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Pouca-terra, tanta terra. Do Lobito à Catumbela, Marcelo recebido de braços abertos

08 mar, 2019 - 17:26 • Paula Caeiro Varela , enviada da Renascença a Angola

Reportagem no terceiro dia da visita oficial do Presidente da República a Angola.

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“Marcelo, nós te amamos”. Novo banho de multidão em Angola
“Marcelo, nós te amamos”. Novo banho de multidão em Angola

Vindo do Lobito, é preciso atravessar o rio Cavaco para chegar à Catumbela, aquela terra onde Chico Buarque acha que deixou um cacho do seu coração.

O comboio apitou duas vezes, e depois mais duas, para avisar da chegada do Presidente português, no terceiro de quatro dias de visita oficial a Angola.

Na mítica linha do caminho de ferro de Benguela, obra portuguesa do início do século XX e que tem sido recuperada com investimento chinês, Marcelo Rebelo de Sousa fez um curto trajeto de cerca de 10 quilómetros, acompanhado pelas autoridades locais e pelo ministro angolano dos Transportes. Portugal tem tido um papel na recuperação desta linha, sobretudo na fiscalização da obra.

Antes de embarcar no comboio que reluzia ao sol, pintado nas cores da bandeira de Angola, o Presidente da República não deixou créditos por mãos alheias: subiu à frente da composição e posou para a fotografia. Marcelo sabe sempre onde estão as câmaras e os microfones, procura-as com o olhar, e posiciona-se para elas.

A Catumbela não desiludiu o Presidente que sabe quanto vale uma imagem:

"Sua Excelência seja bem-vindo,

sua presença é um prazer

Com Jesus estamos dizendo

A Catumbela ama você"

Eram grupos diferentes, que cantavam e dançavam, neste caso apenas mulheres, todos devidamente alinhados atrás de grades colocadas pelas autoridades locais. Um calor inclemente e um ambiente eletrizante de cores e de sons, de gritos e batucadas: "Ó Marcelô, nós ti amamós" - diziam outros. Impossível não ficar contagiado.

O Presidente, visivelmente satisfeito, acudiu às mãos que se estendiam, ávidas de um toque. Tudo encenado? Claro, em parte, para o efeito cénico. Mas isso também é sinal do empenho do Governo angolano nesta visita. Não por acaso, o Presidente João Lourenço disse no jantar oficial que, enquanto estivesse nesta terra, Marcelo seria "a estrela mais brilhante do firmamento angolano".

Assim tem sido, assim será até ao fim da visita.

"Se há presidente próximo, é o Presidente João Lourenço"

No meio do banho de multidão e de suor (desculpem os leitores o grafismo, mas é literal), os jornalistas perguntam a Marcelo: tanto entusiasmo com a sua presença, é sinal de que os angolanos estão ávidos de afeto? A resposta chegou rápida como sempre: "Quer dizer que eles sentem que Angola e Portugal estão muito próximos, e eles querem essa proximidade."

E perante a insistência de não ser comum ver imagens destas, apressou-se a acrescentar: "Se há presidente próximo, é o Presidente João Lourenço, ele é um exemplo de proximidade."

No caminho para Benguela, já de carro, Marcelo Rebelo de Sousa ensaiou de novo o modelo do "pé no estribo" que ontem atrasou a sua visita ao Lubango em mais de duas horas. Voltou a andar meio dentro, meio fora, apoiado no ombro de um elemento da sua segurança, para cumprimentar algumas pessoas que aguardavam a passagem da comitiva.

Não há como não dar por ela, tal o número de ofuscantes Mercedes todo-o-terreno, de cor cinza-prata, mais o aparato da polícia e da segurança, mais as ruas cortadas, mais aquele Presidente que aqui e além desce do estribo e vai cumprimentar quem acena.

Deve ser mesmo contagiante porque até o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, seguia bem mais atrás, quase sozinho, acenando e até posando para algumas "selfies". Estas coisas pegam-se.

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