27 out, 2024 - 17:30 • Ana Catarina André , Alexandre Abrantes Neves
“Justiça, justiça”. Durante cerca de trinta segundos, foi este o pedido que ecoou no cemitério da Amadora, onde este domingo foi sepultado o corpo de Odair Moniz, o cabo-verdiano de 43 que anos que foi alvejado por um agente da PSP, na madrugada de segunda-feira, dia 21.
Em pouco menos de um minuto, no entanto, os gritos calaram-se e as mais de 100 pessoas presentes, a maioria das quais familiares e amigos do homem que vivia no Bairro do Zambujal, na Amadora, voltaram a abstrair-se do coletivo. Entre frases de dor, algumas das quais em crioulo, ouviram-se, ainda, dezenas balões brancos a rebentar, um momento que marcou a despedida.
Foi, aliás, num ambiente pacífico que decorreram as cerimónias fúnebres desde o início da tarde, na Igreja da Buraca, concelho da Amadora, onde de realizou uma celebração da palavra. O cortejo, que durou cerca de meia hora, atravessou depois o Bairro do Zambujal e passou junto à PSP de Alfragide, sem registo de desacatos.
Explicador Renascença
Só mesmo as averiguações em curso poderão determin(...)
À porta do cemitério, Júlio Fernandes, um dos amigos de Odair Moniz, conta à Renascença, emocionado, que se conheceram, quando deixaram Cabo-Verde, em 2000. “Não é preciso estudar para saber que é tudo igual: branco ou preto. Tira-se o sangue e é igual”. E desabafa: “É a vida. Já vi muitos assim. Soube da notícia pela televisão. Costumava tratá-lo por Dá”.
Recorde-se que desde a morte de Odair Moniz, a PSP registou 130 ocorrências na área metropolitana de Lisboa, entre as quais se contam autocarros e carros incendiados.
Os desacatos fizeram um ferido grave, em Santo António dos Cavaleiros, Loures. Este sábado, realizaram-se ainda duas manifestações no centro de Lisboa: uma organizada pelo movimento “Vida Justa”,em nome da justiça nos bairros sociais, e outra pelo Chega, “pelo fim da bandidagem”.