14 nov, 2024 - 07:00 • Anabela Góis
Mais de 900 mil pessoas têm diabetes em Portugal, o equivalente a 8,6% do total de inscritos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este é o valor mais elevado de sempre e um dos mais altos da União Europeia.
Os dados são do mais recente relatório do Programa Nacional para a Diabetes, que revela uma tendência crescente de diagnósticos.
Apesar de o panorama ser muito negativo, a diretora do programa, Sónia do Vale, admite à Renascença que mais diagnósticos não significa obrigatoriamente que haja mais pessoas com a doença.
“Nós sabemos que temos muitas pessoas por diagnosticar. Já há uma série de anos que dizemos que temos mais de um milhão de pessoas com diabetes e, portanto, estarmos a diagnosticar mais e ter mais pessoas identificadas pode não ser mau. É claro que nós queremos também prevenir, mas o diagnosticar em si, que é o que temos aqui, pode ser positivo no sentido em que termos as pessoas identificadas permite-nos tratá-las precocemente.”
No entanto, Sónia do Vale reconhece que o panorama em Portugal é muito negativo e é preciso atuar: “Temos muitas pessoas com diabetes e as estimativas para Portugal apontam para uma das prevalências mais altas da Europa e isso não é nada positivo”.
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A diretora do Programa Nacional para a Diabetes considera que o número elevado de casos “não é estranho, tendo em conta que temos uma proporção elevada de obesidade, de sedentarismo, que são fatores de risco para ter diabetes”.
“Além disso, temos uma população que tem estado a envelhecer e, portanto, também tem um maior risco de diabetes. Portanto, termos muitas pessoas com diabetes não é de todo positivo, diagnosticar as pessoas que têm diabetes, sim, é importante para podermos atuar”, reforça.
Em 2023, foram registados quase 75.661 casos nos centros de saúde. São doentes que passaram a ter vigilância médica e de enfermagem, o que mostra uma “evolução positiva”, embora ainda haja assimetrias a nível regional “que importa resolver”.
“Na zona Sul do país há mais dificuldades de acesso e, portanto, também tem piores indicadores em termos de seguimento e em termos de controlo. Mas sim, a evolução é positiva e, portanto, e queremos muito esta multidisciplinaridade. É muito importante que as pessoas tenham acesso a estes cuidados.”
Outro dado preocupante, revelado neste relatório, é o número de mulheres com diabetes na gravidez. São 8,1% no Serviço Nacional de Saúde, com mais prevalência nas mulheres com mais de 40 anos.
Esta é uma situação que tem vários riscos, para a mulher e para o bebé, explica Sónia do Vale.
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“Não é positivo, porque o que nós queríamos era ter este número perto de zero. E ter esta prevalência grande quer dizer que muitas destas senhoras deixam de ter diabetes a seguir à gravidez, mas têm um risco aumentado de no futuro vir a ter diabetes. A própria criança acaba por ter um risco maior no futuro de vir a ter diabetes porque nasce de uma gravidez com diabetes gestacional e também tem maior risco de ter parto por cesariana e uma série de outros riscos obstétricos.”
Em 2022, houve um ligeiro aumento das amputações devido à diabetes. Pela positiva, este relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) mostra que a taxa de rastreio das complicações da diabetes já atingiu, praticamente, valores de pré-pandemia, com exceção do rastreio oftalmológico.
“A maior parte das pessoas fez o rastreio do pé diabético e o rastreio da doença renal. Em termos de rastreio oftalmológico, portanto, da retinopatia, é um número que está a crescer, mas que importa continuar a crescer, porque o que queremos é que todas as pessoas tenham este rastreio efetuado. Portanto, a ideia é que as pessoas com diabetes tipo 2, ou que têm diabetes tipo 1 há mais de cinco anos, façam este rastreio anualmente”, sublinha Sónia do Vale.
Em 2023, o SNS gastou 393 milhões de euros com medicamentos para a diabetes, menos um milhão do que no ano anterior, e isto apesar de haver mais pessoas diagnosticadas com a doença e de terem sido vendidas mais embalagens.
“Essa foi uma surpresa que tivemos, porque nos últimos anos os custos estavam a aumentar todos os anos e desta vez não aumentaram. Mas quando vamos olhar para o número de embalagens prescritas e o número de fármacos prescritos, esse aumentou, o que faz sentido porque temos mais pessoas diagnosticadas”, refere a diretora do Programa Nacional para a Diabetes.
A diabetes é responsável por 3% de todos os óbitos, mas está na origem das principais causas de morte em Portugal, nomeadamente das doenças cardiovasculares, insuficiência renal crónica ou cancro.
Mais de 90% dos casos correspondem a diabetes tipo 2, muitos dos quais podem ser prevenidos, através da adoção de um estilo de vida saudável.