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Autárquicas

“Se o PSD decide manter este líder, o Chega tem de assumir o lugar de principal partido da oposição”

16 set, 2021 - 07:15 • Susana Madureira Martins (entrevista) e Sofia Moreira (imagem)

André Ventura apresenta caderno de encargos para acordo com Moedas em Lisboa e acredita que em “muitas autárquias será impossível governar sem o Chega e com estabilidade”.

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André Ventura. “Se o PSD decide manter este líder, o Chega tem de assumir o lugar de principal partido da oposição”
André Ventura. “Se o PSD decide manter este líder, o Chega tem de assumir o lugar de principal partido da oposição”

O líder do Chega, André Ventura, não afasta um cenário de entendimento com o PSD em Lisboa nas eleições autárquicas e aponta como objetivo chegar aos 5% ou mesmo 8% no total nacional. Em entrevista à Renascença, Ventura assume ainda que será difícil a prazo firmar um acordo com o actual PSD e "com este estilo frouxo de Rui Rio ainda bem que não há acordo nenhum", a quem pede mais combatividade.

Esta decisão do Ministério Público para ilegalizar atos políticos do Chega desde setembro de 2020 veio atrapalhar a campanha eleitoral do partido ou até serviu que nem ginjas para uma certa vitimizaçao que pode trazer votos?

Evidentemente, ficámos preocupados. Quero deixar o esclarecimento, ao contrário do que vi escrito em muita imprensa, o Ministério Público nunca diz que o Chega está ilegal, nem nunca pede a invalidade de todos os actos políticos. O que pede é que não seja permitido que as alterações estatutárias e apenas essas feitas no congresso de Évora [realizado em setembro de 2020] possam ser admitidas, a nosso ver erradamente, porque ficou claro para os militantes que íamos alterar estatutos, desde logo porque as moções ou são estatutárias ou políticas. O que está em causa é: as alterações dos estatutos feitas em Évora não serem admissíveis, o que faz o partido juridicamente ter de adaptar a estrutura que tinha antes do congresso de Évora à nova situação. Não vou dizer que não é uma situação difícil , porque obriga-nos a uma série de mudanças, por exemplo, não havia secretários-gerais, foi uma figura criada no congresso de Évora, e os secretários-gerais tomaram uma série de actos..

...tudo isso teria de ser anulado?

Teria de ser pelo menos reenquadrado e isso não nos traz nenhuma vantagem, pelo contrário. Se me pergunta se isto é perseguição do Ministério Público, vamos lá a ver, o Ministério Público, quero acreditar, está a defender a legalidade. Acho que está errado neste aspecto concreto, mas vamos contestar junto do Tribunal, é isso que temos de fazer. O 'timing' é o melhor? Não é, de facto, mas não podemos pedir aos procuradores ou aos magistrados 'espera aí que agora há eleições' daqui a dois dias ou daqui a cinco ou daqui a dez. levo isto com alguma naturalidade, reconheço que é um momento difícil, podemos ser obrigados a fazer um congresso extraordinário que é logisticamente e politicamente inadequado para o partido, neste momento, e desajustado, mas vamos contestar. Não me faz sentido nenhum, por causa de uma convicatória, de que nenhum militante se queixou, vir o Ministério Público vir dizer que agora os actos têm de ser anulados.

Fale-me da meta eleitoral com que sonha para o Chega, que resultado eleitoral gostava de atingir nestas eleições autárquicas?

O Chega vem do nada, com um crescimento abrupto muito grande, primeiro com a entrada no parlamento e depois com sondagens muito fortes, mas que nós temos que nos manter ligados à terra. Temos um deputado na Assembleia da República, portanto, por muito que as sondagens nos coloquem nalguns lugares cimeiros, temos um deputado. Tenho sido ambicioso, mas também tenho pedido ao partido que olhe para a especificidade que a eleição autárquica tem.

Que não é a mesma das presidenciais?

Evidentemente, é aí que quero chegar. Nas presidenciais escolhem-se personalidades, figuras e aí os portugueses escolheram, deram-me uma votação massiva, mas não podemos ligar eleições presidenciais com autárquicas.

Pode encolher o resultado nas autárquicas?

