12 nov, 2024 - 01:57 • Fábio Monteiro , Pedro Caeiro
Morreu Fernando Magalhães Crespo, presidente emérito e homem que guiou os destinos do Grupo Renascença Multimédia ao longo de mais de três décadas. Tinha 94 anos.
Magalhães Crespo - "o senhor engenheiro" ou "o engenheiro" como era referido por sucessivas gerações de trabalhadores e colaboradores da Renascença - foi figura central da evolução e resistência do grupo de comunicação social da Igreja, em particular no período em que as instalações da emissora católica no Chiado estiveram ocupadas por forças da extrema esquerda e pelos militares do COPCON, entre julho de 1974 e dezembro de 1975.
Em entrevista à Renascença em 2018, Magalhães Crespo lembrou o período do Processo Revolucionário em Curso (PREC) como um período “caótico”.
“A necessidade de criar liberdade na Rádio Renascença foi intensa, até dezembro de 1975. Durante esse período de ano e meio, foi uma libertação para a Rádio Renascença poder trabalhar como emissora católica”, disse.
Devido à ocupação das instalações, a 7 de novembro de 1975, os emissores da Renascença na Buraca foram destruídos à bomba por ordem do Conselho de Revolução. Com uma nova lei da Rádio, o Governo pretendia nacionalizar a Renascença, mas tal nunca aconteceu.
“Se não tivéssemos sido tão atacados, talvez não tivéssemos hoje a posição que temos”, chegou a afirmar, muitos anos mais tarde.
Foi durante o mandato de Magalhães Crespo que o grupo Renascença se expandiu, com a criação das estações RFM, em 1987, e Mega Hits, em 1998. Também com a sua liderança foram dados os primeiros passos na área do digital.
Nascido em 1930, numa família tradicional católica do interior do país, a fé esteve sempre presente na vida de Magalhães Crespo, formado no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
Em 1974, era diretor-geral de uma empresa de consultores, quando foi convidado pelo então cardeal-patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, para integrar o conselho de gerência da Rádio Renascença, na qualidade de gerente, conjuntamente com Luís Torgal Ferreira, também gerente, e com o cónego António Gonçalves Pedro como presidente.
Em junho de 2018, a recebeu o prémio “Fé e Liberdade”, atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, devido ao papel que desempenhou durante a crise da Renascença, em pleno PREC.
No aniversário dos 82 anos da Renascença, foi homenageado internamente com a atribuição do seu nome a uma das salas do novo edifício para onde o Grupo Renascença Multimédia se mudou, em maio de 2016. “Não estava nada à espera disto”, confessou.
Já em 2023, foi condecorado pelo Presidente da República, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Quando se reformou, aos 75 anos, disse à Ecclesia agradecer a Deus a “oportunidade que tive de aplicar aqui todos os meus conhecimentos”.
“Nunca me arrependi nem nunca tive qualquer dificuldade em recusar as oportunidades que me surgiram, mesmo vendo colegas ter grandes lugares na banca ou nas empresas públicas. Este [a Renascença] foi um lugar que preencheu totalmente o meu desejo de satisfação pessoal, o meu ego”, sublinhou.
Ainda não são conhecidos pormenores das cerimónias fúnebres de Fernando Magalhães Crespo, presidente emérito do Grupo Renascença Multimédia.