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"Cheguem-se os 'Joões' à frente." Na freguesia comunista de Couço pede-se um sucessor para Jerónimo

18 jan, 2022 - 06:20 • Beatriz Lopes

João Ferreira tem insistido na ideia de que “a CDU não é uma força de um homem só, nem de dois, nem de três”, mas na freguesia do Couço, concelho de Coruche, um dos bastiões comunistas na região do Alto Alentejo e Ribatejo, há quem acredite que só um agradaria. Tem é de ter “sangue na guelra” para “puxar pelo partido”.

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Na Freguesia do Couço, em Coruche, terra “onde os novos não se governam”, o aparelho partidário da CDU enche a Casa do Povo, mas não é capaz de parar nem por instantes uma boa e velha bisca, ali ao lado, na Praça 25 de abril.

“No Couço, quem manda é a CDU! Mas o Jerónimo já está gasto”, diz Joaquim Estêvão, na casa dos 80, rodeado por outros “camaradas” que preferem o anonimato, embora estes não sejam tempos de clandestinidade como aqueles que viveram nesta freguesia comunista antes do 25 de abril.

Se noutros tempos Joaquim trabalhou de “sol a sol” e foi participante ativo na conquista da jornada de oito horas laborais, hoje já só pede alguém com o mesmo “sangue na guelra” que seja capaz de defender os direitos dos trabalhadores.

Tem de haver sangue novo

“A CDU tem perdido eleitorado pela má gestão e direção. Tem de haver sangue novo! Está na altura de Jerónimo de Sousa descansar e os “Joões” chegarem-se à frente. Ao tempo que o partido precisa de uma lufada de ar fresco. Fui preso pela PIDE quando tinha 17 anos e, por esses tempos, ficarei sempre ao lado do povo”.

Entre uma cartada e outra, lá vamos conhecendo esta freguesia que tem pouco mais de dois mil habitantes, de onde “a malta nova tem saído para o estrangeiro ou para Lisboa porque, hoje em dia, três máquinas no campo já fazem o trabalho de muitos homens”.

Das três máquinas de campo para os três homens da CDU nesta campanha, António, de 71 anos, acredita que um só agradaria a muitos homens, e mulheres, comunistas: João, o Oliveira”.

“É cá dos nossos, do povo, tem muita tarimba. Os velhos já não sabem nada, têm de ser os novos a puxar pelo partido. E se ele agora fizesse acordo com o governo, sempre conseguíamos passar mais qualquer coisinha”.

De ouvido atento, e ali ao lado, Albino Silva, de 58 anos, também aposta fichas no líder parlamentar comunista.

“Tanto João Ferreira como João Oliveira são a lufada de ar fresco de que o partido precisa, mas o Oliveira sabe argumentar melhor, viu-se pelo desempenho que teve no debate frente a Rui Rio, e que nos honrou. O Jerónimo de Sousa foi importante em 2004, quando substituiu Carlos Carvalhas. Ele – sempre acusado de muito ortodoxo- conseguiu segurar o partido comunista que se estava a fracionar”.

Hospital mais próximo fica a 70 quilómetros

É com Albino Silva que apressamos o passo até à Casa do Povo do Couço. Nas ruas, um carro aparelhado de propaganda a levar a Carvalhesa a cada esquina, sendo certo que quem por ali passa, já a sabe de cor.

“Costumamos dizer que aqui, no Couço, os comunistas são porta sim, porta não e, ali ao lado, em Santa Justa, são porta sim, porta sim. Mas a população está muito envelhecida e é também por isso que tem havido aqui uma quebra no eleitorado da CDU. Morrem aqui cerca de 50 a 60 pessoas por ano”.

A juntar-se a uma população envelhecida, também a alienação política de alguns que, apesar de continuarem a votar, “vão ficando cansados e sem esperança”.

“Há princípios que a CDU defende ao nível do aumento das pensões e do investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Nós, aqui, estamos a 70 quilómetros do Hospital Distrital de Santarém. Não temos bombeiros. E, quando há uma emergência, os bombeiros chegam duas horas depois. Uma pessoa aqui não sobrevive a um AVC se for importante atuar na primeira hora”.

E são mais as vozes de descontentamento que, à porta da Casa do Povo, se vão ouvindo.

“No Couço temos um centro de saúde, mas eu já há um ano que não tenho médico. Como é que eu vou para um hospital que fica a tantos quilómetros com as dificuldades de mobilidade que tenho?!”, questiona Manuel Ferreira.

João Ferreira defende o aumento das pensões e o SNS

Desabafos que João Ferreira não precisou de ouvir antes de ser recebido por um público já fiel, na Casa do Povo do Couço. Até porque como o mesmo relembrou, já por ali tinha passado nas presidenciais do ano passado e nas europeias de 2019. O que não mudou, foi o discurso: centrado no investimento no Serviço Nacional de Saúde e nas pensões.

Com a sala cheia de reformados, o atual vereador da CDU na Câmara de Lisboa fez questão de sublinhar que “havia condições para avançar com o aumento extraordinário das pensões já em janeiro”, acusando o Governo de utilizar o argumento da rejeição do Orçamento do Estado para não o fazer.

Na opinião do antigo eurodeputado comunista, o PS está a fazer "uma espécie de chantagem com os reformados e os pensionistas" para influenciar o voto", ao mesmo tempo que continua a "atirar as propostas para 2026".

O dirigente comunista criticou ainda o afastamento daclasse política “em relação à realidade de milhões de trabalhadores, de reformados e de pensionistas do país”.

“Afastamento face ao que são as dificuldades não só de viver com uma baixa pensão, mas ter de fazer das tripas coração quando temos algum problema de saúde, e como acontece aqui no Couço, se tem de ir para Coruche ou mesmo em determinadas circunstâncias já não chega a Coruche se tem de ir para a capital do distrito, para Santarém”.

A campanha prossegue esta terça-feira com ações previstas em Loures, onde João Ferreira se encontrará com empresários da restauração. Seguindo-se, à tarde, uma visita a uma exploração agrícola em Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro e com dia a terminar com um Comício, no Convento de São Francisco, em Coimbra.

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