11 set, 2024 - 06:27 • Tomás Anjinho Chagas
Tem sido o homem de mão de André Ventura, andou com ele durante todas as campanhas do último ano, percorreu todos os quilómetros e tornou-se um dos dirigentes mais próximos do presidente do partido. Em entrevista à Renascença, Rui Paulo Sousa, secretário-geral do Chega, assume que o partido pode vir a fazer coligações com partidos de direita, nomeadamente com o PSD, nas eleições autárquicas do próximo ano.
À margem das jornadas parlamentares do Chega, que decorreram esta semana em Castelo Branco, o deputado e dirigente considera que será "muito difícil" o país não se precipitar numa nova crise política. O tiro de partida de preparação para umas novas eleições antecipadas foi dado por André Ventura. Rui Paulo Sousa considera que igualar o resultado das legislativas de março seria um bom resultado.
[Oiça acima a entrevista, ou leia-a abaixo.]
Ontem o líder do partido pediu ao Chega para se preparar para eleições. Acha inevitável que entremos numa nova crise política?
Não é inevitável, ainda há a possibilidade de haver algum acordo, apesar essa possibilidade ser menor a cada dia que passa. No fundo são três partidos envolvidos, Chega, PS e PSD, portanto ainda há alguma hipótese de realmente haver um acordo, porque não é só o Chega que pode ter algum receio de ir a eleições, todos os partidos podem ter algum receio ou não de ir a eleições, vai sempre depender obviamente das sondagens que vão saindo e das perspetivas que possam ter numas novas eleições.
O Governo, é quem tem o jogo na mão, mas se continuar numa posição um pouco arrogante de não querer um diálogo verdadeiro e concreto para chegarmos a uma conclusão de viabilização de algumas medidas, vejo muito difícil que não haja realmente eleições.
Se o Chega votar então contra o OE, e o PS fizer o mesmo, e o Chega vier a perder deputados, não é uma quebra que pode vir a comprometer o projeto do partido a longo prazo?
É óbvio que existe sempre a possibilidade de perdermos deputados, como também existe a possibilidade de ganhar deputados. Todas as eleições têm esse risco, podem correr bem, podem correr mal. A questão é que também não podemos comprometer as nossas próprias ideias, o nosso compromisso com os nossos eleitores apenas com o receio de podermos perder alguns deputados, porque isso seria trair todos aqueles que votaram em nós.
Independentemente de realmente poder existir esse risco, tudo depende também da perceção que as pessoas possam ter sobre a maneira como cai ou não o governo, mas é um risco que, apesar de existir, o partido tem de correr, porque tem que se manter unido em torno dos ideais que nos trouxeram aqui e que nos levaram a eleger os 50 deputados que temos agora.
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Falou numa pequena hipótese que existe ainda de salvar este orçamento do Estado. O que é que o Chega consideraria essencial para negociar o orçamento e eventualmente viabilizar este primeiro OE da AD?
Eu penso que o Chega até agora não pediu nada extraordinário. No fundo, há algumas medidas que não têm um grande impacto financeiro, que têm mais a ver com a parte de segurança, que preocupa todos os portugueses. Vimos a questão da fuga agora dos presos de uma prisão de alta segurança e também foi colocado em cima da mesa o referendo. Mesmo a questão do referendo, uma sondagem feita agora pelo Correio da Manhã, mostrou que a maior parte dos portugueses até apoiaria estas medidas. Não diria que não temos pedido nada extraordinário. O que é essencial é o governo mostre um pouco de boa fé e tente negociar seriamente, sem fingir que está a negociar sem estar, de facto, a fazê-lo.
Se o país for a eleições, o Chega já tem uma meta pensada para estas próximas eleições?
Penso que conseguirmos manter o resultado que tivemos [50 deputados] já seria um excelente resultado face a toda a dinâmica atual e ao período de instabilidade a nível governativo e político no país. Conseguirmos manter esse número de deputados já seria um excelente resultado ou, obviamente, aumentá-lo. Também não é por perder dois ou três deputados que significaria algo diferente, mas eu penso que se conseguíssemos manter, isso já era um excelente objetivo e um excelente resultado.
E olhando para umas eleições que vão de certeza acontecer, as autárquicas do próximo ano, o Chega já definiu o número de câmaras definidas que querem conquistar?
