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Convenção do BE

Mariana Mortágua sobre a maioria do PS: "Um ano de espetáculo horroroso"

27 mai, 2023 - 15:40 • Tomás Anjinho Chagas , Pedro Valente Lima

Na apresentação da moção de candidatura à liderança do Bloco de Esquerda, a deputada enumerou as várias "irresponsabilidades" que o Governo de António Costa tem cometido, desde a "degradação do SNS" às "borlas fiscais" às grandes empresas.

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Na apresentação da moção de candidatura à liderança do Bloco de Esquerda, a deputada Mariana Mortágua fez um 'raio-x' à maioria absoluta do PS, "um espetáculo horroroso" e resultado de uma "sucessão ininterrupta de irresponsabilidades".

Na XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, a decorrer até domingo no pavilhão Casal Vistoso, em Lisboa, a candidata a coordenadora do BE repetiu a direção do discurso da líder cessante, Catarina Martins, voltando a colocar os socialistas na mira das críticas.

"Há um ano, sabíamos bem quais eram os riscos da maioria absoluta: prepotência, conluio com os poderes mais opacos. Mas não imaginávamos a que ponto chegaria a maldição que é o poder absoluto."

Mais de um ano depois, Mariana Mortágua não quis comentar "os repetidos tiros no pé do Governo", mas resume a governação socialista como um "espetáculo horroroso": "É o desfecho de uma sucessão de irresponsabilidades".

A deputada bloquista começou por enumerar os vários erros do executivo e do PS de António Costa, a começar pela crise política que acabou na dissolução do Parlamento e desencadeou as eleições legislativas antecipadas, em entre o final de 2021 e início de 2022.

"[Foi] bloquear um orçamento com mudanças sensatas, preferindo aceitar a degradação do SNS: mais de 1,7 milhões de utentes sem médico de família, pois terminou esta semana o concurso para essa especialidade, em que sete em cada dez vagas ficaram por preencher. O Governo está a condenar o SNS ao estrangulamento."

"A resposta à inflação é um insulto diário do poder absoluto"

Mariana Mortágua aponta ainda a uma "segunda irresponsabilidade": "O festival de facilidades". A candidata à liderança do Bloco relembra a venda das seis barragens de concessão pública da EDP sem o pagamento de imposto de selo, as isenções fiscais a residentes não habituais e fundos imobiliários.

"Tudo irresponsabilidades do Governo, que cobra ao salário os impostos que perdoa às elites económicas."

Nesse sentido, a candidata diz que o Bloco de Esquerda vai "disputar a verdade dos impostos para proteger o povo". "E venha o Governo, venham os liberais, venha a direita defender os seus privilégios fiscais, que terão pela frente uma esquerda intransigente e que sabe que fazer as contas que contam."

A "terceira irresponsabilidade do Governo é a resposta à inflação", que, segundo a deputada bloquista, é um "insulto diário do poder absoluto". Mariana Mortágua começa por apontar ao acordo com os patrões, naquela que diz ser "a maior borla fiscal do século às grandes empresas, enquanto se condenam os salários a perdas reais".

E lista outros exemplos, como "um acordo com a distribuição comercial que não toca nos lucros dos supermercados" ou "a cumplicidade do Governo com a banca, enquanto as pessoas sofrem com o disparar dos juros".

"E em cima disto tudo, tanto insulto. Há desempregados de longa duração que ficam de fora do apoio extraordinário às famílias. Há lares que se apropriaram da meia pensão paga em outubro. Só 0,3% dos cuidadores informais recebe o apoio que lhes foi prometido. Há pessoas que desesperam, para saber se a sua vida é difícil o suficiente para caberem no novo apoio."

A quarta e última "irresponsabilidade do Governo" é, na ótica da candidata, "tratar as pessoas que estão a ser empobrecidas como estúpidas": "Professores, médicos, enfermeiros, oficiais de justiça, trabalhadores da cultura e tantos outros que sabem que o anúncio da prosperidade é um anzol".

"O Governo mentiu mesmo aos pensionistas, dizendo-lhes que se não abdicassem do valo real da pensão, o sistema perderia 13 anos de vida. Irresponsabilidade sobre irresponsabilidade. Foi este calvário que nos trouxe aos enredos tenebrosos das últimas semanas."

"O dever da esquerda é unir as vontades sociais que não desistem de lutar por uma vida boa"

Para Mariana Mortágua, o "dever da esquerda é de recuperar forças". Para isso, "não há atalhos" na atuação do BE: "O ódio combate-se com esperança, o ressentimento cura-se com respeito, o pântano supera-se com democracia e não com uma chantagem ridícula que acusa de populista qualquer voz crítica do Partido Socialista ou do Governo."

A deputada bloquista frisa a mensagem crítica ao PS, realçando que a mensagem da sua campanha em "levar o país a sério". "Dizer ao nosso povo que não estamos condenados à degradação e ao vexame que a maioria absoluta impõe a Portugal."

"O dever da esquerda é ser unitária e combativa", sublinha Mortágua, numa ação para "unir as vontades sociais que não desistem de lutar por uma vida boa". "Toda a luta tem um objetivo: é a vida boa, é não estar condenado à exploração, numa vida arrastada e sem sentido."

Mas o que é "vida boa"? "Perguntem aos jovens o que seria se o seu salário pagasse uma casa. Perguntem aos milhares de pessoas que trabalharam a vida inteira sem passar do salário mínimo o que seria para elas uma vida boa."

Para Mariana Mortágua, a resposta é clara: "A vida boa é esquecermos estas perguntas todas quando tivermos a justiça, o cuidado, o clima, pondo de parte esta ganância que tudo engole. A vida boa é o que merece cada pessoa que trabalha a vida assim".

"Habitação, saúde, educação, salário, justiça nos impostos e tempo para tudo o resto: é isso a vida boa."

A candidata à liderança do Bloco de Esquerda termina apontando que o partido "sabe o que quer e com quem vai": "Somos uma esquerda que tem a bandeira da liberdade, toda a vontade e toda a força para a luta que conta".

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