17 set, 2024 - 20:01 • Redação
Os fogos florestais que assolam norte e centro de Portugal continental esta semana são resultado de "questões estruturais" e parte de "um problema social". Quem o diz é Paulo Lucas, coordenador da associação ambientalista ZERO que, à Renascença, lamenta a "perda enorme de biodiversidade" e prevê a degradação de vários cursos de água graças ao arrastamento de poluentes depois de apagarmos as chamas.
"Temos que intervir com máxima urgência", pede o ambientalista, que culpa a "negligência", mas também fala em "intencionalidade". "O que analisámos nos últimos anos é que, efetivamente, temos uma grande recorrência de fogos que são causados com intencionalidade [...] e é aí que nós temos que trabalhar", explica.
Para Paulo Lucas, os incêndios que deflagram em Portugal no verão são um problema complicado de "resolver a curto prazo", mas não são inevitáveis. "É quase como uma coisa que acontece todos os anos porque tem de acontecer. Não tem de acontecer", defende.
O ambientalista pede para que o tema seja prioritário para o Governo, mas acredita que o facto de a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) não "ter ficado na dependência do primeiro-ministro" é um "claro sinal" de que "há uma desvalorização deste problema". Para evitar "este espetáculo" de incêndios "todos os anos", é fundamental proceder a um "reordenamento da floresta", defende Paulo Lucas, sabendo, no entanto, que isso "vai cuscar muitos milhões de euros de investimento privado e público".
O cenário, neste caso, não é animador: "Não temos um plano estruturado para que isso aconteça nas próximas décadas", lamenta.
No entretanto, também é importante trabalhar a "reinserção social" de quem é julgado por fogo posto e, posteriormente, libertado. "Essa é uma das componentes que está super atrasada no âmbito do Plano Nacional de Gestão Integrada dos Fogos Rurais", denuncia o coordenador da ZERO. Na sua ótica, este é uma forma de "reduzir os riscos associados" aos fogos florestais.
Em paralelo, pede à população que respeite "as orientações das autoridades".
"Precisamos de modificar os comportamentos das pessoas para que realmente não ocorram tantos fogos como temos em Portugal", conclui.