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Chumbadas todas as propostas para alargar o prazo para a interrupção voluntária da gravidez

10 jan, 2025 - 12:04 • Manuela Pires

Em debate estiveram vários projetos da esquerda que pretendiam alargar até às 12 ou 14 semanas o prazo em que uma mulher pode interromper voluntariamente uma gravidez. CDS, PSD e Chega votaram contra.

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Foram chumbadas todas as propostas para alargar o prazo para a interrupção voluntária da gravidez. O projeto do PS, que previa o alargamento até às 12 semanas, recebeu os votos contra do Chega, PSD, CDS e os votos a favor do Bloco de Esquerda, PCP, Livre, PS e Iniciativa Liberal.

O Parlamento também chumbou o projeto do Bloco de Esquerda, que previa o alargamento até às 14 semanas. Neste caso, a iniciativa recebeu os votos contra do Chega, CDS, PSD e de quatro deputados da IL, a abstenção de um deputado da IL e de quase toda a bancada do PS. A favor votaram BE, PCP, Livre, oito deputados do PS e três da IL, entre eles a líder parlamentar Mariana Leitão.

Em sentido contrário ao alargamento, estavam a proposta do Chega — na qual se propunha a possibilidade de as grávidas fazerem um exame para ver e ouvir o batimento cardíaco do feto —, e a do CDS-PP. Os populares pretendiam que médicos objetores de consciência pudessem estar presentes nas consultas que antecedem a interrupção voluntária da gravidez.

Nas diferentes votações dos sete projetos de lei e três projetos de resolução (sem força de lei) houve uma divisão na bancada da Iniciativa Liberal, com os oito deputados a escolher entre a abstenção, o voto contra ou a favor nos vários diplomas. Também no PS houve oito deputados a optar pelo voto a favor e não pela abstenção como resto da bancada, por exemplo, no projeto de lei do BE.
Nas diferentes votações houve sempre uma divisão na bancada da Iniciativa Liberal. Oito deputados escolheram entre a abstenção, o voto contra ou a favor nos vários diplomas. Já no PS, oito deputados votaram a favor de todos os projetos.

Debate marca a divisão entre a esquerda e o PSD e o Chega

No arranque do debate, a deputada Isabel Moreira, do PS, apelou ao PSD para votar favoravelmente os diplomas que visam alargar até às 12 semanas o prazo em que é legal fazer uma interrupção voluntária da gravidez e, ainda, regulamentar o direito dos médicos à objeção de consciência.

Isabel Moreira garantiu que o partido quer, no essencial, manter a atual lei, mas alargando o prazo para seguir as orientações dadas por várias organizações, entre elas a OMS.

“Pretende-se manter o essencial da lei atual, da qual muito nos orgulhamos, alterando apenas aquilo que os estudos e a prática têm demonstrado ser de alteração urgente, porque em caso algum pode uma mulher ser abandonada por esta conquista. É isso que defende a Organização Mundial de Saúde, o Parlamento Europeu, o Conselho da Europa e tantos profissionais de saúde e gente de todos os espectros políticos”, declarou.

A líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, cujo projeto defendia o alargamento para as 14 semanas, disse no debate que muitas mulheres são impedidas de fazer uma IVG porque o prazo já passou e são forçadas a ir a Espanha onde o prazo já é de 14 semanas.

“Em 2022, 1.366 mulheres não puderam fazer uma IVG em Portugal porque o prazo das 10 semanas estava ultrapassado. E, todos os anos, cerca de 500 mulheres têm de ir a Espanha aceder a uma IVG, muitas porque o prazo em Espanha é de 14 semanas”, referiu a deputada do Livre.

Direito à objeção de consciência

Além do alargamento do prazo, os projetos defendem ainda uma regulamentação do direito dos médicos à objeção de consciência. Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, diz que esse direito está a ser usado como um boicote.

“A objeção de consciência dos profissionais, que é exercida de uma forma desregulada, inconsistente, desorganizada, serve como um instrumento de boicote à prestação de um serviço”, considera a líder do Bloco de Esquerda.

Na Iniciativa Liberal, a líder parlamentar tem a mesma opinião. Mariana Leitão diz que esse direito não pode por em causa o cumprimento da lei.

“O direito à IVG é, muitas vezes, limitado pela prevalência de profissionais de saúde que invocam a objeção de consciência, que é também ele um direito inquestionável e um princípio fundamental numa sociedade que respeita as liberdades individuais. No entanto, este direito não pode conflituar com o direito à interrupção voluntária da gravidez”, disse Mariana Leitão num discurso aplaudido pelas bancadas da esquerda.

Por último, a líder parlamentar do PCP lembrou neste debate que foi o partido que, em 1989, trouxe pela primeira vez a despenalização do aborto a debate no parlamento. Além de alargar para as 12 semanas o prazo em que é permitida a IVG, o PCP quer ainda garantir que a mulher tem acesso a ela.

“Propomos que sejam removidos os obstáculos que dificultam o acesso à IVG desde logo, pelo estabelecimento de protocolos de articulação entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares, que seja assegurado o encaminhamento entre entidades do SNS, respeitando a opção da mulher e nos casos em que sua localização seja fora da área de residência da mulher, seja assegurado transporte gratuito e que haja um registo nacional de objetores de consciência, centralizado na Direção Geral de Saúde”, referiu Paula Santos.

CDS: direito dos médicos não é negociável

Contra esta iniciativa esteve o CDS. O líder parlamentar, Paulo Núncio, acusou os partidos à esquerda de estarem a colocar em causa um direito dos médicos.

“A objeção de consciência dos médicos não é negociável, é matéria de juramento, de vocação e de lei. Querer obrigar profissionais a participarem e a praticarem atos contra a sua consciência é um poder que este Parlamento não tem”, garante Paulo Núncio.

Esta ideia foi contestada por Pedro Delgado Alves, do PS, que acusou o deputado centrista de estar a assustar as pessoas, porque a intenção do PS “é precisamente garantir que cada médico tem esse direito e que seja claríssima, que proteja os médicos e as mulheres".

O PSD, que já tinha anunciado o voto contra todos os projetos, levou a debate o referendo realizado em 2007, no qual a pergunta que foi colocada falava em 10 semanas como prazo para a interrupção voluntária da gravidez.

A deputada Andreia Neto disse, por isso, que a Assembleia deve respeitar a vontade que saiu da consulta popular. A social-democrata considerou que o debate só vai criar divisão e conflitualidade, e garantiu que nada fará para melindrar os direitos das mulheres.

“A legislação hoje em vigor é o retrato fiel da vontade soberana a qual vincula esta Assembleia e de uma forma clara, inequívoca e incondicional. Respeitemo-la, senhoras e senhores deputados”, concluiu a deputada social-democrata.

[notícia atualizada às 13h34]

Comentários
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  • António dos Santos
    10 jan, 2025 Coimbra 16:33
    Portugal com o comportamento dos tribunais, neste e noutros casos, transparece que estamos numa república das bananas.
  • EU
    10 jan, 2025 PORTUGAL 13:50
    A grande pergunta que posso colocar aos PROPONENTES, ABSTENCIONISTAS e FAVORÁVEIS é: e se quem lhes deu vida para agora poderem LEGISLAR para as OUTRAS tivessem ABORTADO? É triste viver no meio de GENTE assim, não é?

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