Nem sequer é encolher, porque não acho que o resultado das presidenciais se possa dizer que é um resultado partidário, é um resultado de uma figura que é líder de um partido, que teve o apoio do partido, um apoio fundamental, mas não devemos misturar as duas eleições. Quero ser terceiro e tenho estabelecido para o partido ser terceiro na noite eleitoral porquê? Porque sistemática e consolidadamente desde há quatro, cinco meses para cá, as sondagens colocam-nos em terceiro lugar, às vezes em quarto, com o Bloco de Esquerda na disputa. Não vou ser irrealista e dizer que quero ter mais mandatos do que o PSD ou mesmo do que o PCP, que tem autarcas em terras muito pequeninas há trinta anos. Quero mais votos. Queremos mostrar que estamos implantados em todo o território nacional, quero ter autarcas praticamente no país todo, dar voz às populações, aprender o que é a proximidade com as populações, porque o Chega ainda não tem isso, tem uma ligação ainda muito nacional, quase mediática com as populações. Por outro lado queremos ser terceira força política em número de votos. Quando se fizer a contagem da noite eleitoral em número de votos o que quero é: infelizmente e aparentemente o PS ficará em primeiro lugar, em segundo o PSD e em terceiro o Chega.

Aponta para que percentagem?

Gostaria de ter um número entre os cinco e os oito por cento nestas eleições autárquicas a nível nacional, estou a falar de votos totais. Sei que há zonas no Alentejo, no Algarve, em Setúbal, eventualmente à volta de Lisboa, onde vamos ter, provavelmente, 12%, 13%, 14%, 15%.

Estamos a falar de que autarquias?

Loures, por exemplo, Sintra vamos ter um bom resultado, também, Cascais, também, no Alentejo, no interior, onde sou candidato, em Moura [à Assembleia Municipal], estou convencido que vamos ter um excelente resultado, em Mourão, também, em Serpa, em Reguengos, em Sesimbra, no Algarve acho que vamos ter excelentes resultados em grande parte das cidades algarvias. Agora, isto depois é contado e há zonas onde temos mais dificuldade, temos de reconhecer isso. Há zonas onde o eleitorado de direita se divide mais entre o Chega, o PSD e o CDS.

No ínicio do verão dizia que conseguia tirar metade do eleitorado ao PSD. Esse é um objectivo para o Chega?

Não é pelo PSD. O que temos visto é que Rui Rio não é capaz de fazer oposição à direita e o que sinto muitas vezes, quer com o Chega, quer com o CDS, quer com o PSD, é que muita gente me diz na rua, tal como deve dizer ao Francisco [Rodrigues dos Santos, líder do CDS] e ao Rui Rio 'eh pá, nós queremos uma oposição, mas essa oposição não existe'. Portanto, quem é que tradicionalmente devia ter a responsabilidade principal de líder da oposição? É Rui Rio. Ora, Rui Rio, neste momento, não sabe fazer esse papel, ou não quer. Não sabe ou não quer, porque reconheço-lhe competência. Quando é assim, só temos uma hipótese: se o PSD decide manter este líder e é legítimo que o faça, então o Chega tem de, progressivamente, assumir o lugar de principal partido da oposição. Neste momento isso é irrealista? Já vi sondagens em que o PSD está com 22% e o Chega com 10%. Estamos a 12 pontos do PSD, não é assim tão irrealista. Existimos há dois anos e meio, o PSD está nas televisões portuguesas há quarenta. Acredito que conseguiremos em dois, três, quatro, cinco anos ultrapassar o PSD e esse não há dúvidas é o nosso grande objectivo, ser o principal partido da oposição ao PS.

Gostava de ter tido Suzana Garcia, a candidata do PSD à Amadora, como candidata do Chega, a esta ou a outra autarquia?

Estou muito contente com o meu candidato à Amadora, foi meu vice-presidente, o José Dias, tem uma ligação à polícia extraordinária, líder do sindicato das polícias, com um conhecimento do terreno extraordinário e um homem combativo. Se me perguntasse se gostava que a Suzana Garcia estivesse no Chega, acho que a Suzana Garcia pensa como o Chega em muitas coisas, tem convicções próximas do Chega, só está no PSD, provavelmente, porque lhe dá mais jeito...

...porque não conseguiu trazê-la para o Chega...

