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Expedição ao Monte Gorringe

Montanha subaquática portuguesa com "preocupante ausência de grandes predadores"

28 set, 2024 - 22:05 • José Pedro Frazão

Expedição científica ao maior monte submarino da Europa Ocidental detetou pelo menos 200 espécies, incluindo uma rara concentração de raias elétricas. Mas os tubarões quase não apareceram.

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Ao cabo de 20 dias de trabalhos de quase três dezenas de cientistas nacionais e internacionais, foram registadas pelo menos 200 espécies, das quais mais de 40 não tinham sido ainda encontradas nesta área marinha protegida da Zona Económica Exclusiva portuguesa, uma das montanhas subaquáticas mais antigas do Atlântico.

A expedição ao monte Gorringe - a maior montanha subaquática da Europa Ocidental com 5000 metros de profundidade - encontrou novas florestas de animais e algas, elevada diversidade e quase ausência de espécies invasoras.

Na maior expedição científica para cartografia de espécies, foram encontradas populações marinhas raras e ameaçadas o golfinho-roaz e a tartaruga-comum, confirmando-se como uma área importante para outros mamíferos marinhos como o golfinho pintado.

Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa

Na tabela de observação dos cientistas a bordo do navio Santa Maria Manuela e de dois catamarans constam ainda três espécies de baleias-de-bico " raras e muito difíceis de estudar".

A expedição Gorringe, com a participação de 28 cientistas nacionais e internacionais, durou 3 semanas e foi promovida pela Fundação Oceano Azul, o Oceanário de Lisboa, Instituto da Conservação da Natureza e Marinha Portuguesa

Raias presentes, tubarões ausentes

Entre as descobertas da expedição está uma rara concentração de raias elétricas ou tremelgas. "Não se sabendo ainda a razão para esta agregação, verificou-se que todas eram fêmeas, muitas das quais grávidas, sugerindo um papel essencial deste monte submarino para a reprodução e sobrevivência desta espécie", pode ler-se no comunicado divulgado pela Fundação Oceano Azul.

Em sentido inverso, os cientistas tomam nota de uma " preocupante ausência de grandes predadores, como tubarões, e de espécies com interesse comercial". As razões desta falha na biodiversidade do Gorringe serão aprofundadas no relatório científico que será promovido pela Fundação Oceano Azul nos próximos meses, embora se admita o impacto direto de atividades de pesca.

Foram observadas 12 espécies de aves marinhas e pelo menos 7 espécies de cetáceos. O balanço revela de forma preliminar o registo de 36 espécies de peixes e 523 tipos de invertebrados.

A expedição permitiu conhecer zonas nunca exploradas a diferentes profundidades e alguns habitats prioritários para a conservação, como jardins de corais e florestas marinhas ricas.

Foram descritas 55 espécies de algas e 12 espécies de corais, mas muitas mais poderão juntar-se através de trabalho de laboratório.

Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa
Foto: André Kosters/Lusa

As amostras recolhidas serão analisadas em laboratório por especialistas nos diferentes grupos de animais e plantas das 14 entidades representadas na expedição, incluindo departamentos e centros de investigação das Universidades do Algarve, Porto, Aveiro e Instituto Politécnico de Leiria.

O relatório científico da expedição deverá ser publicado até ao final do ano e incluirá recomendações para medidas de conservação que possam ser incorporadas no plano de gestão desta Zona Especial de Conservação com uma " proposta de proteção total do Gorringe"

Na sessão de encerramento, o presidente da Fundação Oceano Azul apelou à necessidade de agir com base no conhecimento científico adquirido.

"Temos os dados , o conhecimento e, acima de tudo, sabemos o que temos de fazer. A nossa obrigação é olhar para o planeta e respeitá-lo. Pelo planeta e não apenas pelas gerações que vêm", afirmou José Soares dos Santos.

Na sua intervenção, a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, reconheceu que a expedição vai reforçar as bases para uma decisão política em torno do estatuto de proteção daquela área marinha, nomeadamente no plano de gestão que deve definir regras e restrições de utilização daquela área situada a 200 quilómetros da Ponta de Sagres, a sudoeste de Portugal Continental.

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