02 mai, 2019 - 16:51 • Redação com Lusa
O primeiro-ministro avisou esta quinta-feira os parceiros parlamentares da esquerda que a prioridade política deve passar pela revogação da Lei de Bases da Saúde aprovada pelo PSD e CDS-PP, defendendo que a questão da gestão não é central.
Este recado dirigido aos parceiros da solução de Governo (Bloco de Esquerda, PCP e PEV) foi transmitido por António Costa na abertura do debate quinzenal, na Assembleia da República, em Lisboa, após uma intervenção da vice-presidente da bancada socialista Jamila Madeira sobre o processo em curso no parlamento, para a revisão da Lei de Bases da Saúde.
Na sua resposta, numa alusão à polémica à esquerda em torno da manutenção ou não das Parcerias Público Privadas (PPP) na saúde, o primeiro-ministro referiu que hoje mesmo o Conselho de Ministros aprovou a criação de uma Entidade Pública Empresarial "para internalizar" no Serviço Nacional de Saúde (SNS) a atual PPP de Braga, que termina em 01 de agosto.
Partindo desta decisão do Governo, o líder do executivo deixou um aviso às bancadas do Bloco de Esquerda, PCP e PEV: "Espero bem que a Assembleia da República não desperdice a ocasião de, nestes 40 anos de SNS, revogar a Lei de Bases da Saúde que a direita aprovou em 1990".
De acordo com António Costa, no plano político "a prioridade é pôr termo ao equívoco criado pela Lei de Bases de 1990, que encara como função do Estado não a promoção do SNS público, universal e tendencialmente gratuito, mas também a promoção do privado, numa lógica concorrencial com o público".
"Com a nova lei de bases, a função essencial é acabar com este equívoco, salientando que o SNS é a forma pela qual o Estado realiza o acesso à saúde dos cidadãos", disse, apontando, então, como prioridades a "redução das taxas moderadoras e isenção em outras circunstâncias", contrapôs.
Ou seja, segundo António Costa, embora a questão da gestão e da controvérsia em torno das PPP não seja menor, "não é central".
"A gestão deve ser pública nos estabelecimentos do SNS e deve ser diretamente assegurada pelo Estado, mas sem prejuízo de supletivamente e temporariamente poder ser contratualizada com base em contrato de direito público", sustentou, salientando mesmo que este princípio consta do atual programa de Governo.
Antes, a vice-presidente da bancada do PS Jamila Madeira tinha defendido o caráter público do SNS, mas deixou a seguinte questão, numa tentativa de rebater argumentos que têm sido invocados, sobretudo, pelo Bloco de Esquerda em matéria de PPP: "Deve a Assembleia da República vedar a possibilidade de, imaginemos num próximo governo, perante o fim das atuais PPP e perante a circunstância de não ser possível internalizar esses serviços todos em simultâneo, excecionalmente, prorrogar o prazo da PPP, como foi feito recentemente no caso do Hospital de Cascais?".
Logo a seguir, Jamila Madeira acentuou que as PPP representam "apenas 5% do total da despesa do SNS".
Manter privados no SNS é apenas “lavar a cara” à lei de bases da saúde da direita, diz Bloco
A coordenadora do BE avisou hoje que se a esquerda aprovar uma Lei de Bases que mantém os privados dentro do Serviço Nacional de Saúde, "não estará a fazer mais do que a lavar a cara à lei da direita".
A nova Lei de Bases da Saúde dominou a discussão tensa entre Catarina Martins e o primeiro-ministro, António Costa, no debate quinzenal de hoje, tendo a líder bloquista assumido que há "um problema político" que quer resolver com o chefe do executivo "dentro da maioria parlamentar que melhorou a vida das pessoas nesta legislatura".
"Se a esquerda aprovar uma lei de bases que mantém os privados dentro do Serviço Nacional de Saúde, não estará a fazer mais do que a lavar a cara à lei da direita, para que fique tudo na mesma e isso nem António Arnaut nem João Semedo nos perdoariam", atirou a coordenadora do BE.
Para António Costa, a escolha que o BE "tem que fazer é se quer manter em vigor a lei de bases de 1990, aprovada pela direita e que não se limita a manter as PPP, mas defende a promoção da concorrência entre o público e o privado" ou, por outro lado, "aprovar uma nova lei de bases que de uma vez por todas separe o público e privado e diga SNS é público e a sua gestão será sempre pública qualquer que seja a sua forma".
Avisando Catarina Martins de que "não vale a pena querer transformar a árvore na floresta", porque "as PPP no seu total representam 4,6% da despesa do SNS", ou seja, 450 milhões de euros, o primeiro-ministro deixou claro que em relação a estas parcerias aquilo que o PS defende não é um recuo, mas sim "um avanço" em relação à proposta do Governo.
"Senhor primeiro-ministro, foi a direita, contra o PS, que abriu esta porta. E o que hoje o PS está a pedir à esquerda é que deixe a porta aberta para que a gestão privada se mantenha e possa até expandir-se no futuro, ao sabor das opções do momento. No fim de contas, o PS propõe à esquerda que, 30 anos depois e pela primeira vez, dê razão a Cavaco Silva e admita a lógica da privatização do SNS. Com o voto do Bloco, isso não acontecerá", avisou.