Mas eu vou dar uma má notícia à doutora Suzana Garcia: eu vivi aquilo que ela está a viver no PSD e vivi com muito mais impacto, até, pelo impacto e a pressão, porque eu já era dirigente do PSD. Ao contrário da Suzana Garcia eu já tinha um caminho feito no PSD de dirigente, quer a nível distrital, quer a nível nacional, fui conselheiro nacional, tinha sido dirigente da juventude [JSD] e sei o que passei, mas não me arrependo. Foi o ter sido candidato a Loures, com tudo o que aconteceu relacionado com a minha candidatura a Loures, que permitiu perceber que o PSD já não dava. Foi em Loures que nasceu o Chega. É por isso, talvez, que, em algumas sondagens nos dêem à frente do PSD em Loures. As pessoas perceberam que o percurso que tínhamos de rutura este PSD já não era capaz. Acho que a Suzana Garcia vai perceber que o PSD não é o caminho, como eu percebi e cedo ou tarde vai juntar-se ao Chega. Acho que é isso que vai acontecer. Pode resistir e dizer que não quer e é legítimo, mas acho que o caminho natural dela será cedo ou tarde próxima do Chega, porque ela defende o que o Chega defende.

Vai convidá-la a prazo para se aproximar?

Não é preciso convidá-la, acho que acontecerá naturalmente.

Considera Nuno Graciano um bom candidato a Lisboa? Tem mostrado diversas fragilidades, desconhecimento sobre a cidade em diversas ocasiões, ou acha que é óptimo?

Se não achasse não o tinha convidado.

Acha que dá para o Chega ter um bom resultado?

Acho que sim, vamos ver. Sei que as sondagens neste momento não nos são o mais favorável possível, começaram muito altas, estão a baixar. O Nuno tem duas coisas que admiro muito, é uma pessoa de conversa terra a terra, muito prático e muito directo. Quando ando com ele na rua vejo a simpatia que há entre ele e as pessoas. É uma pessoa humilde, não se importa de aprender e que quer aprender para poder responder a esses problemas. Acho que é umafigura diferente do político de carreira e eu no Chega gosto de fazer coisas diferentes. Já foi de tudo, já foi apresentador de televisão, já foi empresário, já esteve desempregado, é pai de quatro filhos, é um homem que teve de lidar com dificuldades na vida, teve o sucesso e a derrota, são as pessoas que eu gosto.

Porque é que o André Ventura não se candidatou a Lisboa?

Os nossos opositores mais não fazem do que dizer que o Chega é um partido de um homem só. Se me candidatasse a Lisboa que mensagem passaria eu ao país? O partido tem de apostar noutras caras e tem de desdobrar-se noutras caras.

Ou o resultado em Lisboa não seria aquele que desejaria?

Se fosse eu o candidato não sei como seria, se seria melhor ou pior do que o Nuno Graciano, vamos ver na noite eleitoral, o que sei é isto: era momento de desdobrar os rostos no Chega, ou seja, um partido que será hoje o terceiro em número de militantes, que tem o crescimento que tem que o colocam em terceiro lugar, que comeu o CDS, a Iniciativa Liberal, o PCP e o Bloco de Esquerda, na maior parte das sondagens, então e o líder é que tem de ser o rosto de todas as acções? O líder é mediático por força daquilo que fazia antes e o percurso que teve na política, mas é tempo de o partido apresentar novos rostos. O crescimento que o Chega tem nunca vi em nenhum partido em Portugal, honestamente.

Mas a dada altura isso também tem um limite, estagna.

Acredito que sim, mas só o que já crescemos vai precisar num determinado momento de reconfiguração. A partir de dia 27, provavelmente se tudo correr coo o esperado, nós teremos centenas de autarcas pelo país todo, deputados municipais, membros de freguesia, Assembleias de freguesia e vereadores, já não está láo André Ventura. Aquelas pessoas são a ligação às pessoas. O partido que sonhei não é um partido de protesto como o Bloco de Esquerda, é um partido de implantação local como o PSD e o PS. O Bloco de Esquerda vai a 115 câmaras e tem 25 anos e nós vamos a 220 sozinhos, sem uma única coligação em qualquer parte do país. Queremos ser esse partido local e tínhamos essa responsabilidade. Os resultados vão ser o que eu quero? Provavelmente não.

Como é que conseguiu ter candidatos a 220 câmaras?

É o crescimento orgânico do partido, as presidenciais ajudaram a consolidar a mensagem do partido e a aproximar estruturas, é um partido que cresceu tanto que tem até dificuldades em aglutinar todas as tendências que existem dentro dele por virem pessoas das mais diversas tendências e proveniências partidárias ideológicas, alguns, muitos abstencionistas, até comunistas do Alentejo e do Algarve. Temos aqui uma confluência muito grande de pessoas num partido que não tinha estrutura partidária para receber tantos milhares de pessoas. Temos o dobro de candidaturas do Bloco de Esquerda, para as pessoas terem a noção da dificuldade logística, financeira do que estamos a fazer.

