05 jun, 2024 - 18:09 • Susana Madureira Martins
Depois de na terça-feira, num comício em Guimarães ter dito que o PS não é uma “força de bloqueio”, desafiando o Governo minoritário a dialogar, o líder do PS, Pedro Nuno Santos, voltou a queixar-se esta quarta-feira daquilo que considera ser a falta de aproximação do primeiro-ministro ao principal partido da oposição.
A aprovação no Parlamento da proposta do PS sobre o IRS veio dar novo lastro ao desafio de Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro. “O que isto mostra é que precisamos de ter um Governo que dialogue mais, que negoceie mais”, disse Pedro Nuno aos jornalistas, no final de uma arruada em Bragança.
O líder socialista lamenta ouvir dizer da boca do primeiro-ministro que não há falta de diálogo. “Há sim, falta de diálogo e, aliás, isso vê-se desde logo no facto de termos um Governo que passa grande parte das suas propostas em Conselho de Ministros, mesmo aquelas em que há dúvidas de que não tenham de ir ao Parlamento”.
Esta abertura do PS ao diálogo com o Governo surge quase meio ano antes da apresentação e discussão da proposta de Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). Mas, para o líder socialista o OE “está hoje a ser feito sem diálogo e sem negociação”, com Pedro Nuno Santos a dar o exemplo das medidas do IRS.
“Serão 1.400 milhões de euros de perda de receita, esta, pelo menos, nós já sabemos mais ou menos quanto é que custa e, por isso, o Orçamento está hoje a ser feito e é comprometido sem qualquer diálogo”, conclui o líder socialista.
Questionado pelos jornalistas em Bragança se ganhar as eleições europeias dá mais legitimidade ao PS para se impor na negociação do OE, Pedro Nuno Santos assume como “muito importante” a vitória, porque “dá força a uma visão da sociedade mais justa”.
Para o líder socialista é, sobretudo, “muito importante” que o PS consiga “contrabalançar” a governação da AD, acrescenta Pedro Nuno Santos, criando uma relação de forças mais equilibrada quando, por exemplo, se começar a debater a proposta de OE.
Sendo esta uma governação que dá “sinais” de que “pretende governar apenas para uma minoria da população”, segundo Pedro Nuno, o PS assume que precisa nestas europeias de obter músculo eleitoral para o futuro debate mano a mano com a AD.
Não se trata ainda de fazer precipitar eleições legislativas. Esta terça-feira, aliás, Carlos César meteu travão à eventual ansiedade dos socialistas em apressarem uma crise política na eventualidade de a AD perder as europeias.
"Se a AD não tiver uma votação boa nestas eleições vai fazer-lhes muito bem, pelo menos, para adquirirem maior humildade na governação do nosso país", disse Carlos César durante uma arruada em Braga.
A cúpula socialista aposta numa “paciência” de monge budista até ao momento em que forem convocadas as legislativas. No imediato, a direção nacional do PS espera por uma derrota da AD nas europeias, porque uma vitória significa o aumento do fosso entre a coligação de Governo e o PS.
O núcleo duro de Pedro Nuno Santos assume que se isso acontecer, a vitória do projeto desenhado por Luís Montenegro, implica uma maior distância para qualquer construção com as oposições.
O entendimento da direção socialista é que uma indisponibilidade do Governo para negociar com o PS não ajuda a qualquer aproximação dos socialistas à AD para o futuro debate do OE.