10 out, 2023 - 17:41 • Tomás Anjinho Chagas , Manuela Pires
O PS pode voltar a ficar isolado na votação do Orçamento do Estado para 2024. A maioria socialista, que consegue aprovar os documentos sozinha, vai voltar a contar com o voto contra da maior parte dos partidos da oposição.
Enquanto ainda decorria a apresentação do Orçamento do Estado no Ministério das Finanças por parte de Fernando Medina, no Parlamento já chovia um coro de críticas ao documento apresentado pelo executivo.
"O próprio Governo reconhece que a carga fiscal vai subir", começou por apontar o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento. Numa primeira reação do maior partido da oposição, nos Passos Perdidos do Parlamento, o líder da bancada social-democrata acusa o Governo socialista de voltar a cobrar impostos a mais.
Num exercício de comparação, Miranda Sarmento lamenta que o PS não tenha aceitado as medidas do PSD para as classes mais jovens, classificando como uma política "meramente conjuntural" a proposta para o IRS Jovem inscrita no documento.
Tal como tem feito nas últimas semanas, o PSD insistiu numa redução de impostos ainda em 2023, que devolva aos contribuintes os impostos que tem cobrado a mais, impulsionados pela inflação.
Aos jornalistas, André Ventura, líder do Chega classifica a proposta do Governo como um "Orçamento de remendos", que não resolve os problemas do país.
O líder do partido alertou para o facto de a redução do IRS não abranger todos os contribuintes: "Esta lógica de deixar alguns de fora não é certa, nem justa. Pelas nossas contas, cerca de meio milhão vão ficar de fora. Isto é inaceitável", defendeu no Parlamento.
Pelos liberais falou o antigo líder, João Cotrim de Figueiredo, que diz que este Orçamento "não serve a Portugal".
"A IL será contra porque um OE que não põe o país a crescer, desagravando e simplificando impostos, e não trata dos problemas estruturais dos serviços públicos, não é um Orçamento que sirva a Portugal", defendeu o antigo presidente da Iniciativa Liberal.
Da parte do Bloco de Esquerda, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, faz o diagnóstico aos problemas existentes: "temos o país em guerra nos serviços públicos, o OE não responde", introduziu.
"Temos profissionais que estão esgotados porque já fizeram mais de 150 horas extraordinárias ao longo do ano, o OE não responde", repetiu o líder da bancada bloquista, que aplicou a mesma fórmula ao setor da educação.
Pedro Filipe Soares argumenta que o documento apresentado pelo governo "não responde às famílias que esperam que a escola pública seja a garantia do sucesso das suas crianças".
Paula Santos, líder parlamentar do PCP condena o documento porque "foge à necessidade de enfrentar os interesses da banca", que, em sentido oposto, não investe em escolas, hospitais e "equipamentos essenciais" para os serviços públicos em Portugal.
A líder da bancada comunista acredita que nos tempos da geringonça os Orçamentos do Estado melhoravam a vida das pessoas, e que este OE "empurra os trabalhadores e os reformados para a pobreza" e sentencia a conversa anunciando o voto contra do PCP a este Orçamento do Estado, repetindo a receita de 2021 e 2022.
Rui Tavares, do Livre, teceu críticas ao documento apresentado por Fernando Medina, nomeadamente pela falta de políticas mais fortes no setor da habitação. O partido alerta para o facto de as famílias de classe média também estarem a sofrer com o aumento dos preços.
"Estamos a vender a galinha e a não contar com os ovos", condena Rui Tavares falando sobre a venda da TAP, cujo valor vai ser utilizado para abater na dívida pública.
O Livre e o PAN foram os únicos partidos que não votaram contra o Orçamento do Estado para 2023.
Inês Sousa Real, do partido Pessoas Animais e Natureza, fala numa "ilusão" em torno do "suposto alívio fiscal", porque o valor da atualização do IRS é inferior ao valor da inflação.
O PAN critica também o anunciado fim do IVA Zero, que segundo o partido, pode ser a diferença na carteira das pessoas para comprar bens essenciais. E na proteção animal, Inês Sousa Real lembra que o governo não tem atualizado as verbas para a proteção animal em função da inflação.
Do lado de fora do Parlamento, o CDS alerta para um orçamento que vai fazer "os portugueses pagar ainda mais impostos em 2024". Os centristas falam em "mais do mesmo" sobre o documento, sustentando que a redução do IRS agora anunciada "nem sequer compensa o agravamento que as famílias portuguesas sofreram nos últimos dois anos".