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Convenção Bloco de Esquerda

Mortágua vence: Bloco renova, mas não muda

28 mai, 2023 - 17:53 • Tomás Anjinho Chagas

Mortágua luta para recuperar partido e relevância política, mas não vai protagonizar “viragem política”. Partido joga tudo contra maioria absoluta e procura as ruas para fazer oposição.

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Uma renovação em continuidade, uma linha que não vai desalinhar-se. O Bloco de Esquerda mudou de líder. Entrou Mariana Mortágua, e saiu Catarina Martins, mas “não muda muito mais que isso”. A opinião é de Jorge Costa, dirigente bloquista e um dos grandes ideólogos do partido nesta altura. “Não há uma viragem política no Bloco de Esquerda”, assume em declarações à Renascença.

Mesmo com a assumida derrota eleitoral nas últimas legislativas, a estratégia política mantém-se. A ideia é fazer oposição ao PS e denunciar as falhas da governação socialista, e quando isso for possível, voltar a influenciar o poder. A convicção da direção é que o tempo vai voltar a dar a relevância ao Bloco de Esquerda que outrora teve.

Na Convenção do partido, que se realizou este fim-de-semana em Lisboa, as paredes do Pavilhão do Casal Vistoso raramente abanaram. Mais de 80% dos delegados estavam alinhados com a direção de Catarina Martins, e por consequência, com a nova coordenação de Mariana Mortágua. Os restantes queixam-se de falta de democracia interna e manifestam divergências, principalmente na política externa.

A NATO foi, de resto, o único tema que fez subir a temperatura da Convenção, com trocas de acusações em torno da participação do Bloco de Esquerda na delegação da Assembleia da República que fez à Ucrânia. Se por um lado, a atual direção do partido defende que não aceitar o convite seria desprezar o país e as suas instituições, a oposição ataca esta opção dizendo que o convite- feito pelo presidente da Assembleia Nacional ucraniana- vem de uma pessoa com um historial “neonazi”.

Uma Mariana “tão radical como Catarina”

Uma das caras associadas ao lado mais radical do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua chega à liderança com uma fama da qual não terá proveito. Segundo Jorge Costa, Mortágua “é tão radical como era a Catarina”, mas o dirigente bloquista assume que essa reputação foi ganha durante as várias Comissões Parlamentares de Inquérito em que se destacou, como a CPI ao BES.

“Essa constante adjetivação da Mariana revela o desconforto dos donos de Portugal, da elite económica e dos especuladores, com a figura dela”, descreve Jorge Costa.

Nas poucas diferenças que identifica entre as duas, o dirigente bloquista assinala o facto de Mariana Mortágua não ser desconhecida para o público em geral, ao contrário do que aconteceu quando Catarina Martins se tornou coordenadora do Bloco de Esquerda: “A Mariana já chega como uma figura muito conhecida e respeitada”.

Em espera sem mudar de direção

Na torre de controlo bloquista, assume-se a derrota nas últimas legislativas, mas mantém-se a convicção de que o partido decidiu bem ao chumbar o Orçamento de Estado para 2022, que acabou por precipitar eleições- que viriam a depenar o partido.

“Foi isso que fizemos, pagámos esse preço. Mas saímos vivos e autónomos”, considera Jorge Costa. A tese é que, apesar de ter perdido representação, o Bloco de Esquerda não perdeu relevância ao não ceder indiscriminadamente ao PS, e que as consequências (positivas) dessa opção ainda vão chegar.

“A situação do país é tão grave, a vida das está de tal maneira difícil face à falta de capacidade do Governo, que vai ser necessário que a esquerda se mobilize”, projeta Jorge Costa.

No partido lê-se o momento atual como uma fase transitória, e a crença é a de que o tempo vai encarregar-se de voltar a dar expressão ao Bloco de Esquerda. O combate político é feito em oposição ao governo socialista e é nas ruas que o partido vai apostar até que volte a ter a oportunidade de ir às urnas. E se a crise política antecipar eleições? Estão prontos, garantem- e convictos de que cresceriam se fossem hoje a votos.

A esperança e inspiração chegam de França, onde, em 2022, o movimento liderado por Jean-Luc Mélenchon roubou a maioria absoluta ao partido de Emmanuel Macron e suplantou Marine Le Pen, impondo-se como segundo partido mais votado.

PS continua a ser potencial parceiro

Continuar a trilhar caminho, e quando puderem, condicionar o poder. Foi o muro derrubado em 2015 quando o PS deu a mão ao Bloco de Esquerda e PCP e formou a geringonça, e com o tempo há de voltar a ser derrubado, quando acabar a maioria absoluta- acredita-se na sede do partido.

Por agora, é ela o maior alvo da oposição. “Neste momento o PS é o problema, está a abrir caminho ao crescimento da extrema-direita”, vinca Jorge Costa. Mas no futuro, há espaço para voltar a fazer acordos com os socialistas e entrar no arco da governação. “Bloco de Esquerda nunca faltou a soluções”, argumentam.

A estratégia de partir a corda foi seguida pelo Bloco e pelo PCP. Quando sentiram que não conseguiram moldar as políticas do PS ou, pelo menos, influenciar de forma expressiva, os dois partidos votaram contra o Orçamento do Estado e abriram caminho para eleições antecipadas. A convicção no Bloco é que, dessa forma, não perderam a identidade e força. A ideia é voltar a fazê-lo novamente mais adiante.

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