29 out, 2024 - 00:01 • Fátima Casanova
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A falta de professores vai acentuar-se já em 2026 e a manterem-se as condições, até ao final da década, as reservas de docentes tenderão a desaparecer, impossibilitando a substituição dos docentes que faltem durante o ano letivo, assim como os que, entretanto, se aposentem.
O cenário é traçado pelo EDULOG, o "think thank" para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo, um estudo a que a Renascença teve acesso.
O estudo “Reservas de Professores sob a lupa: antevisão de professores necessários e disponíveis” identifica os desequilíbrios entre o número de professores disponíveis e com formação adequada e aqueles que o sistema educativo precisa.
O EDULOG desenvolveu estimativas, partindo do ano 2021, quando as principais carências resultavam da dificuldade de substituir ausências temporárias. Nesse ano “faltavam 3.000 professores e eram essencialmente para substituir colegas temporariamente ausentes, normalmente por motivos de doença, descreve à Renascença a investigadora Isabel Flores, coordenadora do estudo.
Isabel Flores acrescenta que, “em 2031, vão faltar 24.000 professores e, desses, cerca de 8.000 a 9.000 são para preencher necessidades permanentes, ou seja, professores necessários para entrar no sistema para substituir os seus colegas que se reformam e cerca de 15.000 a 16.000 seriam para as substituições temporárias”.
Esta realidade será sentida essencialmente no 3.º Ciclo do Ensino Básico (3.º CEB) e no Ensino Secundário, a praticamente todas as disciplinas, acrescenta Isabel Flores.
O EDULOG analisou, também, a distribuição etária dos candidatos à colocação inicial em 2023.
A análise da estrutura etária dos professores do 3.º CEB e do Ensino Secundário revela que, na maior parte dos grupos de recrutamento, a classe dos mais jovens (até 30 anos) tem poucos candidatos.
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A coordenadora do estudo refere que “no grupo de Física e Química há um professor que tem menos de 30 anos no país inteiro, assim como no grupo de Economia ou de Informática”.
Isabel Flores salienta que há outros “grupos em que temos menos de duas dezenas de professores, como é o caso de Filosofia ou de Inglês”, que podem vincular e que têm menos de 30 anos.
Estes números, explica Isabel Flores, dizem respeito “a pessoas que têm formação científica e pedagógica e que estão em condições de integrar na carreira e o que nós verificamos é que a maior parte dos professores que ainda estão a aguardar um lugar na carreira têm entre 41 e 50 anos”.
"São estes os números de professores que ainda temos e que hão de substituir os professores que se reformam até ao virar da década”, sublinha.
Esta professora da Universidade Nova salienta que, “depois, na classe etária dos 31 aos 40 e ainda mais na classe etária até aos 30 anos, temos números praticamente inexistentes” de professores.
São números que Isabel Flores diz que “só confirmam aquilo que já se sabia que foi uma redução muitíssimo acentuada na formação de professores nos últimos 15 a 20 anos”.
Isabel Flores diz que, nos últimos anos, “as universidades que formam professores para Filosofia, para História, para Matemática, foram reduzindo muitíssimo a sua oferta a nível de mestrado por não terem procura”.
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Por isso, atualmente “não há capacidade instalada a nível de mestrados nas Universidades, porque estes mestrados são feitos pelas universidades e a formação de um professor vai levar os seus anos, na melhor das hipóteses dois anos”, conclui a investigadora.
Isabel Flores dá como exemplo uma pessoa que já se licenciou em Filosofia e que, se “quiser ser professor de Filosofia, tem que fazer dois anos de mestrado”.
No pressuposto de que as atuais condições não se alteram, Isabel Flores afirma que as crianças que “têm agora seis anos e que vão chegar ao 3.º ciclo daqui a seis anos vão ter muita falta de professores, quer para o ano inteiro, porque não há para colocar, quer a nível dos professores para fazer substituições”.
A investigadora acrescenta que, por causa da carência de professores, “em 2023 já não foi possível substituir grande parte dos docentes que meteram baixa”.
Comparando os pedidos de professores por parte dos agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas com as colocações que foram realizadas ao longo do ano, verificou-se uma taxa de sucesso de substituição de 68%.
Os grupos com mais professores disponíveis para substituição temporária foram os de Educação Pré-Escolar, o do 1.º Ciclo do Ensino Básico e os de Educação Física (do Ensino Básico e do Ensino Secundário).
Já o grupo de Português e Inglês do 2.º Ciclo do Ensino Básico só conseguiu assegurar a substituição de 37% dos pedidos feitos pelos estabelecimentos de ensino.