comunicação amadora que funcione. Se a comunicação for profissional penso que mesmo os desafios mais difíceis se conseguem ultrapassar.
Estamos a falar de temas por vezes complexos, questões ligadas à vida, à bioética e filosofia. A mensagem que a Igreja tem a transmitir é compatível com uma era de comunicação que depende muito do “sound bite”?
Há muitos níveis de comunicação. Há uma comunicação breve, rápida e intuitiva. Há uma comunicação mais trabalhada, mais calma, e depois há o momento máximo da comunicação, que é a comunicação interpessoal. Julgo que qualquer cristão tem de estar disponível para saber actuar nos três âmbitos, respeitando as regras próprias de cada.
Há um conjunto de dicas que se podem dar ao comunicador cristão no mundo de hoje.
A mensagem tem de ser positiva e não negativa; relevante para quem ouve, mais do que para quem fala e clara, que não seja preciso uma segunda explicação.
Quando ao comunicador, tem de ser credível – as suas acções têm de confirmar as suas palavras. Tem de ser compreensivo com os outros, sem os julgar, e tem de ser amável – a sua presença tem se ser tal que as pessoas desejam estar com ele.
O modo de comunicar é bom que seja profissional, dirigido a todos e não apenas aos cristãos, porque aquilo que o cristão tem para transmitir, a fé, é para todos e gradual, isto é, a comunicação tem de ser feita com a paciência que o agricultor tem ou pelo menos com aquela paciência de quem caminha com os outros.
A dica para tudo é o grande segredo do cristão, que é a caridade. Num mundo que é duro e frio, vale o ás de trunfo que o Papa Francisco tem apontado, que é a bondade e a ternura.
A Igreja tem uma camada de liderança, os bispos, que não são necessariamente escolhidos pelo seu carisma, mas que são as pessoas a quem se pede sempre comentários e posições para os média. A Igreja devia preocupar-se em formar e ter pessoas para trabalhar a comunicação, que sejam especialistas em comunicação e que preencham esses requisitos todos, para fazer as vezes dos bispos?
É uma necessidade absoluta preparar pessoas para saber estar nos vários meios de comunicação. Cada meio de comunicação tem as suas regras próprias. As regras não fomos nós que inventámos, é a própria realidade que é assim. Quem, portanto, se predispõe a ir falar a um meio de comunicação e não está disponível para aceitar essas regras, talvez seja bom repensar a sua presença e fazer-se substituir por outro.
Gostaria de chamar atenção para uma ideia do Papa Francisco na mensagem deste ano para as comunicações sociais, onde diz que a família é o primeiro lugar onde aprendemos a comunicar. Eu falo disto porque foi uma orientação prática que me foi dada antes de ir participar num debate na televisão, que sabia que ia ser um ambiente hostil. Um profissional com décadas de experiência, disse-me: “quando estiver no debate fale como se estivesse a falar para a sua própria mãe”.
Achei curioso que ele sugerisse que eu adoptasse as boas práticas que existem dentro da família. O paradigma da comunicação entre pessoas que confiam umas nas outras, é um paradigma inspirador para quem vai ter de ter presença num espaço público.
Em Portugal, o porta-voz da Conferência Episcopal nos últimos anos tem sido um padre. Há caminho a fazer para a Igreja portuguesa valorizar pessoas formadas nesta área?
Penso que há um caminho percorrido, e há muito caminho por percorrer. Quando a Igreja se quer manifestar próxima das pessoas, de ir ter com as periferias, com quem está longe, está a pedir uma disponibilidade própria das mães.
Estou propositadamente a falar sobre o paradigma da mãe como comunicadora, porque também isso pode ajudar a perceber como uma figura feminina como porta-voz de instituições da Igreja é um caminho acertado. Claro que não é exclusivo... Mas é um caminho bastante acertado.
A Conferência Episcopal Americana tem uma porta-voz...
E em algumas das dioceses também é assim. Sei que algumas dioceses em França e na Inglaterra também já fazem assim e penso que o Papa Francisco, quando valoriza a presença das mulheres em funções que não exigem como requisito o sacramento da ordem, está a abrir um espaço que, em primeiro lugar, abrange toda a área da comunicação.
Ouvimos muito os bispos a falar da importância das redes sociais, mas bispos portugueses nas redes sociais são muito poucos. Portugal é um mau exemplo no aproveitamento das redes por parte da Igreja?
Há redes sociais com exigências diversas. Cada uma tem necessidades próprias.
Há uma característica comum, é que todas elas exigem um grande investimento de gestão de tempo para manter uma identidade firme, segura e paciente ao longo do tempo. Quem na Igreja tem funções de chefia nas dioceses não terá tempo para gerir isso.
No mundo das empresas já existe a figura do gestor das redes sociais, a pessoa que, para uma organização, faz a função de gerir essas presenças. Não tem nada de estranho, não estamos a falar de uma fantasia ou de um disfarce. As contas de Facebook de alguns dos eclesiásticos do mundo não são geridas por eles, mas por outras pessoas, como é óbvio. Quem gere uma instituição muito grande não tem tempo para tudo. Também não é o Papa quem gere a sua conta do Twitter.
Aqui em Portugal há poucos passos dados, há muitos passos para dar. Mas o mundo das redes sociais está em maturação e não sabemos bem que caminhos vai tomar. Penso que a disposição da Igreja portuguesa é optimista, a realidade vai-se aproximando desse optimismo, mas ainda não chegou lá.