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Lesado do BES defende Salgado. "Pedimos responsabilidade a BdP, Novo Banco e CMVM"

15 out, 2024 - 09:44 • Inês Braga Sampaio

Ex-presidente do BES foi abordado, à entrada do tribunal, por um dos lesados da queda do banco, que o defendeu: "O senhor deixou uma provisão para os legados, onde é que está?"

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Um lesado no âmbito da queda do Banco Espírito Santo (BES) manifestou-se em defesa de Ricardo Salgado, esta terça-feira, à entrada do principal arguido do ex-presidente do banco no Campus de Justiça, em Lisboa.

Salgado fazia a sua entrada, na companhia do advogado e da mulher, no tribunal, quando um dos lesados do BES que se encontravam à espera se aproximou do aglomerado de jornalistas, para se dirigir ao principal arguido do caso BES/GES. Apesar do tom inflamado, o homem pronunciou-se a favor do ex-presidente do BES.

"O senhor deixou uma provisão para os lesados e o Banco de Portugal exigiu a provisão essa provisão transitou para o Novo Banco, que usou essa provisão para outros fins. O senhor tem razão, onde está essa provisão? Pedimos responsabilidade ao Banco de Portugal, Novo Banco, CMVM, ao grupo de trabalho liderado pelo Diogo Lacerda Machado, que fizeram a solução para os lesados sem consulta de nenhum lesado. Se nós tínhamos uma provisão deixada pelo Ricardo Salgado, esses senhores aproveitaram-se do grupo de trabalho para tratar da vida deles, para os bolsos deles e continuam a faturar esses tais senhores defensores de causas. Nós não admitimos e exigimos a provisão", exclamou.

O lesado desejou "muita sorte" a Ricardo Salgado no julgamento, que arranca esta terça-feira: "Nós estamos por si. O senhor merecia respeito."

"Tomaram posse do seu império. É como uma empresa, não deram oportunidade para resolver a situação. O senhor tinha capacidade para resolver os problemas dos lesados. O seu primo [José Maria] Ricciardi testemunhou dizendo que é testemunha viva de que foi feita uma provisão. O senhor mandou-lhes um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde é que está a provisão? Novo Banco, onde é que está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados. Exijo respeito", reiterou.

O julgamento do caso BES/GES arranca esta terça-feira, uma década após o colapso do banco. O tribunal rejeitou o pedido da defesa de Ricardo Salgado para extinguir ou suspender o processo criminal contra o ex-presidente banco devido ao diagnóstico de Alzheimer, alegando que este mantém os direitos de defesa.

Carro funerário à porta do tribunal


Ainda antes da chegada de Ricardo Salgado, representantes dos lesados do BES já tinham acudido ao Campus de Justiça, em protesto, com um carro funerário em que colocaram uma fotografia do ex-presidente do banco. Lia-se no carro: "Mataram as nossas poupanças, agora é hora de justiça".

A manifestação iniciou-se pelas 8h30 e, atrás da carrinha, estavam 16 pessoas vestidas de preto, de cara tapada, e com os nomes de lesados do BES que já morreram estampados nas camisolas.

Em frente ao Campus de Justiça, mas do outro lado da estrada, foram colocadas tarjas em que foram escritas outras mensagens, como "lesados Novo Banco" ou "exigimos a provisão".

O julgamento do processo BES/GES contempla mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo Ricardo Salgado. O antigo presidente do BES é o principal arguido e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014, entre os quais se contam: um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.

Estão também em julgamento outros 17 arguidos: Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.

Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

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