01 out, 2024 - 11:55 • Cristina Nascimento
Na última década, foram construídas menos dois terços de casas novas em Portugal do que na média europeia.
O número foi avançado pelo diretor da revista Confidencial Imobiliário, publicação independente que reúne dados sobre o setor imobiliário, durante aa conferência “Habitar as Grandes Cidades”, iniciativa conjunta da Renascença e da Câmara Municipal de Lisbboa.
Ricardo Guimarães aponta que, “em Portugal, no acumular dos últimos 10 anos, entre 2012 e 2023, foram construídos 17 fogos por mil habitantes. Na média da União Europeia, construíram-se, no mesmo, período 45 fogos por mil habitantes, mais ou menos o triplo”.
“Hoje faltam casas em Portugal”, reforça.
Num olhar para a forma como o país mergulhou na crise da habitação, Ricardo Guimarães explica que o setor mudou “muito rápido”, tendo passado de “uma crise do imobiliário para uma crise da habitação”, reconhecendo que os governos não teriam capacidade de prever e acautelar as mudanças.
Na conferência “Habitar as Grandes Cidades”, Ricardo Guimarães revelou-se favorável ao alojamento local, lembrando que o impacto económico do turismo foi essencial para a recuperação e resiliência da economia, bem como um papel “extraordinário” na reabilitação urbana.
Durante a sua intervenção, Guimarães, citando um estudo da Universidade Nova, refletiu ainda sobre o "confllto" entre turismo e habitação, considerando que esta questão tem de ser pensada "de forma integrada".
“Se terminarmos com o alojamento local, vamos ter mais casas, mas vamos perder 5% do PIB. Alguém aqui nesta casa quer perder 5% do PIB? Se calhar as pessoas que são afetadas pela crise da habitação também são aquelas que poderão ser afetadas pelo desemprego, se pusermos em causa um dos pilares da nossa economia”, adverte.
Sobre os preços do arrendamento, Ricardo Guimarães aponta o dedo ao congelamento das rendas que considera ter sido o principal responsável pela “desertificação das cidades”. Nesta matéria, este especialista refere ainda o problema da "falta de confiança".
"Este Governo, no programa que apresentou, fala dos contratos para investimento. Fica a dúvida legítima se, passado um par de anos, com a mudança de Governo, não é tudo revertido, como já aconteceu. Esta imprevisibilidade prejudica muito quem vive em habitações arrendadas porque a estabilidade no mercado de investimento é passada para a estabilidade na vida das famílias", remata.