04 out, 2024 - 16:43 • Filipa Ribeiro
O chefe de gabinete desmente o antigo secretário de Estado da Saúde e confirma que o caso das gémeas "não foi abordado na reunião" de 7 de novembro de 2019, depois de António Lacerda Sales ter avançado numa entrevista ao Expresso que tomou conhecimento do caso nesse encontro com Nuno Rebelo de Sousa.
Tiago Gonçalves foi ouvido na Comissão Parlamentar de inquérito ao caso das gémeas nesta sexta-feira e garantiu que marcou e esteve presente na reunião entre Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, e António Lacerda Sales. No entanto, nesse encontro, o tema de discussão nada teve a ver com as gémeas luso-brasileiras, tratadas em Portugal com um dos medicamentos mais caros do mundo — ao contrário do que Lacerda Sales deu a entender.
Ou seja, Lacerda Sales terá tido conhecimento do caso numa outra ocasião.
De acordo com o chefe de gabinete, o encontro que agendou (a 7 de novembro de 2019) foi enquadrado "na Web Summit" e o tema abordado foi "o intercâmbio de profissionais de saúde".
Tiago Gonçalves diz "não conseguir transmitir" como é que Nuno Rebelo de Sousa chegou ao contacto do gabinete. Mas acrescentou: Lacerda Sales deu autorização para marcar uma reunião entre ambos.
Questionado pela deputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, Tiago Gonçalves garantiu que não recebeu nenhuma indicação de Lacerda Sales para contactar o filho do Presidente da República ou o Hospital de Santa Maria.
No entanto, Tiago Gonçalves afirmou ainda "ter memória" de contactos entre Lacerda Sales e o ex-assessor para a Saúde da Presidência da República, Mário Pinto. O ex-chefe de gabinete diz que é algo "habitual nos gabinetes ministeriais", dando nota de que "existia uma relação anterior de amizade entre Mário Pinto e António Lacerda Sales", acrescentando que não tem conhecimento dos temas que foram abordados nessas reuniões.
Sobre a marcação da consulta das gémeas no Hospital de Santa Maria, Tiago Gonçalves esclareceu que "uma secretária não tem autonomia para fazer a marcação de consultas, apenas com instrução superior". O ex-chefe de gabinete afirmou que "só vê uma pessoa com responsabilidade para o fazer, e que é o membro do governo", ou seja, Lacerda Sales.
Questionado pelo deputado João Almeida do Chega, Tiago Gonçalves garantiu que a instrução para a marcação de consultas não partiu do seu gabinete e, "por exclusão de partes", o que conclui é que a orientação só pode ter sido dada por um membro do governo.