06 out, 2024 - 17:56 • Lusa
Centenas de pessoas desafiaram este domingo a chuva para gritar que "do Porto até Rafah, Palestina vencerá", numa manifestação que percorreu várias artérias do centro da cidade, apesar de ter sido encurtada devido às condições climatéricas.
"Isto é um genocídio, um crime humanitário, é algo inadmissível, que não pode continuar, com Israel a atuar impunemente, não só contra os palestinianos, como neste momento contra o Líbano, contra a Síria", disse à Lusa a dirigente comunista Ilda Figueiredo, presidente da direção nacional do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), uma das entidades organizadoras da manifestação.
Convocada também pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN) e pelo Projeto Ruído, a manifestação que partiu da Praça dos Poveiros acabou por ser encurtada e terminar na informalmente designada "Praceta da Palestina", no cruzamento entre as ruas de Fernandes Tomás e Rua de Sá da Bandeira, junto ao Mercado do Bolhão.
Para a também vereadora da CDU na Câmara do Porto, "o reconhecimento dos dois Estados [Palestina e Israel], do seu direito a viver em liberdade, independente, sem a ocupação israelita, é fundamental para haver paz no Médio Oriente".
"Os últimos 75 anos provam-no bem", acrescentou, condenando o que chama a "total impunidade" com que Israel tem atuado desde a criação do Estado judaico em 1948.
Segundo a presidente do CPPC, a situação continua "porque Israel continua a ter todo o apoio dos Estados Unidos da América, e essa é a grande questão", acusando ainda potências da União Europeia de terem "uma posição seguidista" da norte-americana.
Ilda Figueiredo considerou hipócrita a posição do Governo português, que defende a existência de dois Estados mas ainda não reconheceu o da Palestina.
"É fundamental o reconhecimento do Estado da Palestina. Porque é que não o fazem? É algo que não se entende. Por isso, têm que o fazer quanto antes, é uma das exigências que mantemos perante o Governo português", vincou.
Um dos manifestantes, Carlos Milhazes, disse à Lusa que a posição portuguesa "tem sido uma posição completamente cínica de "empurrar o problema com a barriga"".
No seu entender, Portugal deveria "repensar a sua posição" e "apoiar um boicote diplomático, académico, e económico contra Israel para tentar forçar, pelo menos, a que o genocídio seja interrompido", falando ainda numa "constante desumanização dos povos árabes mediterrânicos".
"Temos de mostrar aos nossos representantes que o povo português não está de acordo com as políticas nacionais de uma perpetuação de uma amizade unilateral, que só serve os interesses financeiros das grandes empresas portuguesas e dos grandes grupos israelitas", considerou.
Para Carlos Milhazes, a solução poderá estar "em cada um dos países europeus, principalmente, começarem a pressionar os Estados Unidos, fazerem os Estados Unidos perceber que estão isolados neste apoio a Israel" para "tornar Israel num Estado pária, que merece ser, quando há 70 que "cospe" em todas as declarações de direitos humanos".
Já Jorge Oliveira relembrou que os problemas não começaram "no dia 07 de outubro do ano passado", aquando dos ataques do Hamas em Israel, mas vem "desde 1948".
"Esse problema da legítima defesa é um sofisma que [os israelitas] usam para justificar o que tem sucedido: os massacres e os bombardeamentos", vincou, dizendo que as forças israelitas atuam como atuam "porque têm as "costas quentes"".
Os palestinanos "foram espoliados" da "terra que era deles", resumiu, lembrando ainda o estabelecimento de colonatos na Cisjordânia, em que os israelitas "correm com as pessoas das casas e tomam conta delas".
"É uma impunidade brutal. Não tenho palavras para descrever a situação que se tem vivido", lamentou-se.
Israel, alvo dos massacres do grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro do ano passado, em que foram mortas cerca de 1.200 pessoas e raptadas mais de duas centenas, está envolvido desde então numa guerra contra os islamitas na Faixa de Gaza.