Admite uma coligação pós-eleitoral com Carlos Moedas em Lisboa, no caso de a maioria na câmara não ficar clara? Já houve conversas nesse sentido? Há abordagens ou nada?

Que eu saiba não houve conversas nenhumas nesse sentido, embora elas tenham uma dimensão local apesar de poder acompanhar como acompanhei nos Açores, há sempre uma dimensão da distrital de Lisboa que é dirigida pelo Pedro Pessanha e dos próprios vereadores que serão eleitos pelo partido Chega, mas que eu saiba não têm existido. O Chega se foi sozinho às eleições quer manter o seu ADN intocável. Se me disser, penso eu, e será uma decisão tomada em Conselho Nacional a seguir às eleições autárquicas, que é fundamental para afastar os socialistas do poder, bom então nós o que faremos, provavelmente, porque não sou só eu que decido, é o que fizemos nos Açores, vamos fazer um caderno de encargos, meus amigos se for para afastar o PS do centro de poder estamos disponíveis, mas com que condições? Luta contra a corrupção, reduzir a dívida da câmara e a despesa que tem tido, reduzir subsidio-dependência que em Lisboa é uma vergonha, acabar com esta brincadeira cde destruir empresas e prejudicar a mobilidade por causdas ciclovias com o dinheiro da Europa, um caderno de encargos para dizer que se for assim estamos cá, se não for estamos na oposição.

Estamos a falar de Lisboa?

De Lisboa, não quero falar do país todo para já. Lisboa tem uma leitura nacional. Eu terei uma palavra a dizer, naturalmente porque sou o presidente do partido. Temos a percepção de que PS e PSD são a mesma coisa, ou pelo menos são parecidos. Só com um caderno de encargos muito rigoroso e um programa de compromisso muito rigoroso é que seria possível. Se me disserem assim: é a única forma de tirar Medina da câmara municipal. Bom, então se calhar admitiríamos uma solução desse género.

Há dirigentes do PSD que já admitem essa aproximação ao Chega. Tivemos aqui na Renascença uma entrevista ao presidente dos autarcas sociais-democratas que defendia isso. Essa aproximação pode acontecer não só em Lisboa, mas também noutras autarquias?

Tenho achado graça à evolução do PSD, porque um dia é uma coisa, outro dia é outra. Num dia Rui Rio diz que gostava que não houvesse nada, temos o presidente dos autarcas a dizer que, provavelmente haverá acordos e repare que no fim disto tudo a gente retira que o Helder [Silva], presidente dos autarcas sociais-democratas e presidente da câmara de Mafra, tem a noção clara de que em muitas autarquias será impossível governar sem o Chega com estabilidade. Isso é uma visão realista das coisas.

Tem essas contas feitas, onde é que isso pode acontecer?

À volta de Lisboa, em muitos sítios. Loures, Cascais, Sintra, Oeiras também, por exemplo, onde temos um candidato que é presidente de junta com vasta experiência, como aliás no Porto. Acho que no Sul em muitos sítios estaremos à frente do PSD, como acho que foi reconhecido por Rui Rio na noite das presidenciais o nosso resultado no Alentejo e no Sul é extraordinário e acho que nalgumas regiões vamos estar à frente do PSD e pode até ser o Chega a precisar. Dou-lhe o exemplo de Moura, onde sou candidato. Se vencer Moura como espero se calhar vamos precisar do PSD para um governo estável em Moura e aí a questão colocar-se-á ao contrário. Estará ou não o PSD disposto a garantir a estabilidade do Chega para governar um município?

É um convite que faz aqui?

É uma possibilidade que o PSD tem de colocar, é fazer o cenário ao contrário. Os eleitores pedem-nos: 'tirem-nos o PS do governo'. Aparentemente, Rui Rio não quer porque acha que lhe tiro votos e posso ser nocivo ao PSD. Francisco Rodrigues dos Santos [presidente do CDS] vê o partido a definhar, mas também acha que não é bom aproximar-se de mim e a Iniciativa Liberal acha que ser um Bloco de Esquerda à direita é uma coisa mais fascinante e que é fixe e dá mais votos. Acho que estão todos enganados. O eleitorado vai pedir-nos uma alternativa e o Chega foi o único que apresentou uma proposta de alternativa.

Estas autárquicas são críticas para a direita portuguesa, podem ajudar a definir pelo menos duas lideranças, quer Rui Rio quer Francisco Rodrigues dos Santos assumem que o cenário não é fácil. Funciona bem para o lider do Chega esta crise na direita? Serve-lhe?

