03 jan, 2025 - 20:10 • Filipa Ribeiro , João Pedro Quesado com Lusa
O nível médio do mar (NMM) medido no marégrafo de Cascais registou em 2024 "o maior valor de sempre", de 23,3 centímetros acima do referencial "Cascais1938", revelou esta sexta-feira Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em comunicado, o engenheiro geógrafo adianta que foi assim superado "o segundo maior valor do NMM de 23,2 centímetros (cm) verificado em 2022".
Um marégrafo regista e mede os movimentos de fluxo e refluxo das marés, sendo o referencial "Cascais1938" "correspondente à média do nível do mar entre 1882-1938" e utilizado como nível de base para a medição de altitudes.
Dias de calor excessivo devido às alterações climá(...)
Questionado pela Renascença sobre este fenómeno, o professor da Faculdade de Ciências explicou que a subida é natural, mas não acontece de forma "linear", e que a sistematização dos últimos anos é preocupante.
"Não sobe sempre ao mesmo ritmo, por vezes acelera, depois desacelera. O que é surpreendente, ou de certo modo não estava à espera, é que nestes três últimos anos, 2022, 2023 e 2024, se tivesse observado um valor sistematicamente acima dos 20 centímetros, coisa que só tinha acontecido em 2010, mas foi um ano excepcional porque tivemos um inverno muito rigoroso. O que verificamos é agora uma sistematização desse valor, o que de certo modo causa uma aceleração da subida em nível médio do mar e, portanto, estamos a falar em termos de taxas médias na ordem dos 4 milímetros por ano", especificou.
De acordo com o investigador, o principal motivo para esta subida do nível das águas é o degelo, a par do aumento da temperatura nos oceanos provocado pelo aquecimento global.
"O que é que o aquecimento global faz para que o nível médio suba? Primeiro, tal como a atmosfera aquece, os oceanos aquecem, e ao aquecerem, expandem, aumentam o seu volume, tal como a água numa panela a ferver no lume. Ao mesmo tempo, há um degelo dos glaciares, glaciares continentais, das grandes montanhas, mas também os glaciares da Gronelândia e da Antártica, que são os dois contribuintes para o aumento de massa do oceano. O oceano, essencialmente o oceano Atlântico Norte, está sobreaquecido. Observaram-se várias ondas de calor marinho e isso terá, porventura, causado esta súbita aceleração que se verificou nos últimos três anos", considera Carlos Antunes.
Carlos Antunes refere que "a taxa de subida do NMM em Cascais, quando comparado com dados de altimetria de satélite, apresenta valores e tendência semelhantes aos da taxa do NMM global", indicando que nos últimos três anos o nível médio do mar "tem estado acima dos 20 cm, algo que só tinha acontecido pontualmente no ano de 2010, um ano excecional devido à sequência de temporais verificados".
O investigador aponta à Renascença a erosão da orla costeira e o aumento de inundações nas zonas baixas como principais riscos.