19 set, 2024 - 21:16 • Ricardo Vieira
A ministra da Administração Interna quebrou esta quinta-feira o silêncio sobre os incêndios para explicar o que foi feito nos últimos dias e negar descoordenação no Governo. "O senhor primeiro-ministro esteve sempre informado", afirma Margarida Blasco.
Em conferência de imprensa na sede nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a ministra foi questionada se se sente fragilizada por ser o primeiro-ministro a dar a cara e liderar a resposta aos incêndios.
“O primeiro-ministro quando fala, fala em nome do Governo e o primeiro-ministro acompanhou a par e passo a evolução desta tragédia. Esteve sempre informado, esteve sempre ao corrente e comunicou ao Presidente da República. Todo o Governo esteve informado desde a primeira hora. Quando o senhor primeiro-ministro fala, fala pelo Governo", declarou Margarida Blasco.
Para justificar o seu silêncio nos últimos dias, a governante considera que há um tempo para "prevenir" incêndios, um tempo para "agir" e "finalmente há um momento para falar ao país".
Combate a incêndios
Entre 1998 e 2022, há menos 9.520 bombeiros. Mas a(...)
"As boas práticas aconselham a que não haja intervenções desnecessárias no teatro de operações e na comunicação", sublinha.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, exigiu a demissão dos responsáveis pela coordenação técnica operacional na sequência da morte de três bombeiros de Tábua, afirmando que o sistema falhou. Margarida Blasco recusou comentar o pedido de demissão.
Questionada pelos jornalistas se admite falhas e erros na gestão dos incêndios dos últimos dias, a ministra diz que, a seu tempo, serão tiradas conclusões.
"Ainda temos fogos neste momento. No final, quando fizermos um ponto da situação, faremos um relatório e estaremos à disposição para esclarecer se houve falhas e se tudo correu bem, mas isso no seu tempo", sublinhou.
A presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém, disse aos jornalistas que ligou para a ministra da Administração Interna, mas o "telemóvel estava desligado".
Margarida Blasco esclarece que não recebeu qualquer telefonema da autarca de Arouca. "Verifiquei que não tenho esse telefonema. O número de telefone que lhe foi dado não era o meu. O Sr. secretário de Estado ainda hoje falou com a senhora presidente da Câmara de Arouca, como fez com praticamente todos os autarcas deste país", sublinhou.
Incêndios
Desde domingo, as chamas já consumiram 3,4 vezes m(...)
Nesta conferência de imprensa na sede da Proteção Civil nacional, em Carnaxide, a ministra detalhou os passos dados desde o alerta vermelho para o risco de incêndio à declaração da situação de calamidade.
Margarida Blasco assinala que foi mobilizado o maior dispositivo de sempre para o combate aos fogos dos últimos dias, incluindo com ajuda internacional.
"Nestes dias mais críticos tivemos o maior dispositivo de combate a incêndios alguma vez mobilizado no nosso país", salientou.
De acordo com a ministra, "foram empenhados, 37.772 operacionais, 10.639 meios terrestres, efetuadas 827 missões aéreas de combate, a que correspondem 8.757 descargas".
De 14 a 18 de setembro, foram registadas 1.044 ignições", diz Margarida Blasco, citando dados da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
Desde 1974, todos os Presidentes da República tive(...)
A governante sublinha que quase metade dos incêndios (416) deflagraram durante a noite.
Estes mais de mil incêndios consumiram quase 95 mil hectares de mato e de floresta.
"Neste período mais crítico, de acordo com o relatório nacional provisório de incidentes rurais, no continente terá havido um total de área ardida de 94.146 hectares", disse Margarida Blasco.
O primeiro-ministro afirmou esta semana que as autoridades vão perseguir os incendiários e prometeu uma nova equipa de investigação dedicada a este tipo de crime, envolvendo várias forças.
A ministra da Administração Interna adiantou que, na segunda-feira, vai realizar-se uma reunião sobre o assunto. O encontro será liderado por Luís Montenegro e vai contar com Margarida Blasco, a ministra da Justiça, Rita Júdice, a procuradora-geral da República, e os responsáveis da Polícia Judiciária, PSP e GNR.
“Havendo a convicção de que muitos destes incêndios têm origem criminosa, há que destrinçar entre aqueles que eventualmente sejam negligentes dos outros que possam configurar a existência de uma associação criminosa. E esta investigação tem que ser feita em colaboração entre todas as autoridades judiciárias e órgãos de polícia e investigação criminal”, frisou Margarida Blasco.