07 dez, 2022 - 21:08 • Tomás Anjinho Chagas
Eduardo Ferro Rodrigues, antigo presidente da Assembleia da República (PAR), alerta para a “distribuição de cargos e honrarias” que alimentam populismos, mas acredita que “é em democracia que se combate a corrupção”.
Durante a apresentação de um livro que contém os discursos que proferiu enquanto PAR- que decorreu precisamente no Parlamento- Ferro Rodrigues dedicou-se a comentar as suas preocupações: “o que me preocupa é a democracia em Portugal”, introduziu. Mas apesar de prometer que “não iria” fazer um discurso político, não resistiu em lançar farpas aos que “exploram o que há de pior” no ser humano e avisos aos que, no poder, “alimentam o populismo”.
“Não é fácil combater o discurso simplista e antidemocrático”, admite Ferro Rodrigues. Mas para isso, destaca o papel do Parlamento, que perdeu centralidade com a conquista da maioria absoluta do PS - partido a que pertence.
O antigo secretário-geral do PS acredita que “tudo o que é corrupção e tráfico de influências, défice de transparência na distribuição de cargos e honrarias, são evidentemente bases muito fortes do crescimento do populismo”.
Mas para inverter a tendência, Eduardo Ferro Rodrigues citou Churchill e adaptou a frase do antigo primeiro-ministro britânico para reforçar que a democracia “é o melhor de todos os sistemas”. Por isso, a antiga figura máxima no Parlamento acredita que “só se pode combater a corrupção em democracia”.
Ferro pede que não se confunda “o combate, com boas intenções, ao politicamente correto” com o que considera que são os “saudosismos aos tempos de impunidade na violência doméstica, supremacia racial, homofobia e desprezo pela individualidade dos outros”.
Além de apresentar o livro que junta as intervenções que teve durante o mandato de presidente da Assembleia da República (2015-2021), Ferro Rodrigues inaugurou o seu retrato oficial - todos os que ocupam este cargo têm direito a uma pintura na parede do Parlamento.
O retrato de Ferro Rodrigues contém, no canto e de forma discreta, uma máscara facial e um frasco de álcool gel, dois objetos que representam o pico da pandemia - altura que coincidiu com os últimos anos de mandato dele enquanto presidente das Assembleia da República.
A apresentação do livro contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa, do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, a antiga presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, do presidente da Associação 25 de abril, Vasco Lourenço, do Bispo Auxiliar de Lisboa, Dom Américo Aguiar, bem como da família, onde se inclui a apresentadora Rita Ferro Rodrigues.