25 set, 2024 - 08:00 • Carolina Paredes
Oliveira de Azeméis já voltou à normalidade. Mas, há uma semana, um cenário de terror, com céus alaranjados, consumia a paisagem e desesperava os habitantes que tentavam ajudar no combate às chamas.
“Agora, ficou um manto negro”, diz uma funcionária da Junta de Freguesia de Macinhata da Seixa, que não poupou nos esforços para ajudar os bombeiros quando viu habitações de amigos em risco de serem consumidas pelos fogos.
Filha de bombeiro, subiu a encosta da freguesia, destemida, de pés descalços e com baldes de água na mão. Ofereceu águas e comida aos bombeiros e oficiais da GNR.
Olhando para trás, para apenas há uma semana, diz que “estão a morrer os nossos heróis, os que dão a vida por nós”.
“É preciso que o governo ponha a mão pesada”, acrescenta a funcionária da Junta de Macinhata da Seixa.
Foi à porta da sede da Junta, onde estava um grupo de idosos à espera de uma aula de ginástica promovida pela autarquia, que esta funcionária recordou a sua experiência.
"Parecia que o mundo ia acabar", disse emocionada, enquanto apontava para todas as áreas afetadas pelas chamas. Durante vários dias, o fogo cercou os habitantes, que tiveram de ser retirados das suas casas. Muitos deles ficaram no meio do "inferno" para ajudar a combater os bombeiros. "Ouviam-se os fios [elétricos] a estalar."
Numa roda, cada uma das pessoas que chegava para a aula de ginástica ia comentando a semana que passou.
Para um dos moradores, o fogo esteve a poucos metros da porta de casa e a sua salvação foi a limpeza feita da mata há poucos meses. "Se não fosse isso, a minha casa tinha ardido toda", garante.
Os incêndios são algo que o preocupa desde que aconteceu um cenário muito semelhante em Macinhata da Seixa há cerca de 15 anos.
À Renascença, conta que de um terreno vizinho, havia árvores em que os galhos descaíam para o telhado da sua casa.
Ao lado da Junta de Freguesia, no Café Taipa, o cenário foi de preocupação extrema. A funcionária do café conta que além de ter de fechar portas devido à nuvem de fumo intenso, as chamas começaram a cercá-la. Ficou de coração nas mãos porque viu a terra onde mora a arder e o marido e a filha junto aos bombeiros a combateras chamas.
“Quando chover, verdadeiramente, só vai ser cinza pela estrada abaixo”, disse a funcionária da Junta de Freguesia de Macinhata da Seixa.
Depois dos incêndios da semana passada, esta quarta-feira vai ficar marcada por aguaceiros fortes. Por isso, os deslizamentos de terra e as inundações são uma preocupação para a autarquia e para o presidente da Junta de Macinhata da Seixa.
“É evidente que é muito difícil, numa circunstância destas, nós fazermos um desvio das águas”, afirma o presidente da União das freguesias de Oliveira de Azeméis, Santiago de Riba-Ul, Ul, Macinhata da Seixa e Madail.
No entanto, Manuel Alberto diz que a Junta, em conjunto com a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, está a tentar “desobstruir sarjetas”, mas admite que “vão ser arrastados muitos materiais”.
“Vamos ver se conseguimos minimizar os efeitos em alguns locais”, acrescenta.
Sobre os deslizamentos de terra, o presidente da União das Juntas diz que “não é muito provável que aconteçam”, mas não descarta a “possibilidade de inundações pontuais”.
Manuel Alberto admite, no entanto, que vai estar a acompanhar de perto essas situações com o município para minimizar os danos.