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Abusos sexuais. Marcelo não compreende as críticas dos partidos, mas "não pode amuar"

11 out, 2022 - 20:52 • André Rodrigues

Presidente da República insiste que "parece curto" o número de casos reportados à Comissão Independente que investiga os abusos sexuais na Igreja Católica. Mas admite que os números possam ser superiores: "424 casos de coragem cívica e muitos que ficam por apurar".

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O Presidente da República diz não compreender as críticas de que foi alvo por parte de vários dirigentes partidários, depois de ter dito, esta terça-feira, que os 424 casos apurados pela Comissão Independente que investiga os abusos sexuais na Igreja Católica não era "particularmente elevado".

"Não compreendo", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações à RTP, quando foi questionado sobre o coro de críticas às suas declarações.

No entanto, acrescentou que, "em Portugal vivemos em democracia e, portanto, os dirigentes partidários e os deputados têm liberdade de formular críticas e o Presidente não pode amuar nem pode reagir como se não fosse democrata. Aceita, naturalmente, as críticas".

Ainda antes destas declarações à televisão pública, no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa divulgou uma nota no site da Presidência em que reafirmava que o número de casos de abusos sexuais validados pela Comissão na Igreja Católica "não parece particularmente elevado face à provável triste realidade", admitindo números "muito superiores" no país.

"Parece-me curto para aquilo que eu penso que foi o fenómeno, como aliás no mundo. Foi mais pesado, mais grave mais duradouro. Simplesmente, quer pelo decurso do tempo, quer pela inibição das pessoas, num regime em ditadura em relação a ela e, agora, em democracia, em relaçao ao que se passa em democracia, o número é de 424 casos de coragem cívica e muitos que ficam por apurar", disse Marcelo na RTP.

Questionado, ainda, se o facto de ser católico praticante estaria a interferir com a função presidencial, Marcelo esclareceu que se a fé católica tivesse influência no seu comportamento ou na avaliação que faz dos casos, não teria assinado "uma denúncia de ação ao mais importante dos bispos portugueses", numa referência ao envio para a Procuradoria-Geral da República de uma denúncia envolvendo D. José Ornelas, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

"Eu pus a minha assinatura na suspeita que me chegou relativamente a um bispo que, por acaso, é o presidente da conferência de todos os bispos para que o Chefe da Casa Civil participasse ao Ministério Público", disse Marcelo.

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  • José Joaquim Cruz Pinto
    12 out, 2022 ILHAVO 07:58
    E se "amuar" / "amuasse" que relevância terá / teria? Os factos em causa não têm atenuantes (muito menos numéricos*), nem são merecedores de qualquer complacência ou perdão público - só o divino está ao seu alcance. *A associação da "atenuante mumérica" a um suposto incentivo à investigação e denúncia foi porventura oportuna e habilidosa, mas pode soar a insulto às vítimas, aos cristãos, e a qualquer ser humano decente.
  • José J C Cruz Pinto
    12 out, 2022 ILHAVO 02:50
    Foi o maior disparate que poderia ter proferido, ... e proferiu. A enormidade, maldade, e a absoluta vergonha de um só caso que fosse não são matéria de opinião, fora ou dentro da Igreja Católica - são factos que nunca deveriam ter acontecido - como aconteceram - nem escondidos - como foram, durante muitos anos. O coordenador da comissão que colige e investiga os casos usou a expressão "endémica" para caracterizar a provável situação passada, tal como se lhe revelou. Será também uma mera opinião, e ter-se-á enganado?

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