06 nov, 2024 - 22:50 • Tomás Anjinho Chagas (em Bruxelas)
Nos corredores do Parlamento Europeu, em Bruxelas, nota-se que não é um dia como os outros. O ambiente é de apreensão pela manhã fresca, toda a gente que circula não descola do telemóvel: seguem atentos o apuramento dos resultados das eleições norte-americanas.
Bruxelas é o centro da política europeia, mas a política europeia não pode ignorar os Estados Unidos da América. Pouco depois de começar a audição da comissária Maria Luís Albuquerque confirma-se o que muitos temiam: Donald Trump voltou a ganhar as presidenciais.
Nestes corredores circulam eurodeputados de todos os Estados-membro e há uma que se destaca pela sua dupla nacionalidade. Maria Walsh é irlandesa, mas nasceu em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos da América. Votou em Kamala Harris, mas à hora a que fala com a Renascença já percebeu que valeu de pouco.
"Estou desapontada", assume. Está vestida de azul, cor dos democratas, e pertence ao Partido Popular Europeu (PPE), ou seja, partilha a bancada com eurodeputados portugueses do PSD e do CDS. Não hesita em falar em "desilusão" e "frustração", teme, entre várias coisas, que os direitos das mulheres não sejam respeitados e pelo que a eleição de Donald Trump signifique mudanças bruscas em temas como a imigração ou a justiça.
No entanto, assume que há uma "pequena minoria" que está feliz pelo resultado: "Ainda há pouco estava numa audição e um outro eurodeputado estava com um chapéu vermelho que tinha escrito: "Make America Great Again", ou seja, com o slogan da campanha de Donald Trump. Esse eurodeputado é Frank Droese, alemão e eleito pelo Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita que se senta no grupo Europa Pelas Nações Soberanas, criado por iniciativa de Viktor Órban, primeiro-ministro da Hungria.
A Renascença foi até essa audição e esperou que ela terminasse para poder falar com este eurodeputado trumpista, mas quando saiu, de boné vermelho na cabeça, respondeu "não", antes mesmo de ouvir o que tínhamos para perguntar.
No tweet abaixo pode ver o chapéu com que circulava esta quarta-feira nos corredores do Parlamento Europeu.
De volta à conversa com Maria Walsh, a eurodeputada irlandesa que nasceu em Boston. Já falou com o irmão, um democrata ferrenho e com a tia, com um gosto político semelhante. Só ainda não falou com os familiares que votaram em Donald Trump. "Ainda não falei, mas sem dúvida que vou fazê-lo durante o fim-de-semana", diz, bem-disposta. Está preocupada mas prefere olhar para a solução para ultrapassar o problema.
"Temos agora a oportunidade de sermos o adulto na sala", espera a deputada. Não tem meias palavras e considera que o legado do recém-eleito presidente dos Estados Unidos vai ser uma política "fascista, de extrema-direita" pelo menos na sua opinião.
Nos corredores, há dezenas de jornalistas que entrevistam eurodeputados e os resultados na eleições dos Estados Unidos são o principal foco. Há muita gente apanhada de surpresa, não exatamente pelo resultado mas pela expressividade pelo resultado. A vitória de Trump não choca, o que choca é a dimensão da vitória.
Na quarta-feira, o dia que seria normalmente pelas audições dos vários comissários europeus, a vitória de Donald Trump rompeu a bolha europeia em Bruxelas e deixou a maioria a pensar nas consequências para a Europa deste resultado.