02 fev, 2024 - 19:56 • Tomás Anjinho Chagas (nos Açores)
Autonomista convicto, Artur Lima é presidente do CDS-PP/Açores desde março de 2007. Em entrevista à Renascença, o também vice-presidente do executivo açoriano, assume que não gosta de ver misturados o Governo da República com os governos autónomos, seja o seu, seja o da Madeira. Da mesma maneira, não lhe parece bem quando os líderes partidários das estruturas do continente, dão recados às ilhas. No caso do CDS, e da coligação que se apresenta às eleições de domingo, é bastante claro: os açorianos não recebem indicações nem de Luís Montenegro nem de Nuno Melo.
Sobre os resultados de domingo, tem uma certeza inabalável: a sua coligação não vai perder as eleições. A pergunta que deixa no ar é dirigida ao líder dos socialistas nos Açores: irá Vasco Cordeiro viabilizar um governo minoritário da coligação?
O CDS Açores já tinha uma coligação com o PSD na região autónoma. Se no domingo perderem as eleições não enfraquecem a Aliança Democrática no continente?
O que pedimos aos açorianos é que nos deem força para governarmos sozinhos. Se fizermos contas aos votos que tivemos em 2020, dos três partidos, tivemos 41% e, portanto, se ganharmos as eleições - como vamos ganhar, não tenho nenhuma dúvida de que vamos ganhar as eleições - será, naturalmente, um bom ponto de partida para o continente. Também lhe devo dizer que nunca um resultado duma eleição nos Açores foi sobreponível a um resultado de uma eleição do continente.
Os açorianos distinguem bem as eleições, autárquicas, regionais e continentais. Portanto, não há uma sobreposição, nem se pode tirar uma consequência direta. Aliás, como se nota em todas as eleições, os resultados são sempre diferentes, quer a nível regional, quer a nível nacional. E o CDS é um exemplo disso nesses anos passados.
Não, não. Não ganhar as eleições não é uma possibilidade. Nós vamos ganhar as eleições. Eu ando na rua, tenho feito campanha, sem comunicação social, tenho feito campanha com o povo e não tenho nenhuma dúvida. É a minha quinta campanha, sei muito bem sentir o povo e acho que o povo nos vai dar vitória, porque nós governamos bem. Governamos bem para a infância, governamos bem para a juventude, governamos bem para os idosos, governamos bem para a classe média. Governamos bem a nível da economia, baixamos os impostos, fomos a primeira região do país a ter creche gratuita.
Somos a primeira região do país a ter um programa inovador para o envelhecimento ativo: o Envelhecer em Casa. Os idosos têm 600 euros por ano para comprarem medicamentos. Temos um complemento regional de pensão que duplicamos relativamente ao Partido Socialista, ou seja, a política social deste governo é muito boa, muito melhor que todas as políticas socialistas regionais ou na República. Na República, há apenas o complemento solidário para idosos que conta com rendimento da família - e que o PS agora vem, atabalhoadamente, alterar a dizer que o rendimento dos filhos já não conta.
Aqui não conta. Nós damos o chamado cheque pequenino, que é à volta de 100 euros. Temos bolsas de estudo para a juventude. Herdámos a mais baixa taxa de qualificação no ensino superior dos açorianos e, por isso, quisemos investir nisso.
O que o doutor Pedro Nuno Santos diz, e o que Partido Socialista diz, é que eles empobreceram os Açores. Vou-lhe explicar porquê, e isto é muito importante: consultando os censos de 2011 e 2021, os Açores perderam 10 mil pessoas, sobretudo jovens, que saíram dos Açores.