Não, não funciona bem. Não fico nada contente e já disse isto ao Rui Rio e ao Francisco Rodrigues dos Santos que não devíamos ficar contentes quando andamos a tirar votos uns aos outros. O Chega continua a crescer, mas o PS continua perto dos 40%. Isto significa que não estamos a fazer o nosso papel que é ir buscar abstencionistas e ir buscar eleitores do PS. Quem é que tem mais facilidade de ir buscar eleitores do PS? É o Chega ou o PSD? É o PSD. Se o PSD se deixar de preocupar com o eleitorado do Chega e se preocupar com o que tem de se preocupar, que é aquele eleitorado ali volátil ao centro, talvez hoje não tivessemos este cenário, talvez estivessemos num cenário em que pudessemos ser governo. Assim, o que vai acontecer, provavelmente, é que Rui Rio vai enfrentar uma crise interna a partir de janeiro, Francisco Rodrigues dos Santos não sei, no Chega penso que isso não existe, fui eleito há muito pouco tempo, não há neste momento uma questão de liderança no Chega mesmo que o resultado não seja satisfatório.

Aqui a questão é com que lideranças é que o Chega vai conversar no pós-autárquicas.

Isso não depende de nós, depende dos partidos. Os militantes dos outros partidos, se me permitem dar um conselho, uma advertência, ou nós temos uma liderança forte e temos todas as condições, o eleitorado da direita é metade do país, temos todas as condições mesmo com os nossos estilos diferentes, com um mercado eleitoral diferente, de termos eleitorados estáveis e sólidos. Este eleitorado do Chega, uma grande parte veio da abstenção, não votava há anos, outra parte vem do CDS e do PSD, outros são pessoas desencantadas com a política e com o sistema e no sul do país muitos deles eram comunistas e socialistas até ha pouco tempo e têm problemas com a comunidade cigana nalgumas zonas e reconhecem-se no meu discurso. É perfeitamente possível que isto seja compatível com um discurso democrata-cristão forte para as empresas, para as famílias, sólido sobretudo no interior norte do país, um discurso social-democrata também forte sem perder o referencial de direita e todos juntos conseguimos mostrar um governo ao país.

E admite a seguir às autárquicas que essas conversas possam começar a existir?

O Chega vai sozinho porque acha que é sozinho que tem de mostrar a sua força. Agora, nós ao convidarmos os outros líderes para o diálogo é isso já que estamos a fazer. Ou conversamos ou entramos numa de egoísmo de contas partidárias que só vai ajudar António Costa e o PS. Neste momento estamos do lado de ter uma alternativa, os outros não. Se me disser: uma câmara municipal em que seja fundamental, como Cascais, onde imagine precisa de dois vereadores do Chega para garantir a estabilidade. A outra opção é termos a esquerda a governar Cascais. Se fosse tão dramático como isto, um homem tão de direita como eu diria 'prefiro que seja à direita', e então vamos lá chegar a um entendimento, agora não pode ser é um entendimento que mate o ADN do partido.

A questão é, por exemplo, se Carlos Carreiras está disponível para isso. É conhecido que é um adversário interno de Rui Rio.

As acções ficarão com quem as pratica, se depois a câmara de Cascais ficasse sem condições de governabilidade ao fim de seis meses ele que não venha dizer que foi o Chega ou o PS. Foi ele que não quis assegurar essas condições. Já disse ao Rui Rio várias vezes: não há condições nenhumas para termos uma conversa do quer que seja do tipo 'eu prefiro ir orgulhosamente só'. O PSD pode ter a certeza de uma coisa, se depender do Chega não passa da porta do programa de governo, precisam de saber isto. Ou há luta contra a corrupção ou nós não estamos lá.

Mas a verdade é que no congresso do Chega o André Ventura hostilizou muito o PSD de Rui Rio, foi particularmente duro em dois dos discursos.

Mas o que quer que eu faça quando vejo o líder do PSD a dizer que quer acabar com os debates parlamentares quinzenais porque o primeiro-ministro está muito cansado?

Sim, mas fechou-lhe a porta.

Há um momento antes e pós-congresso, é verdade, mas, de facto, quando dizemos que temos de ter um governo de Salvação Nacional de direita também temos de dizer até onde estamos dispostos a ir. O governo de Salvação Nacional não é para se ajoelhar ao PS e esse é o erro que tem sido cometido pelo PSD. O PSD está ao lado do PS nas grandes decisões estratégicas do pías. Olhe, na Lei de Defesa Nacional, o desastre que vai ser, criticada por ex-Presidentes da República e pelos militares ou nas polícias.

