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Conferência Renascença / Câmara Municipal de Paços de Ferreira

Migrações. País tem de investir na aprendizagem da língua nas escolas

29 nov, 2024 - 12:16 • Daniela Espírito Santo , Isabel Pacheco

Escolas estão "na linha da frente na integração" e precisam de garantir que os alunos estrangeiros aprendem rapidamente a língua para não ficarem excluídos, defende investigadora.

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"A escola é a primeira porta de entrada para uma família" que chega a Portugal pela primeira vez e as crianças dessa família servem, muitas vezes, "de voz da sua família", admite Luís Carlos Lobo, delegado regional de Educação do Norte.

Perante um cenário em que a escola está "na linha da frente na integração e inclusão destas famílias na nossa sociedade", é fundamental que as comunidades façam um trabalho rápido para garantir que "nenhuma dessas crianças fica de fora", diz o responsável, que entende que integrar as crianças rapidamente "numa turma da sua idade", mal chega ao país, é "um motor de integração" e serve para ajudar os novos alunos a dominarem a língua portuguesa, o que é "uma enorme vantagem".

Luís Carlos Lobo admite que as escolas "continuam a lutar com a falta de meios", mas acredita que "têm feito um trabalho excecional" na integração de crianças "que não têm o português como primeira língua".

A investigadora do Centro de Investigação em Estudos da Criança, Fernanda Leopoldina Viana, concorda com a importância da aprendizagem da língua, mas defende que há falhas nesse processo em contexto escolar.

"Há alunos que chegam cá sem saber uma palavra de português. Temos de fazerum esforço muito maior para que os alunos imigrantes realmente dominem esta ferramenta que é tão importante, porque depois vai ter repercussões em tudo. Se eles não dominam a língua portuguesa vão ter fragilidades no seu percurso escolar e isso está mais que evidenciado nos resultados que têm", lamenta.

"As crianças até podem estar numa escola, estar numa turma, mas não estão, muitas vezes integradas. São obrigadas a estar em aulas onde o que é ouvido lhes passa ao lado. Tem de haver um esforço muito grande no apoio à aprendizagem da língua", continua a especialista, para quem "uma ou duas horas por semana de português como língua não materna" não chega. "O esforço de integração tem de contemplar de maneira muito direta e sistemática o domínio da língua", acrescenta.

Já Ana Lourenço, psicóloga do setor da atividade lúdica e da humanização do Instituto do Apoio à Criança, acredita que "brincar é uma linguagem universal" e que a "integração da criança acontece nos espaços de brincar nas escolas", pelo que "brincar também é uma chave fundamental" na integração e na aprendizagem da língua. Para além disso, brincar na escola "beneficia as crianças que lá estão e as que chegam" e a integração acaba, igualmente, por trazer "riqueza lúdica".

O primeiro dos debates da conferência "A cidade como motor de transformação social", que decorre esta sexta-feira no salão nobre dos Paços de concelho de Paços de Ferreira, teve a participação de Luís Carlos Lobo, delegado regional de Educação do Norte, Fernanda Leopoldina Viana, psicóloga e investigadora do Centro de Investigação em Estudos da Criança, e Ana Lourenço, psicóloga do setor da Atividade Lúdica e da Humanização do Instituto de Apoio à Criança.

Sob o mote do papel das políticas públicas e locais, o debate, moderado pelo jornalista da Renascença, José Pedro Frazão, também acabou por tocar em temas como as cartas educativas dos municípios e a utilização de telemóveis em contexto escolar.

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  • Fátima Pereira
    29 nov, 2024 Peniche 15:19
    Completamente de acordo. Mas já se pensou em mais professores de Língua Portuguesa para acompanhar os alunos de língua não materna? Falar é bonito e fica bem!
  • Anastácio Lopes
    29 nov, 2024 Lisboa 13:57
    Que interessa aos imigrantes poderem ter onde aprenderem a lingua portuguesa se o país que lhe quer oferecer lugares onde aprenderem a nossa língua, simultaneamente não os legaliza, não tem habitações dignas para lhes facultar, e o que dizer dos valores que lhes são pagos pelo trabalho que vêm executar porque os portugueses não o querem fazer precisamente porque é mal pago, sem carreira profissional digna desse nome e sem qualquer expetativa de evolução profissional? São estas as formas de o país e quem o governa prova ter de respeito para com os imigrantes e para com os direitos dos mesmos? O país que deixe de uma vez por todas de usar os imigrantes em sem proveito como o tem feito, e faculte-lhes as condições laborais, habitacionais e de acesso à saúde, assim como à legalização dos mesmos, para que a imigração deixe de ser, como há muito o é, aproveitado pelos chicos espertos do país para ganharem milhões à custa do tráfego humano resultante de todos estes problemas mundiais que vivemos e que com mais responsabilidade, formação humana e cidadania dos políticos poderíamos tirar mais e maior proveito de quem nos procura, o que só acontecerá quando quisermos e soubermos olhar para esses seres humanos como cidadãos portugueses e não como estrangeiros, até para fazermos face à baixa taxa de natalidade e ao envelhecimento da população portuguesa, assim provemos a quem nos procura essa formação humana, e dignidades habitacional e profissional que quase sempre nos tem faltado.

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