Apesar de já terem existido algumas reuniões nesse sentido, não foi delineado ainda concretamente nenhum objetivo. Baseado nas eleições anteriores, sem dúvida que a zona sul do país, especialmente no Algarve ou algumas zonas de Beja, Évora, parte do Alentejo, será onde teremos mais possibilidade de poder conquistar alguma câmara sozinhos. Pelo menos no Algarve poderá existir essa possibilidade concreta.
A nível do Centro e Norte, aí obviamente será mais difícil, talvez está uma coligação, também foi algo que não foi totalmente ainda definido ou discutido. O objetivo principal é concorremos todas as câmaras e tentar eleger o máximo de vereadores e autarcas. Conseguimos realmente conquistar uma câmara seria uma ótima bandeira para o partido.
E essas coligações com quem que poderiam ser feitas?
Volto a dizer, o partido ainda não definiu concretamente a questão das coligações. Já houve algum interesse a nível local em tentar fazer algum acordo. Obviamente, se for feita uma coligação, terá que ser com partidos à direita, nunca com partidos à esquerda.
Com o PSD?
Sim, obviamente que o PSD é sempre algo viável para uma situação dessas, apesar de tudo o que está a acontecer, continua a ser um partido de direita.
Em 2021, Rui Paulo Sousa foi candidato aqui a Castelo Branco, tenciona voltar a abraçar esse desafio e ser candidato nestas eleições?
Todos os deputados poderão vir a ser candidatos em vários distritos do país. Na altura fui em Castelo Branco, porque foi onde eu nasci e foi uma honra e um orgulho poder ser aqui candidato.
Possivelmente serei candidato novamente, mas será sempre o líder do partido a definir o local mais indicado a nível dos vários deputados. Não se esqueça que agora fui eleito por Lisboa, portanto, obviamente, se for candidato, será por Lisboa, por algum concelho de Lisboa, e não por Castelo Branco. Neste momento temos um deputado eleito até de Castelo Branco, João Ribeiro, portanto, não teria até muita lógica.
Em Lisboa, admite ser candidato a Lisboa para tentar roubar Carlos Moedas e contra o Partido Socialista, que também vai tentar reconquistar essa Câmara, uma das mais importantes do país?
É óbvio que eu estou à disposição do presidente do partido para concorrer a qualquer câmara que ele indique. Não foi falado concretamente em nenhuma, e Lisboa, sendo a principal câmara, será alvo de uma reflexão muito maior. Além de mim temos outros deputados eleitos por Lisboa, portanto, a escolha aí é um pouco maior. Tanto eu como todos os meus colegas deputados estamos à disposição do partido para concorrer onde for necessário.
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Nas presidenciais é mais natural que o Chega tenha um candidato próprio, ou apoie um independente, ou um protagonista de outro partido, como o Passos Coelho?
Está um pouco dependente de qual o candidato de outro partido que possa ser apresentado. Obviamente o Passos Coelho, o próprio presidente do Chega, referiu que seria possivelmente um bom candidato. Mas depende do candidato apresentado. Quanto à questão de termos um candidato próprio ou não, também ainda não foi totalmente definido, ainda falta algum tempo, depende da própria evolução da política até lá.
O Rui Paulo Sousa é Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das Gémeas. Acha que tem sido útil para esclarecer o país, ou a repetição de várias audições que se assistiram, onde os visados preferiram não falar, tornam a neblina ainda maior do que aquela que existia antes da Comissão de Inquérito?
Qualquer comissão, consiga ou não atingir os objetivos propostos inicialmente, é sempre positiva porque esclarece ou, no mínimo, levanta questões e dúvidas que vão ajudar a investigação que até está a ocorrer neste momento pelo Ministério Público.
É sempre bom fazer perguntas. Por vezes é difícil, no caso da nossa CPI, obter as respostas. Mas as perguntas estão lá, e quando as respostas não são dadas, por si próprio também já é uma resposta. É preciso não esquecer que acabámos por levar agora a investigação por um campo que nem a comunicação social inicialmente detetou, nem aparentemente o Ministério Público, que foi a parte dos seguros.
Qual é que é a imagem que sobra, por exemplo, da Presidência da República, acha que sai magoada desta Comissão Parlamentar de Inquérito?
No mínimo sai desconfortável, houve várias questões que não ficaram muito bem esclarecidas. Qual tem sido a influência ao longo do tempo do Dr. Nuno Rebelo de Sousa relativamente ao Presidente da República? Isso não ficou totalmente definido. Houve alguma interferência ou não? Penso que a maior parte dos partidos ficou com a sensação de que não houve, mas houve ali algumas questões um pouco desconfortáveis.