12 set, 2024 - 15:16 • Manuela Pires
O antigo ministro da Educação acusa o atual titular da pasta de estar a inflacionar o número de alunos que o ano passado não tinham professor. O objetivo, arrisca dizer João Costa, é mais tarde vir apresentar bons resultados.
Em declarações no Parlamento, na Comissão de Educação e Ciência, João Costa quis, na declaração inicial, esclarecer os números que o ministro Fernando Alexandre tem divulgado e que rondam os 324 mil alunos sem, pelo menos, um professor. Acontece que, segundo o antigo ministro da Educação, os dados que tem da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares apontam para um número muito inferior: seriam 72 mil alunos nessa situação.
“Aquilo que me preocupa, e eu não quero lançar suspeições, mas aquilo que me preocupa é se este número não está a ser inflacionado, de 72 mil para 324 mil, para depois se apresentar como um grande resultado uma redução a partir de um número base que não é real”, referiu João Costa.
“E acho que o país merece este esclarecimento, não sei qual é a origem dos dados da atual equipa do Ministério da Educação, mas estes são dados da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares fornecidos aos nossos gabinetes semanalmente o ano passado”, garantiu o antigo titular da pasta da Educação.
João Costa referiu ainda aos deputados que estes números, que foram divulgados nos últimos dias, não correspondem à verdade.
O antigo governante esteve no parlamento a pedido do Chega para prestar esclarecimentos sobre o número de vagas “a mais” que foram criadas nas escolas. Mas a falta de professores acabou por dominar a audição com as acusações por parte do PSD.
Na resposta à deputada do PSD Ana Gabriela Cabilhas, o antigo ministro da Educação foi ainda mais claro, acusando o atual governo de estar a enganar as pessoas.
“A sra. deputada voltou a insistir no número dos 324 mil alunos, que é objetivamente falso. E aquilo que está a ser feito, e que eu considero muito grave, é que se esteja a dizer que o ano passado havia, nesta altura, 324 mil alunos sem um professor a pelo menos uma disciplina, quando eram 72 mil, para daqui a uns meses dizerem, olhem a percentagem que reduzimos. Isso é enganar as pessoas” reafirmou João Costa.
Já no final da audição, o antigo ministro socialista lembrou que foi ele o primeiro a alertar para o problema da falta de professores e acusou Luís Montenegro de populismo quando disse que ira resolver o problema da falta de professores em 60 dias.
“O atual primeiro-ministro, que há um ano dizia que a falta de professores resolve-se mudando o Governo, e agora, passado um ano, já descobriu finalmente que afinal, as coisas não se resolvem em 60 dias, nem na educação, nem na saúde, porque é apanágio dos populistas dar as respostas simples a problemas complexos” referiu João Costa.
Na terça-feira, durante a apresentação do Education at a Glance, relatório da OCDE que, todos os anos, faz o retrato da Educação nos países membros, Fernando Alexandre apresentou uma série de dados sobre as escolas. Além de ter garantido que quase 21 mil alunos estiveram entre setembro e dezembro do ano passado sem, pelo menos, um professor, afirmou que 324.228 alunos não tiveram aulas a uma disciplina no mês em que arrancaram as aulas. Na altura, as previsões dos sindicatos apontam para valores na ordem dos 120, ou 130 mil alunos.
“Um número que alegadamente seria o número de alunos sem professor no ano passado, de 324.228, que objetivamente não corresponde à verdade. Eu tenho ainda comigo, e terei todo o gosto em disponibilizar, os relatórios da Direção Geral de Estabelecimentos Escolares, que reportavam, na altura, ao gabinete do secretário de Estado, semanalmente, as carências de professores, e a Direção Geral de Estabelecimentos Escolares é particularmente importante aqui, porque quem tem o contato direto com as escolas conhece o número de alunos por turma, inscrito efetivamente em cada turma, e no período homólogo, ou seja, no final da segunda reserva de recrutamento do ano passado, os alunos que estavam sem professor, pelo menos a uma disciplina, eram 72.894”, revelou o antigo ministro socialista.
João Costa está no Parlamento a pedido do Chega para dar esclarecimentos sobre o número de vagas “a mais” que foram criadas nas escolas para professores.