Estes é que empobreceram os Açores e nós apanhámos, obviamente, com esse êxodo de jovens, 10 mil pessoas, um verdadeiro flagelo populacional criado pelo Partido Socialista. Vou-lhe acrescentar mais um dado: nós entrámos a governar com pandemia, apanhámos 2021, foi o ano de maior incidência de pandemia nos Açores. Depois apanhámos com a guerra, depois apanhámos quem a inflação. Mesmo assim, tivemos um índice de pobreza e exclusão social inferior ao de 2019 de Vasco Cordeiro
Há efetivamente uma inflexão em 2021, que se deve ao facto de toda a gente ter ficado fechada em casa em 2020, e 2021, e isso também contribui para essa síntese de baixar ligeira, e não tinham os novos fatores que agora consideram - como trocar de mobília, fazer férias fora de casa, etc. Mas o que eu gostaria de chamar a atenção é a perca de 10 mil pessoas numa década e são os governos de Vasco Cordeiro, que começou a governar em 2012 e foi até 2020. Isto aqui é uma coincidência e, claro, teve consequências nefastas na economia.
Se não tiverem maioria devem deixar o PS formar governo ou fazer um acordo com o Chega?
Não tenho dogmas ideológicos. O Partido Socialista, pelos vistos, é que tem, porque o Partido Socialista fez uma coligação extremista negativa com o Bloco de Esquerda, com a Iniciativa Liberal, com o Chega, para derrubar este Governo. Portanto, o Dr. Vasco Cordeiro é que, na ânsia de crescer eleitoralmente, ele, o Chega, a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda, derrubaram um Governo que estava a governar bem.
A isto é que o Dr. Vasco Cordeiro deve responder, por egoísmo próprio e pela sua carreira política, porque sabe que se perder agora, acabou. A sua carreira política nos Açores acabou e a família César volta ao poder. Isto é claro, como água. O Dr. Vasco Cordeiro quer ter tempo para decidir a sua vida, se vai para o Parlamento Europeu... Não quer ficar sem emprego, porque acho que nunca trabalhou na vida ou se trabalhou, trabalhou muito pouco.
Estamos a assistir em Portugal, e nos Açores, a uma coisa muito perigosa. Esta geração do doutor Pedro Nuno Santos, do Francisco César e outros, é uma geração que nunca trabalhou na vida, nunca teve profissão e vão tomar os destinos do país e da Região Autónoma dos Açores. Isto é gente que nunca trabalhou, que entrou na política e nas juventudes partidárias aos 20 e poucos anos e, se trabalharam, no caso do Dr. Vasco Cordeiro foi em part-time.
Acho absolutamente reprovável que se misture política e justiça. O segundo ponto é que se misture o Governo da República com os governos autónomos. As regiões autónomas são autónomas, os partidos têm estatutos, têm lideranças próprias. Eu trabalhei três anos em Vila Real, Trás-os-Montes, e ensinaram-me que ‘para lá do Marão, mandam os que lá estão’. E, portanto, para cá do Atlântico, mandam os que cá estão.
Alguns líderes nacionais querem dar sentenças, como o PAN: a líder do PAN veio dar sentenças sobre o seu partido na Madeira. É uma falta de respeito à autonomia. Sou um autonomista convicto, muito convicto. Tão convicto que acho que são os Açores e a Madeira que dão a verdadeira dimensão de país a Portugal, de país atlântico. Sem os Açores e a Madeira, Portugal ficava resumido ao retângulo insular e peninsular. E não admito que líderes nacionais se intrometam nas decisões dos partidos regionais. Nós existimos com partidos com órgãos próprios para tomar decisões. Os partidos nacionais podem ter a sua opinião, mas não passa disso.
O que o Dr. Luís Montenegro pensa aplica-se no continente, o que nós pensamos aplica-se aqui. Temos uma coligação PSD/CDS/PPM que é liderada pelo Dr. José Manuel Bolieiro, com toda a nossa confiança. Tomaremos as decisões. É um homem de diálogo, que nos respeita muito e a nossa liderança é coesa, leal e tem funcionado muito bem. O que o Dr. Luís Montenegro pensa é uma coisa, o que a nossa coligação pensa e quer para os Açores é outra. Nós não recebemos, obviamente, orientações nem do Dr. Luís Montenegro, nem do Dr. Nuno Melo.