09 dez, 2024 - 17:59 • Pedro Mesquita
O histórico dirigente do PCP Carlos Brito só admite regressar ao partido se este abandonar marxismo-leninismo e o chamado "centralismo democrático".
Carlos Brito reage assim à entrevista - inédita - à Renascença dos três secretários-gerais do PCP que sucederam a Álvaro Cunhal.
"Todos são poucos". "Aqueles que olham para o partido como ele é, com os objetivos que tem e os princípios de funcionamento que tem, são todos bem-vindos". Estas são algumas das palavras do atual secretário-geral, Paulo Raimundo, sobre um eventual regresso de militantes que romperam com o partido no "pós-perestroika" na União Soviética.
Sobre o processo que conduziu à expulsão de diversos militantes do PCP, há mais de duas décadas, Carlos Carvalhas reconheceu na entrevista que "as coisas poderiam ter acontecido de maneira diferente".
"A decisão não foi minha, foi do coletivo e num processo que já vinha de trás a seguir à queda da União Soviética. Foram momentos muito difíceis, com questões também pessoais. Portanto, é um processo que, naturalmente, lamento, gostaria que não se tivesse verificado, mas verificou-se", declarou o sucessor de Cunhal
Por sua vez, Jerónimo de Sousa declarou: "O coletivo reuniu, decidiu, estava em causa o programa do partido e os estatutos do partido, saíram alguns ex-camaradas. É uma perda, é o sentimento que tenho, mas a democracia é assim mesmo, funcionou e considerou o comportamento inaceitável. De qualquer forma, sempre com esta ideia: a porta está aberta a quem quiser entrar."
"Todos os que temos são poucos para enfrentar a dramática situação exigente que temos pela frente. Todos aqueles que olham para o partido como ele é, com os objetivos que tem, com os princípios de funcionamento que tem, sem surpresas, são todos bem-vindos", disse Paulo Raimundo.
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Este conjunto de declarações não deixa de soar a Carlos Brito - um dos "renovadores" afastados do PCP, há mais de 20 anos - a convite para um regresso: "Pode-se lhes dar essa forma... Ou a de um apelo. Estas diferentes palavras podem aplicar-se, do meu ponto de vista."
"São declarações que eu tomo em consideração", acrescenta.
Carlos Brito sublinha que o assunto "teria que ser muito bem conversado", mas para que fosse viável um regresso aponta duas alterações essenciais no PCP: "Que abandonasse o marxismo-leninismo e, no plano interno, acabar com o chamado centralismo democrático."
Dr. Carlos Brito, como é que analisa as declarações à Renascença destes três secretários-gerais do PCP, em particular as de Paulo Raimundo?
Bom, eu vejo-as com respeito. São declarações que eu tomo em consideração.
Toma em consideração. Quando Paulo Raimundo diz “são todos bem-vindos", admite o regresso ao PCP?
Registo essa afirmação.
Mas admite um regresso ao PCP?
Bom, isso é uma questão muito mais complexa. Isto não foi um processo a qualquer. Já lá vão 20 anos, mas foi um processo muito sério e que marcou muito profundamente a vida de militantes como eu. Não é um convite que uma pessoa diga (risos)... ”é como ir a uma sessão”. Não. É uma coisa muito mais séria. Acontece que eu faço parte da Renovação Comunista, que é uma associação política que tem as suas próprias regras, fez 20 anos de existência e, naturalmente, que eu sempre inserirei a minha posição na posição coletiva da renovação comunista.
Já me disse que não é uma resposta fácil, mas também não está a excluir hipótese de um regresso...
Digamos que sem conversarmos sobre o que se passou e sobre aquilo que se irá passar... Sem haver essa conversa, excluo completamente.
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E essa conversa seria com a atual liderança do PCP?
Seria de alguém da parte da Renovação com alguém que fez o convite da parte do PCP. O assunto merece consideração, merece atenção e tem que ser conversado.
Sentiu estas palavras de Paulo Raimundo, mas também de Carlos Carvalhas e de Jerónimo de Sousa como um convite?
Pode-se lhe dar essa forma. Ou a de um apelo. Estas diferentes palavras podem aplicar-se, do meu ponto de vista.
Independentemente das conversas, acha que o PCP mudou o suficiente para poder atrair-vos, de novo? Faria sentido um regresso com o atual a PCP?
Não, não mudou o suficiente. E para que a relação entre o PCP e os Renovadores seja alterada, tem que ser conversada.
Para um eventual regresso, qual seria o vosso caderno de encargos? O que é que teria de mudar no PCP?
Dois pontos-chave em relação à linha política e ideológica: o abandono do marxismo-leninismo e, em relação ao funcionamento interno do partido, o abandono do chamado centralismo democrático e a adoção de um método democrático puro e simples.
Ou seja, é uma utopia pensar-se num regresso...
Não, é como eu lhe digo: para a situação ser alterada, tem que ser muito conversada. Mas pode avançar-se no domínio do diálogo, isso pode.