Agora na discussão do Orçamento do Estado o André Ventura acha que pode haver um entendimento para legislação que possa avançar?

Neste momento, sinceramente, com esta liderança do PSD não tenho esperanças. O que vou dizer sei que vai ser mal interpretado, mas vou dizer e não é nehum conselho que dou, já fui do PSD, mas estou é preocupado com o Chega. Eu acho que enquanto esta liderança, ou este estilo, pelo menos, de liderança do PSD se mantiver não há nenhumas condições à direita para qualquer entendimento. A forma como Rui Rio tem agido perante o PS, a subserviência que tem mantido ao PS, a pouca combatividade em momentos em que se exigia combatividade, o PSD está sempre do outro lado. Enquanto este estilo de liderança se mantiver, não é Rui Rio, eu até reconheço em Rui Rio alguma integridade, mas a questão é este estilo que Rui Rio pôs no PSD de subserviência ao PS e de pouca combatividade, não nos vai levar a lado nenhum e duvido que enquanto isto continuar possa haver entendimentos à direita, com o Chega pelo menos.

Preferia outro líder do PSD para conversar?

Eu não é outro líder, é outro estilo. Não vou estar a dizer nomes, porque não sei quem é, não me preocupo com isso. Também não gostaria de ver Rui Rio, honestamente, a dizer que outra pessoa seria melhor líder do Chega do que eu. E se calhar ele até acha que seria, se calhar preferia outro líder, se calhar mais moderado, menos combativo, menos emocional do que eu, mas eu também não gostaria de o ouvir dizer isso. Cada um trata da sua casa, não vou dizer que preferia outro líder, seria desrespeitar Rui Rio.

Acha que ele vai sobreviver a estas autárquicas?

Acho que vai ser difícil, mas isso é uma opinião já como analista. Não me pronuncio se é bom ou mau, porque cada um pronuncia-se sobre a sua casa. Estou a referir-me ao estilo da liderança. Se Rui Rio quer sobreviver à direita e poder chegar a primeiro-ministro ou a vice-primeiro-ministro num governo liderado pelo Chega tem que mudar o estilo e a combatividade de fazer política. A subserviência ao PS não é o caminho. Quem anda na rua e nós os três andamos na rua, eu, o Rui Rio e o Francisco Rodrigues dos Santos, é isso que ouvimos e muitos nem vão votar em mim e dizem-me 'mas onde é que está a oposição à direita?', portanto, algum de nós está mal e quem está cá há mais tempo é o Rui Rio, portanto, ele é que tem de ver o que é que andou a fazer e porque é que tanta gente o critica pelo estilo de oposição. Sabe qual é o problema? É que o Rui Rio acha que em Portugal o poder não se ganha, cai-nos de podre nos joelhos, esse é que é o problema do Rui Rio. Ele não está à espera de ganhar a António Costa.

Uma geringonça à direita é cada vez mais improvável nas legislativas que aí vierem e que em princípio serão daqui a dois anos?

Mesmo que sejam para o ano, basta olhar para as sondagens. O Chega em terceiro lugar, mas do que vale ao Chega ganhar ao Bloco e ao PCP se o PS mantiver votações na ordem dos 40%, ou dos 35% ou 36%? De que vale? Se o PSD se mantiver nos 21% ou nos 22% ou 23% e o PS nos 40%? O Chega até pode ter 15%, mas se o PS mantiver este nível de votação nós não vamos ter acordo nenhum, mas também lhe digo, para ter um acordo com este estilo frouxo de Rui Rio ainda bem que não há acordo nenhum, porque isto não nos ia levar a lado nenhum. Ou é um governo para fazer reformas, para cortar no sistema, cortar a eito, ou então não vale a pena, honestamente, não vale a pena.

Comentários
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  • José J C Cruz Pinto
    23 set, 2021 ILHAVO 12:50
    Isso, continuem a dar o "tempo de antena" que o "dito-cujo" tanto reclama (em nome de um conceito totalmente abstracto e descuidado de "democracia", assim como ... respeitar uma mãe, ... e admitir insultá-la quase todos os dias - para ser bastante brando), e espantem-se mais tarde (esperando-se que nunca) com o resultado: um País com velhos e novos a erguerem-se com tudo o que tiverem na cabeça (e à mão) para defenderem a democracia e um mínimo de dignidade. [Somos, e seremos - convictamente - de brandos costumes, mas ...será avisado não abusar.]

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