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Inquérito à TAP. PSD dá Pedro Nuno como "completamente enterrado", quanto a Medina "ainda é muito cedo"

13 abr, 2023 - 16:12 • Susana Madureira Martins

Para os social-democratas, a comissão de inquérito à gestão da TAP ainda está numa fase de "pesca de arrasto", ou seja, é tempo de "desbravar" informação.

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Está a ser uma semana de fogo para Pedro Nuno Santos, à boleia das declarações de António Costa à Lusa a criticar o "relacionamento estratégico" do ex-ministro com a administração da TAP e do depoimento de Manuel Beja na comissão de inquérito à gestão da transportadora. O PSD já dá o socialista como "completamente enterrado".

O inquérito corre em pista paralela à conversa sobre a possibilidade de dissolução do Parlamento e é neste palco que os social-democratas apostam em fazer desgastar o PS e o Governo.

Com meia dúzia de audições, Hugo Carneiro, vice-presidente da bancada do PSD e um dos pivots do partido na comissão de inquérito à gestão da TAP, diz que já é possível concluir que Pedro Nuno Santos é quem está, para já, em maiores dificuldades. Sobretudo tendo em conta a inquirição ao presidente cessante da transportadora.

Para o dirigente social-democrata, a audição de Manuel Beja na terça-feira mostrou que "o Ministério das Infraestruturas tinha grande conhecimento" sobre a indemnização da TAP a Alexandra Reis.

Já nem se trata apenas das ações do ex-secretário de Estado Hugo Mendes, que o Presidente da República e o próprio presidente do PS, Carlos César, já classificaram como "estupidez". É sobre Pedro Nuno que o PSD tem "percebido das audições que o conhecimento é maior do que disse", conclui Hugo Carneiro. Ou seja, "mentiu".

Em causa está o depoimento de Manuel Beja qu, na comissão de inquérito acusou a equipa das Infraestruturas de interferência na gestão da transportadora. Desta audição ficou claro que "tudo o que fosse mediático devia passar pelo crivo ministerial", salienta Hugo Carneiro.

Por comparação a Fernando Medina e tendo em conta as audições já realizadas, o dirigente social-democrata vê Pedro Nuno Santos como estando "completamente enterrado".

Carneiro admite que em relação ao ministro das Finanças "ainda é muito cedo" para concluir o quão ferido pode sair desta comissão de inquérito. Mas fica desde já a farpa após a revelação do tempo que Manuel Beja demorou a ter uma resposta: "oito meses à espera de Fernando Medina?".

Para já a estratégia do PSD é ouvir personalidades consideradas secundárias, mas vitais para depois acarear os protagonistas que tutelam ou tutelaram a TAP - as Infraestruturas e as Finanças.

Neste momento, o PSD está como que a montar a teia, ou como diz Hugo Carneiro a fazer "pesca de arrasto". Ou seja, a juntar o máximo de informação. Em relação aos documentos "ainda não está tudo desbravado" e o puzzle vai sendo construido. "Quando temos uma audição escarafunchamos", explica Carneiro.

Nos últimos dias os social-democratas chamaram ao Parlamento o atual ministro das Infraestruturas, na sequência da "reunião secreta" mantida em janeiro com a CEO da TAP, João Galamba e os deputados do PS. Mas a regra é retardar o mais possível as audições aos ministros e ex-ministros para melhor arrecadar.

"Os principais atores políticos devem poder ser confrontados com aquilo que consigamos apurar nas audições anteriores", admite Hugo Carneiro. E é por isso que se vão mantendo sem data as audições quer a Pedro Nuno quer a Medina.

Se o ex-ministro das Infraestruturas "já tivesse vindo à comissão não seria confrontado" com as declarações de Manuel Beja. Mas o deputado garante: "se houver alguma circunstância chamamos" e salienta que Pedro Nuno "pode ser chamado mais do que uma vez". E aí é-se "obrigado a dizer a verdade". É a diferença do inquérito em relação a uma qualquer comissão permanente.

A tal "pesca de arrasto" implica desde logo que os deputados fiquem encharcados em informação que às tantas nem conseguem interpretar isoladamente. Carneiro refere que perante a "documentação recebida, não percebemos a intensidade dos documentos".

O dirigente do PSD dá um exemplo: "Quem lê as atas das reuniões da administração da TAP não depreende grandes discordâncias" entre os administradores. Só depois, "ouvindo os administradores a percepção é outra, a discordância é visceral".

Os social-democratas "atuam em várias frentes" e não escondem que "o objetivo é apurar e tirar consequências" e "ver que verdade" se apura. Para Hugo Carneiro, a "utilização da TAP como se fosse uma empresa particular do ministro por whatsapp é inadmissível. Seja por via legal ou por via de transparência", em mais um remoque a Pedro Nuno Santos.

Outra farpa é deixada à Inspeção Geral de Finanças que Carneiro acusa: "Não apurou tudo, só olhou para o que lhe interessava. O relatório tem pouco valor". O dirigente social-democrata acrescenta que com o inquérito "é preciso ir para lá disso".

A comissão tem um período de 90 dias para funcionar, que pode ser prolongado. Carneiro admite que vá "até ao verão", ou seja, julho, mesmo em cima das férias parlamentares.

É precisamente nessa altura que é suposto que Pedro Nuno Santos reassuma o lugar de deputado. É em julho que terão passado os 180 dias de suspensão do mandato e, obrigatoriamente, ou o ex-ministro regressa ou tem de renunciar.

É sabido que Pedro Nuno quer mesmo assumir o lugar de deputado e isso deverá acontecer nos primeiros dias de julho, segundo apurou a Renascença, provavelmente já depois de ter prestado declarações na comissão de inquérito à gestão da TAP.

Nesse regresso ao Parlamento Pedro Nuno deverá ser integrado numa ou duas comissões, garante fonte da bancada socialista. O ex-ministro mantém ainda a intenção de se ficar em silêncio até setembro, ou seja, até iniciar o programa de comentário na SIC.

Esse silêncio, ao que sabe a Renaacença, quer dizer que Pedro Nuno não deverá aceitar dar entrevistas, participar em programas ou afins antes de setembro. Mas irá de certeza prestar depoimento na comissão de inquérito à TAP. E o difícil é que essa audição não signifique um violento quebrar de silêncio.

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