28 out, 2024 - 06:01 • Anabela Góis
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai ter um programa que visa prevenir e identificar precocemente casos de depressão pós-parto.
Trata-se da plataforma “Be a Mom” ("Ser Mãe"), desenvolvida por psicólogos clínicos da Universidade de Coimbra, com o apoio da Fundação Gulbenkian, que, numa primeira fase, que vai chegar a quatro unidades locais de saúde (ULS): Vila Nova de Gaia, Guimarães, Beja e Viseu.
Esta segunda-feira, vai ser assinado o protocolo com o Ministério da Saúde para o início do projeto-piloto. O objetivo é encontrar a melhor forma de aplicar o projeto à realidade nacional, explica à Renascença Miguel Xavier, coordenador da Política de Saúde Mental.
“As unidades que vão avançar em primeiro lugar são Gaia, Guimarães, Beja e Viseu, fundamentalmente a nível dos cuidados de saúde primários e, portanto, nós vamos estar nos próximos 16 meses neste projeto-piloto. Daqui a 16 meses nós teremos duas coisas: primeiro, um relatório completo dos obstáculos e das maneiras mais fáceis de implementar isto no Serviço Nacional de Saúde e, acima de tudo, as pastas de replicação para nós podermos disseminar esta ferramenta a todo o território nacional. Assim, todas as puérperas poderão ter acesso a ele”, sublinha Miguel Xavier.
O programa “Be a Mom” funciona online. Já foi testado num ensaio que envolveu 1.500 mulheres e funciona, garante Miguel Xavier.
Explicador Renascença
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Está organizado por módulos, que permitem analisar aspetos da experiência psicológica do nascimento do bebé. Apresenta estratégias para lidar com a situação e avalia o nível de depressão. Em caso de risco emite um alerta automático para os cuidados de saúde primários.
“O programa deve ser feito depois da mãe ter a criança, portanto, na fase puerpério. É uma plataforma digital a que se pode aceder no telemóvel, num computador e a plataforma tem várias dimensões”, explica o coordenador da Política de Saúde Mental.
O “Be a Mom” tem uma dimensão de “informação que é dada à mãe” e também uma parte de “exercícios baseados em terapia cognitiva ou comportamental, que são muito importantes para preferir o aparecimento dos sintomas depressivos no puerpério”.
“Tem também uma parte de avaliação, através do preenchimento, uma escala validada que tem um aspeto muito importante que é emitir uma sinalização aos cuidados de saúde primários. No caso de o resultado desse teste de depressão estar elevado.”
Explicador Renascença
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A depressão pós-parto afeta entre 10 a 15% das mães. Este programa permite que os casos sejam identificados precocemente para que o tratamento comece o mais cedo possível.
“Vamos imaginar que a mãe faz no seu telemóvel, preenche a escala e aquilo dá um resultado elevado, bastante elevado. Ora, não se pode estar à espera que a mãe, ainda por cima, tenha de ir ela própria à procura de ajuda. Não. Tem de ser emitido imediatamente um sinal que alerte os cuidados de saúde primários, alerta as equipas para que seja oferecido um seguimento a essa mãe”, indica Miguel Xavier.
A natureza do seguimento da mulher vai depender “de uma avaliação à posteriori, mas é importante que as pessoas fiquem cientes de que existe aqui um elemento de sinalização das situações mais graves”.
A assinatura do acordo entre o Ministério da Saúde, a Universidade de Coimbra e a Fundação Calouste Gulbenkian para a aplicação do programa “Be a Mom” no SNS está marcada para esta segunda-feira, na Universidade de Coimbra.