28 ago, 2024 - 20:28 • Tomás Anjinho Chagas
Carlos César, presidente do PS, aconselha o partido a contribuir para que o Orçamento do Estado para o próximo ano seja "menos mau" e torne o governo "menos perigoso".
Durante a sua intervenção na Academia Socialista, a primeira de um protagonista no evento que marca a reentre política do PS, César atirou forte ao governo, a quem acusou de agir com "hipocrisia" e "enorme responsabilidade", mas acredita que socialistas devem a abrir caminho para viabilizar o documento.
"Este OE nunca será o nosso, nem o governo terá o nosso apoio para a sua política geral. Mas o nosso sentido de Estado obriga-nos a que ponderemos medidas e soluções, fiscais ou sociais, que tornem o Orçamento menos mau, e o governo menos perigoso", apontou Carlos César, um dos senadores do PS
Apesar disso, o presidente do PS assegura que essas soluções não podem "aprisionar" o partido e permitir chantagens do executivo de Montenegro. E acredita que o atual primeiro-ministro já só "faz contas" para saber quantos votos consegue arrecadar com o dinheiro que "atira para as pessoas".
Na intervenção na Academia Socialista, que decorre entre esta quarta-feira e domingo, em Tomar, César assegura que o partido "não tem pressa" em voltar ao governo, só tem pressa "em mostrar que consegue fazer melhor que o atual governo".
"Não temos pressa em derrubar governos, nem os portugueses quererão que o façamos. Temos sim pressa em mostrar que sabemos fazer melhor do que o atual governo faz", sintetiza Carlos César, uma das vozes mais consideradas no PS.
Com a mira no atual governo, Carlos César fala em "aventureirismo irresponsável" e acusa o elenco de Luís Montenegro de fomentar a "instabilidade".
O presidente do PS afirmou ainda que os "avanços" conseguidos nos últimos oito anos de governo socialista não podem ser menorizados pela "propaganda da direita" e lançou um cenário imaginário. "Seríamos melhor governo que o governo que temos agora", desferiu.
Depois de dois anos de maioria absoluta em que os socialistas abraçaram a bandeira das contas certas, o presidente do PS mostra-se preocupado com eventuais desequilíbrios orçamentais provocados pelos sucessivos pacotes de medidas anunciados pelo governo da AD.
"Já começam a sobressair indicadores onde a despesa sobe e a receita desce, como neste último trimestre, em que assistimos à enxurrada de dinheiro atirada de conselho de ministros em conselho de ministros", critica Carlos César.
E tem uma teoria para explicar a estratégia: o executivo da AD está a tentar converter o investimento público em votos para se preparar para um cenário de eleições antecipadas.
César ironiza e diz que Montenegro pensa: "Se houver agora eleições, o povo já fica com boa impressão. E depois, secas que ficam, fecharemos as torneiras como nos ensinou Passos Coelho". Na sequência da cenarização das conversas dentro do governo, o presidente do PS acredita que o primeiro-ministro incentiva os ministros a utilizar tudo o que possam para depois se recusarem a aceitar medidas da oposição por falta de dinheiro.
"Se estivéssemos nos corredores da residência oficial, em São Bento, o que ouviríamos era o primeiro-ministro de dentes cerrados recitando: 'Gastem, gastem, gastem", cenariza o presidente socialistas.
No discurso, o presidente dos socialistas avisou que "nenhuma liberdade" que foi conquistada nas últimas décadas está garantida, dando como exemplo alguns direitos fundamentais que alguns "partidos de extrema-direita" estão a questionar, sublinhou a redução do papel do Estado por parte dos liberais, e o atirar da prestação de cuidados de saúde para os privados por parte da direita portuguesa.
O presidente do PS assegura que o objetivo do partido para as autárquicas do próximo ano deve passar por uma vitória, e aponta o caminho da convergência com os partidos à esquerda para vencer algumas câmaras.