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Caso Galamba

Ex-"superpolícia" critica tratamento "negligente" de informação classificada

05 mai, 2023 - 18:46 • Pedro Mesquita

"Um computador com informação que é classificada nas mãos de um adjunto, a ser tratada por um adjunto, que traz para a rua o computador, isso é que eu acho perfeitamente descabido, estranho", diz Mário Mendes, antigo secretário-geral do Sistema de Segurança Interna.

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Entrevista a Mário Mendes, ex-"superpolícia", sobre caso Galamba e SIS
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Mais do que a intervenção do Serviço de Informações de Segurança (SIS), o antigo secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Mário Mendes, considera sobretudo inquietante a forma que qualifica como "leviana" e "negligente" com que terá sido tratada informação supostamente classificada, contida no computador do Estado que o ex-adjunto de João Galamba terá tentado levar para casa.

Em declarações à Renascença esta sexta-feira, o antigo "superpolícia" diz que é "descabido" e "estranho" que um adjunto de um ministro, no caso das Infraestruturas, tenha nas suas mãos um computador com informação classificada e considera importante que a secretária-geral do Sistema de Informações da República (SIRP) seja esclarecedora neste caso.

Nesta entrevista, Mário Mendes começa por analisar a forma como terá sido alertado o SIS e ressalta que o chamado caso Galamba já provocou suficiente alarme social.

Do seu ponto de vista é legal, ou não, o gabinete do ministro João Galamba chamar o SIS por causa de um computador, que teria sido levado, e que supostamente teria informação classificada?

Se foi o gabinete do ministro das Infraestruturas, não me parece legal. Eu diria que o gabinete do ministro não pode, por si, fazer a requisição do SIS.

O que é que mais o inquieta neste caso, pelos dados que tem ouvido?

O que mais me inquieta não é tanto a questão da intervenção do SIS, nem nada disso. A questão que me inquieta é a forma um bocado leviana como se trata informação classificada. Se é que há, efetivamente, informação classificada naquele computador, não é? Mas, segundo dizem, essa é a razão de ser de toda esta intervenção.

Um computador com informação que é classificada nas mãos de um adjunto, a ser tratada por um adjunto, que traz para a rua o computador, isso é que eu acho perfeitamente descabido, estranho.

Geralmente, imagino, há regras muito apertadas sobre quem tem acesso a informação classificada, ou não?

É obvio. E há diversos graus de credenciação para ter acesso à informação e tem que ser credenciada por serviços próprios.

Parece-lhe normal que um adjunto de um ministério tenha a credenciação para ter num computador informação classificada?

Não, não é normal. Não é normal e acho estranho...até, segundo dizem, com informação de interesse nacional.

Parece-lhe que esta história estará toda mal contada ou, a ser assim, mostra negligência?

Ouça, a ser assim, é óbvio que há negligência e ausência de responsabilidade no tratamento que, no meio disto tudo, é dado a esta a toda esta matéria. Agora, se está mal contada eu não sei, não faço ideia. Acho estranho, não é? No mínimo acho estranho.

O Conselho de Fiscalização do SIS já veio dizer que é tudo normal, aparentemente sem ouvir o próprio adjunto que tinha na sua posse o tal computador com suposta informação classificada...

Não vou comentar porque não sei que elementos é que o Conselho de Fiscalização tem...e que eu não tenho.

Seria essencial que tudo isto fosse muito bem explicado?

Eu estou convencido de que irá haver mais esclarecimento. Mas, o mais importante de tudo é que isto sirva um bocado de lição, e que as pessoas comecem a pensar que têm responsabilidades e que isso não pode ser feito assim.

E o SIS pode ser tratado desta forma? Ou seja, não teme que possa estar a haver um aproveitamento do SIS para fins políticos?

Essa parte não me parece. Mas deverá haver mais esclarecimento, não há dúvida nenhuma.

Deverá haver mais esclarecimento, sob pena de haver alarme social?

Sim, sim, sim. Já houve que chegue, não foi? Mas acho que era importante que a senhora Secretária-geral do SIRP, que também irá ser ouvida sobre esta questão, preste os esclarecimentos que tem a prestar.

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