19 set, 2024 - 19:13 • Alexandre Abrantes Neves com Lusa
A Agência Europeia do Medicamento (EMA) recomendou esta quinta-feira alargar a vacinação ao mpox a adolescentes, uma vez que a resposta imunitária é semelhante à dos adultos, para prevenir surtos.
Em comunicado, a EMA anunciou a recomendação de alargar a vacinação contra o mpox a pessoas entre os 12 e os 17 anos.
A recomendação surgiu na sequência de uma investigação que comparou a resposta imunitária de 315 adolescentes com a de 211 adultos e concluiu que "é semelhante".
"Desse modo, é possível concluir que a vacina irá produzir em adolescentes efeitos de proteção semelhantes aos que tem nos adultos", sustentou a EMA.
O mpox é uma doença transmitida a pessoas por animais, "nomeadamente roedores, mas também pode espalhar-se entre pessoas", acrescenta a agência.
As primeiras 100.000 doses da vacina contra o vírus mpox disponibilizadas pela União Europeia (UE) chegaram no início de setembro à República Democrática do Congo.
Em simultâneo estão previstas mais 315.000 vacinas provenientes de Portugal, Espanha, Alemanha, França, Malta, Luxemburgo, Croácia, Áustria e Polónia, número que poderá ser superior, com outros Estados-membros que eventualmente queiram participar neste esforço conjunto.
Saúde
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As vacinas serão dadas ao Centro para Prevenção e Controlo de Doenças de África (CDC África) para distribuir pelos principais países mais afetados por este surto.
Também no início de setembro, durante uma audição no Parlamento Europeu, a diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) revelou que o risco para a população dos países da União Europeia (UE) "é baixo".
"É preciso clarificar uma coisa, o mpox não é o próximo covid-19", assegurou Pamela Rendi-Wagner.
Reconhecendo que "o tamanho do surto em África pode ser muito maior", por falta de informações credíveis, a diretora do ECDC [Centro Europeu de Prevenção de Doenças] sustentou que os vírus do mpox e o SARS-CoV-2 se "espalham de maneiras diferentes, têm riscos completamente diferentes e também há uma vacina eficaz" para o mpox.
"Não era esse o caso em 2020 quando começou a pandemia da covid-19", completou.
A também antiga diretora-geral de Saúde Pública da Áustria recordou que o único caso registado da estirpe que está a propagar-se em África foi em Estocolmo, de uma pessoa que tinha viajado para uma das áreas naquele continente que estavam a ser afetadas pelo surto.
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O virologista Jaime Nina considera que o alargamento da vacinação pode ser uma boa medida, principalmente numa altura em que a nova variante do vírus, mais contagiosa e mortal, está a provocar um surto em África.
Em declarações à Renascença, o especialista sublinha que “não há uma disseminação generalizada na Europa, mas que há esse risco” e que, por isso, aumentar a população vacinada é “sempre positivo”.
Apesar de dar uma “proteção cruzada” contra a Mpox, a vacinação contra a varíola em Portugal já não está a surtir os efeitos desejados, relembra o também professor na Universidade de Lisboa.
“A vacinação contra a varíola foi descontinuada já lá vai meio século. Quem tem proteção cruzada já está dos 50 e 70 anos. É um grupo demasiado pequeno para o efeito de proteção de grupo. A única forma de o fazer é vacinar população mais jovem, porque tem mais atividade sexual, que é das formas principais como se transmite o vírus”, assinala.
O especialista esclarece ainda que os grupos prioritários para a vacinação não devem sofrer mais alterações para além da idade. Quanto a efeitos secundários depois da inoculação, os adolescentes também não devem sentir sintomas diferentes daqueles que são comuns nos adultos – dores musculares, dor de cabeça, fadiga, náuseas ou febre.
“Não é habitual tanto com a vacina da varíola e esta é uma evolução da vacina da varíola. Digamos que os efeitos secundários têm uma curva em U, portanto, são mais frequentes nos bebés pequeninos e depois no fim da vida. Na altura média da vida é quando as vacinas são toleradas com maior facilidade. Mas claro que só depois de se vacinar largos milhões de pessoas é que se pode dizer”, remata.