08 out, 2024 - 13:02 • Tomás Anjinho Chagas , João Malheiro
Os diretores de informação lamentam que não tenham sido dados passos mais ambiciosos para cobrar impostos às grandes plataformas tecnológicas e, através deles, redistribuí-los pelos meios de comunicação social em Portugal.
Durante a conferência "Futuro dos Media", já depois de o Governo ter anunciado o Plano de Ação para a Comunicação Social, esta terça-feira, os responsáveis máximos pelas linhas editoriais de vários órgãos elogiaram que se tenha tido iniciativa, mas querem medidas mais "musculadas" para o setor tecnológico fazer a sua parte.
O que disseram os diretores?
O diretor da Renascença, Pedro Leal, considera que o Governo "deu um passo em frente" com a apresentação das medidas, mas acredita que é necessário analisar "a filigrana das medidas" para perceber melhor o seu efeito.
Pedro Leal assinala a "transparência" das medidas, que não se refletem em apoios diretos do Estado aos órgãos de comunicação.
O responsável da informação da Renascença aponta também para a revisão das leis que "estão totalmente anacrónicas", como é o caso da Lei da Rádio.
"A TSF é uma rádio regional e local. O Observador anda a comprar rádios, devem ser locais. A Renascença tem no seu portefólio a Mega Hits que, sempre que compra antenas, tem de fazer associações com emissões locais que não existem", exemplifica.
Outro ponto da Lei da Rádio é a atual obrigação de passar 30% de música portuguesa: "Somos uma atividade condicionada em 30% por uma obrigação legal", critica.
O diretor da Renascença destaca que, segundo os dados mais recentes do Digital News Report, da Reuters, a confiança nas notícias caiu, o que revela que os órgãos de comunicação social "estão a fazer alguma coisa errada".
O diretor da SIC, Ricardo Costa, considera positivo terem sido tomadas medidas, mas lamenta que não haja mais ambição para taxar as grandes plataformas digitais, que detêm as redes sociais.
Futuro dos Media
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"A solução que existe é uma atuação europeia por via fiscal. Normalmente os governos são sensíveis a isto porque é dinheiro que não entra nos cofres do Estado porque são empresas de grande volume de negócios que não pagam praticamente impostos", começa por introduzir.
O responsável de informação da SIC destaca que, conseguindo taxar as plataformas, "é possível ir buscar dinheiro para um plano de ação dos media a sério", resume.
Do lado da TVI/CNN, José Eduardo Moniz, diretor geral deste grupo, também acredita que é preciso mão forte, para forçar essas grandes empresas a pagar impostos.
"Estava à espera de uma atitude mais musculada por parte do governo", desabafa o dirigente, que concorda que o caminho é através de um esforço europeu.
"A atuação tem de ser a nível europeu para haver capacidade de intervenção real", sublinha José Eduardo Moniz.
O diretor do Correio da Manhã, da CMTV e do Canal Now, Carlos Rodrigues, aproveitou o debate para responder ao primeiro-ministro, que mais cedo considerou que os jornalistas não dignificam a profissão ao fazerem perguntas que ouvem do auricular.
"Quero aproveitar para responder ao primeiro-ministro para dizer que um jornalista que tem um auricular não é propriamente um atrasado mental. Ou todos os pivots de televisão seriam atrasados mentais", atira o dirigente.
Carlos Rodrigues explica que o auricular serve para "ajudar a edição, quando o jornalista no local não consegue ter os dados todos, é da regie que se dá".
Por sua vez, David Pontes, diretor do jornal Público, alerta para a a possibilidade de os planos do governo para a RTP e para a Lusa poderem prejudicar a informação dos órgãos de comunicação que pertencem ao Estado.
"Preocupa-me que possa, a prazo, significar o enfraquecimento da RTP e da Lusa, porque acho que nos asseguram serviços que são importantes.
O responsável pela informação do Público assume, apesar disso, que "não quer dizer que não tenham de ser reformados".