12 nov, 2024 - 00:05 • Alexandre Abrantes Neves
“Costumo chamar à guerra de tentar controlar a Inteligência Artificial Generativa (IAG) uma guerra do ópio." O diagnóstico foi feito no arranque da Web Sumit Lisboa pelo presidente da associação Future Life. Max Tegmark diz não compreender “a esperança delirante, como se fosse ópio que vicia” de certas potências quererem controlar estas ferramentas.
Durante uma das primeiras sessões no Centre Stage da Web Summit 2024, este orador criticava Trump e Kamala por terem concordado na campanha para as eleições dos Estados Unidos da América (EUA) de que é preciso travar o acesso chinês à IAG.
Na sua perspetiva, esta não é uma “corrida suicídio”, porque não tem de se achar que alguém vai ganhar “e que o resto do mundo vai ruir com estas novas espécies de máquinas”. A previsão é outra – China e EUA vão conformar-se com os avanços de cada um e esforçar-se por uma regulação a nível internacional.
“Ambos vão colocar padrões nacionais de segurança, como já fazem para medicamentos e aviões. Depois vão dizer ‘espera um minuto, como vamos ter a certeza de que a Coreia do Norte ou outro país não vão criar AGI?’. Depois vão empurrar o resto do mundo para uma moratória em que ninguém pode fazer nada até que o problema do controlo seja resolvido”, antecipa.
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Perante uma plateia de cerca de 12 mil pessoas, Thomas Wolf, cofundador da Hugging Face (que disponibiliza gratuitamente modelos de inteligência artificial), alinhou-se com esta perspetiva. E ressalvou que a empresa que representa tem sido “neutral” e tem conseguido contornar os regimes ditatoriais que piscam o olho à inteligência artificial.
E perante o cenário de “querermos um carro cada vez mais potente, mas sem perder o controlo”, o especialista pede maior regulação, que tem faltado até agora apenas porque a inteligência artificial é o 'the new kid on the block’ (em português, “o novo miúdo na vizinhança”)”.
A culpa não pode estar nas plataformas “opensource” (como a Hugging Face) – o problema não desapareceria se o acesso à IA fosse limitado a um conjunto muito restrito de empresas.
“Se tivermos só uma empresa, que fica tão poderosa que começa a tentar capturar os reguladores. Isso não é importante de todo.. (…) Acho que é importante democratizar este poder e não ter só uns ‘tech bros’ e deixar que um quarto escuro em Sillicon Valley decida tudo por nós”, apontou.
As propostas são muitas e o debate promete continuar nos próximos anos. Mas seja qual for a solução, esta será boa desde que esteja de acordo com o consenso dos oradores, que foi aplaudido pelo público “que a IA seja utilizada para potenciar a inteligência humana e trazer esse futuro fantástico à nossa frente”.
O truque é pensar ao contrário: “em vez de tornarmos o avião elétrico, podemos tornar o combustível elétrico”. A sugestão é de Etosha Cave, cofundadora da empresa Twelve, que, nos últimos anos, se tem dedicado a encontrar formas de descarbonizar a indústria aeronáutica – uma missão que tem corrido bem, não tivesse a empresa conseguido um reforço de financiamento de mais de 645 milhões de euros nas últimas semanas.
A premissa é simples: através de dióxido de carbono, água e fontes de energia produzir combustíveis mais ecológicos, que podem ser utilizados na frota de aviões atualmente no mercado e que reduzem em cerca de 90% a emissão poluente para atmosfera.
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No Centre Stage da Web Summit, a responsável pela empresa defende que a solução evita que se “tenha de se redesenhar tudo” e é a mais rentável em termos de custos financeiras e de tempo – o que se reflete bem nas previsões de dez mil voos por ano que um dos combustíveis produzidos pela empresa é capaz de assegurar.
Etosha Cave relembra o processo de descoberta destes hidrocarbonetos – um “milagre que surgiu durante uma semana de Natal e que agora pode ser utilizado para reduzir a desconfiança das pessoas quando ouvem falar de sustentabilidade.
“Deve entusiasmar-nos expandir a ideia para produtos de consumo de larga escala. Por exemplo, comprar um produto com os mesmos materiais que estamos habituados, com as mesmas funcionalidades. Mas em vez do petróleo vem do CO2. (…) A cada ponto, estamos a otimizar, para sermos o mais ‘lowcost' possível e, assim, convencermos as pessoas”, defendeu.