10 jan, 2025 - 17:35 • Filipa Ribeiro
O neuropediatra que redigiu a carta assinada por diversos médicos do Santa Maria a contestar o tratamento das gémeas luso-brasileiras confirma que houve "pressão" para que fosse marcada uma consulta para as crianças.
Tiago Proença dos Santos foi ouvido esta sexta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito onde começou por afirmar que "foi feita pressão sobre a médica Teresa Moreno para ela fazer a marcação". O neuropediatra avança que a médica que tratou as crianças tinha "decidido não fazer a marcação porque eram crianças que estavam a ser seguidas no Brasil e que estavam a ter um dos tratamentos adequados para esta doença".
Aos deputados, o médico confirmou "rumores de corredores" de que "houve um pedido do secretário de Estado da Saúde".
Tiago Proença dos Santos indicou que a carta que redigiu a contestar o tratamento das crianças no Santa Maria tinha com o objetivo avisar que não se tratava "de um pedido inocente", além de alertar "para a despesa" que o tratamento com o medicamento Zolgensma comportaria.
"Na altura, não estava minimamente preocupado com o facto de haver cunhas ou não haver. A nossa preocupação eram as consequências desta consulta", disse, depois de ter referido na audição que o tratamento de doenças raras é, por vezes, uma "caixa de pandora" para a origem de mais pedidos de ajuda de crianças residentes ou não em Portugal.
O neuropediatria esclareceu, no entanto, que o tratamento das gémeas não prejudicou outras crianças que necessitavam do medicamento. "Não houve nenhum cidadão prejudicado por elas terem tido o tratamento com o Zolgensma", disse.
A Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas tentou esclarecer ainda o porquê de terem sido prescritas cadeiras de rodas a mais para as crianças com atrofia muscular espinhal.
O director do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Santa Maria esclarece que no total foram feitas quatro prescrições e não seis como chegou a ser noticiado na comunicação social, mas, ainda assim, foram prescritos dois equipamentos a mais.
Francisco Sampaio explicou que as crianças foram seguidas no centro de reabilitação de Alcoitão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que passou a prescrição das primeiras duas cadeiras — compradas através da Segurança Social, ao mesmo tempo que o Hospital de Santa Maria avançou com a compra de outras duas cadeiras que terão custado cerca de 26 mil euros no total.
O clínico confirma as quatro prescrições dizendo que as cadeiras adquiridas pelo Hospital de Santa Maria "nunca chegaram a ser entregues".
O director do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Santa Maria fala na duplicação de prescrições como um caso "inédito" e afirma que assim que se percebeu que já tinham sido prescritas cadeiras por Alcoitão deu a ordem de não serem entregues as cadeiras compradas pelo Santa Maria. "Nunca aconteceu. É inédito. Tudo foi cumprido e há cadeiras para se entregar quando sei que estão em duplicado. Então não autorizei a entrega", disse.
Questionado sobre os problemas de comunicação entre os centros de reabilitação e o Hospital de Santa Maria, Francisco Sampaio afirmou que "as instituições não comunicam tarde e mal", mas lamentou "as regras que existem estabelecidas e que são contestadas há muito tempo". O director do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Santa Maria disse que entre Alcoitão e o Hospital de Santa Maria são transferidas "centenas de doentes" o que torna "impossível e impraticável" a comunicação "de um lado para o outro, sobre todos".