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Marcelo dá tempo a Costa para remodelar. "É sempre possível" fazer "mudanças" de "pessoas"

09 jun, 2023 - 21:30 • Susana Madureira Martins

Recebido em festa no Peso da Régua, em plena região do Douro, o Presidente da República deu margem ao primeiro-ministro para remodelar pessoas e ideias. Em pleno "Galambagate", Marcelo Rebelo de Sousa explica porque não dissolveu o Parlamento em maio: "o povo não queria".

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Chegado ao Peso da Régua, várias horas antes do previsto, Marcelo Rebelo de Sousa foi falando ao longo desta sexta-feira com os jornalistas aqui e ali, dentro e fora de cafés e restaurantes, chegando ao ponto de fazer declarações e ao mesmo tempo tirar fotogafias com populares desta região do do Douro.

Pouco antes da apresentação de cumprimentos do corpo diplomático que é habitual nas comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República foi questionado sobre se ainda é possível ao Governo emendar a mão e ir ao encontro do que tem pedido: a demissão de João Galamba. E Marcelo reconhece que "é sempre possível ir percebendo" que há "mudanças que é preciso fazer".

"Em política é sempre possível, quem está nas oposições e no Governo, é sempre possível ir percebendo que há novos desafios, mudanças que é preciso fazer, umas vezes de pessoas outras vezes de ideias e projetos", disse Marcelo aos jornalistas, reconhecendo que "é difícil".

O Presidente acrescenta, aliás, que "é esse o desafio que se põe a todos os que servem o povo, é em cada momento ver o que é que posso fazer melhor do que tenho feito até agora". Aviso implícito para o primeiro-ministro pensar melhor se não é possível "fazer melhor". Até porque, o próprio Marcelo o faz "todos os dias", assumindo que "no passado" fez "muita coisa que não faria da mesma maneira"

Desde 4 de maio, dia em que fez a declaração ao país, criticando a não demissão do ministro das Infraestruturas, que Marcelo não tinha regressado ao tema da dissolução do Parlamento. Esta sexta-feira regressou ao tema.

Confrontado com a opinião dos diversos comentadores que defenderam a dissolução, Marcelo respondeu que "tinha a noção que o povo não queria" que dissolvesse o Parlamento.

Marcelo explica-se nas entrelinhas: aquilo que o povo queria era que o Presidente "realmente chamasse a atenção do Governo", ou seja, que "às vezes é preciso mudar o que não está bem antes que seja muito tarde", concluindo que "foi uma prevenção".

Nestas declarações aos jornalistas no Peso da Régua, Marcelo interpretou-se a si próprio: "Agora não vamos agora deitar o jogo abaixo numa altura em que deitar o jogo abaixo tinha mais custos do que vantagens".

António Costa tem a faca e o queijo na mão com a maioria absoluta, o problema é que uso fazer dela. "Uma maioria absoluta tem uma responsabilidade absoluta", insiste Marcelo, e "é mais difícil ter maioria absoluta do que não ter".

Para o Presidente, com este Governo na posse de uma maioria absoluta "só há uma justificação para as coisas não acontecerem, é haver problemas nas pessoas que exercem o poder". Isto inclui Costa, mas inclui, sobretudo, quem faz parte do elenco do primeiro-ministro. O mesmo quer dizer, um "problema" chamado João Galamba.

Questionado se se tem perdido tempo com casos e casinhos, Marcelo responde que "não há regras gerais, há casos e casinhos importantes para o povo, às vezes um casinho que significa dinheiro mal gasto ou qualquer coisa estranha no dinheiro torna-se um casão, há outros casos que parecem muito importantes mas são muito teóricos para o povo".

É esse jogo de equilíbrio "permanente entre o que pensa o Governo e as oposições" que o Presidente da República administra, porque ambos os lado "pensam exatamente o contrário uns dos outros".

E a avaliação que Lisboa faz de uma "notícia de última hora" não é a mesma que o Peso da Régua faz. O Presidente da República assume para si a função de fazer "o equilíbrio entre aquilo que parece a notícia de última hora, que é fundamental, é dramático e tal, mas faz esquecer problemas de fundo do povo e aquilo que é realmente notícia, mas que tem a ver com problemas de fundo do povo".

As reais preocupações dos portugueses no dia a dia são "o preço do custo de vida, o dinheiro não ser suficiente, o problema da saúde, da educação, a habitação, o custo da habitação, a agricultura", esses são problemas do dia a dia dos portuguesas, alerta Marcelo.

"Há uma parte política que é mais de debate político que, por vezes, apaixona quem vive nas grandes metrópoles ou quem está mais metido na vida política que chega menos às pessoas", acrescenta o Presidente.

Mas também, "nem 8 nem 80", sendo que "o meio termo está na convergência entre o que no dia a dia surge de permanente debate político e o que desse debate interessa em momentos cruciais ao povo".

É nessa posição de por a realidade em perspetiva que Marcelo se coloca, controlando os vários calendários. Questionado sobre a carta que Luís Montenegro enviou ao primeiro-ministro na sequência do caso Galamba, o Presidente diz que é preciso ir por partes no tempo

"Tenho recebido vários documentos, tenho visto com atenção vários eventos na vida política, económica e social", sendo essa a "função do Presidente, "acompanhar o que se passa", sendo este um novo PREC: "trata-se de um processo em curso".

Marcelo não mexe, portanto, no calendário que definiu e a partir do qual pode acontecer alguma coisa ou, pelo contrário, ficar tudo na mesma: "Pura e simplesmente, o que tinha a dizer disse no dia 4, depois falei de um calendário que vou seguir".

E está todo desenhado, segundo Marcelo: "Para a semana vou ter Conselho de Estado com a presidente do Parlamento Europeu, ouvirei os partidos para fixar a data das eleições na Madeira e depois em julho ouvirei os partidos, haverá Conselho de Estado e vou acompanhando as varias realidades".

Ou seja, a realidade é dinâmica, Marcelo espera que o "Galambagate" tenha um fim a seu contento, define o calendário dos próximos meses, dando tempo a Costa para o fazer, e depois logo se vê.
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